A UVA PODRE

O mundo dá voltas

Isabel estava mais perdida que um pássaro abandonado após o nascimento. Não sabia como agir, o que fazer, como recomeçar. A casa único bem deixado pelo marido, foi penhorado pela justiça para o futuro pagamento das indenizações trabalhistas. lhe restava apenas algumas peças de roupas que não haviam sido usadas pelo marido para a manutenção do vício. Bolsas, jóias, sapatos já não haviam mais nada. Quanto ao dinheiro sobrou apenas uma pequena quantia, o suficiente para bancar sua volta ao Brasil. E foi isso que fez, após viver um pertubador estado que a impedia de tomar qualquer decisão, retornou a Porto Alegre, foi até o seu antigo Bela night, no entanto não encontrou o homem a que tinha vendido o bordel, encontrou um outro senhor, com quem por mais que argumentou não conseguiu uma estadia, as negociações não avançaram, o novo dono alegou que por mais que Isabel fosse bela não tinha mais como emprega-la, pois a casa estava cheia. Restou a Isabel retornar a Parreiral onde tudo começou. Mas para onde iria, para a casa de Matias?; será que Bárbara ainda vivia por lá?; seria muita humilhação, melhor não; pensava ela. Preferia se humilhar a Teodora do que à irmã, e foi o que teve a ousadia de fazer. Voltou para Parreiral e bateu na porta da boate de Teodora, era sua última esperança. Era por volta das 5 da tarde, chegou humildemente, Teodora estava um pouco mais velha, mas firme e forte, falava ao telefone quando Isabel se aproximou, naquele momento levou um enorme susto, daqueles que não levava há muito tempo, colocou o telefone no gancho e com a boca aberta, não acreditando no que presenciava pronunciou:
- Você. É você mesmo?, ou a irmã gêmea da Isabel?
- Não, sou eu mesma, Isabel em carne e osso.
- Tanto tempo depois, o que faz aqui?
Naquele momento Isabel se ajoelha aos pés de Teodora e começa a implorar:
- Perdão, perdão Teodora, me perdoa. Você é a minha única esperança, me aceite de volta, eu lhe imploro.
- O quê? Você tá me pedindo perdão, quer que eu te aceite de volta, depois de me trair na maior cara de pau? Levante, sua traidora. Sabia que isso ia acontecer mais dias ou menos dias. Você não tem um pingo de vergonha nessa sua cara né sua cachorra. Não ia fazer fortuna na Capital. Há,Há,Há... Cadê sua fortuna?
- Deu tudo errado, eu sou mesmo uma desgraçada, não devia ter te falado todas aquelas besteiras, esquece tudo aquilo, é tudo mentira, eu sempre te admirei.
- Confesso que foi duro ter ouvido aquelas palavras, doeu bastante, mas o prazer de te ver se humilhando aos meus pés é bem maior. O mundo dá voltas não é mesmo.
- Então me aceita por favor, me aceita.
- Não teria motivos algum pra lhe aceitar novamente sua vadia, mas posso fazer isso sob algumas condições.
- Quais?, eu aceito todas.
- A primeira delas é que você beije os meus pés dez vezes e diga que sou linda, maravilhosa e todos me desejam.
Isabel se ajoelhou novamente, deu os dez beijos e repetiu:
- Teodora você é linda, maravilhosa e todos te desejam.
- Muito bem, assim que eu gosto, bem mansinha. A segunda condição é que você receberá apenas dez por cento do seu lucro, ou seja vai ter que trabalhar bastante se não quiser passar fome, espero que não tenha se esquecido como faz. E pelo que vejo também não tem onde morar, então serei boazinha e não cobrarei o aluguel, pode se amontoar lá no quartinho com as outras raparigas.
- Tá bem eu aceito Teodora, você é a melhor pessoa do mundo.
- E a terceira, nunca mais me passe para traz, pois se fazer isso novamente eu te caço em qualquer lugar do mundo e a faço se arrepender de dia que veio ao mundo.
Isabel não tinha alternativa a não ser aceitar as imposições de Teodora, mas engana-se quem pensa que a viúva de Alejandro havia aprendido a lição, que estava redimida, arrependida de seus atos, pelo contrário, permanecia a mesma Isabel de sempre. Não via a hora de se mandar daquele lugar novamente, traçar um novo plano em busca de riqueza e poder. Foi atrás de informações sobre Bárbara, consultou alguns conhecidos e através das redes sociais descobriu que a irmã era vice-diretora do Elite gaúcha, estava namorando o diretor, morava numa confortável casa e estava grávida de dois meses. O que lhe despertou muita inveja. Estava pronta pra outra. Mas no momento lhe restava apenas se acomodar ali na boate de Teodora.
Bárbara não tinha ideia de onde Isabel podia estar, não via a irmã desde que brigaram há quatro anos atrás. Vivia o auge de sua alegria, feliz no amor, no trabalho e ainda seria mãe. Seu amor Raul agradecia todos os dias por Deus ter a colocado em seu caminho. Tinha a certeza que era a pessoa certa para se casar ainda mais agora que seriam pais. Iria pedir sua mão em casamento, para isso teria de preparar algo especial, pensou num jantar romântico e especial, assim colocou em prática, reservou a mesa de um caro restaurante, escolheu o cardápio, espinhaço de ovelha com aipim, um dos pratos preferidos de Bárbara, para sobremesa sagu com creme e um bom vinho. Combinou com o gerente a entrada das alianças trazidas de surpresa pelo garçom, além de flores e uma linda música romântica, a escolhida foi I will always love you de Witney Houston. Sem avisar convidou Bárbara para irem a um lugar especial, ela aceitou, estava curiosa e quando chegaram ao restaurante, ficou surpresa:
- Um jantar surpresa meu amor, não precisava, você é realmente imprevisível. Adorei o lugar onde me trouxe.
- Tudo pra você, vamos nos sentar, a mesa já está reservada.
- Vamos pedir o quê?
- Não será necessário, já escolhi e tenho certeza que vai amar.
- Já estava tudo planejado?, mais uma vez muito obrigado por me fazer tão feliz. E o que você escolheu?
- Espinhaço de ovelha com aipim.
- Você acertou em cheio, adoro essa delícia tipicamente gaúcha.
- Eu sabia, mas acalma que a noite só ta começando, vou chamar o garçom.
Vão em direção à mesa, dois garçons um com as alianças e outro com o buquê de flores. Admirada Bárbara se emociona Raul se ajoelha:
- Bárbara Arcanjo você aceita se casar comigo?
- Oh meu amor, mas é claro que sim.
Começa a tocar a música. Raul se levanta, Bárbara o abraça emocionada e se beijam carinhosamente na frente de todos. Os demais clientes começam a aplaudir e uma voz do fundo grita: viva os noivos!, todos erguem suas taças. Após o jantar comemoraram fazendo amor intensamente. Na manhã seguinte a vice-diretora não via a hora de contar a novidade aos amigos, com o anel na mão, revelou a notícia a Talita na sala dos professores. Talita era professora de Geografia e havia se tornado uma grande amiga de Bárbara. Talita claro vibrou com a boa notícia e lhe desejou os parabéns. O mesmo não fez Matias que escutou a conversa quando se aproximava para entrar na sala, o que não chegou a acontecer, pois saiu enfurecido, entrou em um dos banheiros e começou a socar a parede. Estava irado, possesso de raiva, não conseguia aceitar aquilo, por mais que estava determinado a ir embora de Parreiral, ainda amava Bárbara. Raul desgraçado, traidor, me roubou Bárbara, assim pensava ele.