Tudo ou nada

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Um novo dia amanhece. Teodora se levanta, quase não conseguiu dormir naquela madrugada. Se deitou as 11 da noite, só fechou os olhos as duas da madrugada a as cinco já estavam abertos novamente, ficou na cama até as sete da manhã. Todos seus pensamentos estavam voltados para o que faria em instantes.
Isabel levantou em seguida, percebeu que Teodora se arrumava:
- Vai sair Teodora?
- Vou sim, tenho que ir no supermercado, a promoção hoje está boa.
- Sabe se vai demorar?
- Acho que não, antes do almoço eu já voltei. Porque?
- Porque eu vou precisar do seu fusca depois mais tarde. Hoje eu me livro dessa criança e pego o resgate.
- Boa sorte.
- Agora vou preparar uma mamadeira pro bebê, antes que ele acorde e comece o berreiro.
- Isabel queria te dizer uma coisa.
- Fala.
- Independente do que acontecer eu queria te dizer que só quero o seu bem, somente o melhor pra você.
- Porque tá dizendo isso?
- Por nada não, porque me deu vontade de falar, só isso. Agora deixa eu ir lá.
Teodora pegou a estrada rumo a delegacia. Estava mesmo determinada a revelar o paradeiro de Isabel as autoridades, já não tinha e nem queria mais voltar atrás. Aquilo era o melhor a se fazer.
Chegou a delegacia, disse ter informações sobre o sequestro do menino Gabriel. Prontamente foi atendida. Revelou a Judite o endereço onde se escondia a sequestradora do neném. Rapidamente a delegada reuniu a equipe anti sequestro para irem até o local negociar a liberdade do bebê e a prisão de Isabel. Quatro viaturas foram deslocadas para a operação.
Raul, Bárbara e Talita aguardavam o telefonema de Isabel, onde informaria o local para a troca da maleta com dez milhões pela criança. E após muita espera o telefone tocou. Raul o atendeu, no entanto era a delegada Judite, que ligava para informar que finalmente a polícia havia localizado o cativeiro após a denúncia de uma mulher. Lhe passou o endereço, e no mesmo instante também pegaram o carro e saíram em disparada para o local. Rapidamente jornalistas também tiveram acesso a informação. As viaturas policiais, o carro de Raul, e os carros da impressa entraram pela estrada de terra que daria acesso ao paradeiro do sequestro.
No sítio Isabel preparava a mamadeira para a criança, que já acordara com o berreiro incessante, não esperava pela denúncia de Teodora, acreditava que dentro de horas estaria com o dinheiro do resgate na mão e sairia livre daquela história. Estava enganada. Pegou o bebê com violência no colo, colocou a mamadeira na boca da criança e nervosa propôs a chinga-lo:
- Toma criança maldita. Morto de fome. Pelo menos com essa mamadeira você cala a boca.
Isabel estava perturbada, tinha picos de Raiva e de calmaria. Num momento estava nervosa, com raiva, ódio, no outro estava calma, equilibrada. Num intervalo menor de um segundo após xingar a criança começou a agrada-lo:
- Até que você é fofinho garoto, espero que quando crescer puxe pra titia aqui, seja esperto, corajoso, inteligente que nem eu. Agora vou cantar um pouquinho pra você se acalmar, tá muito chorão.
Com a voz doce e calma começa a cantar:
- Boi, boi, boi, boi da cara preta pegue esse menino que tem medo de careta.
Uma paz  toma conta do lugar. No entanto tamanha calmaria é interrompida pelos sons das sirenes das viaturas policiais que se aproximam cada vez mais.
Isabel se desespera, coloca o bebê rapidamente no cesto de dormir, pega seu revólver e se prepara pra tudo ou nada.
Uma grande revolta lhe consome, queria saber como a polícia descobriu seu paradeiro:
- Que inferno. Como a polícia descobriu? Só pode ter sido a Teodora. Eu não devia ter confiado nessa velha traidora. Velha traiçoeira.
A polícia se aproxima, Judite interdita a casa cercando com faixas o local, para que ninguém se aproximasse sem a sua permissão. Estavam perto o suficiente para a negociação, mas mesmo assim mantinham-se numa certa distância. Na sequência chegam Raul, Bárbara e Talita, todos desesperados. Teodora também estava presente no local.
Judite pega o megafone e dá início as negociações:
- Isabel Arcanjo aqui é a polícia, renda-se imediatamente, a casa está toda cercada, será impossível a sua fuga. Devolva a criança e se entregue, é o melhor a se fazer.
Isabel vai até a janela, onde se comunica com a delegada:
- Eu não vou me entregar coisa nenhuma. Fique sabendo que estou armada, não tenho nada a perder e caso se aproximem quem vai pagar, vai ser a criança. Está me entendendo.
- Ela está armada? - Surpreende-se Teodora que não sabia.
- Está sim, pelo que apuramos está com um revólver e um spray de colifórmio.
Isabel surge pela janela segurando o bebê no colo:
- Acho bom vocês não tentarem nada, que a vida desse bebê está em jogo.
- Meu filho. Devolva meu filho. Por favor Isabel. - Grita Bárbara chorando.
- Que garantias vocês me dão, que vou sair daqui livre e viva?
- Os dez milhões. A maleta está aqui. -Responde Raul.
Judite fica surpresa pois não sabia que Isabel já havia pedido um resgate.
- Vocês acham que eu sou burra. Vocês estão loucos pra me pegar, me prender. Esses seus dez milhões Raul agora não servem mais pra nada. Só sei que não saio daqui presa de jeito nenhum, prefiro sair morta do que presa.
- Mais uma vez Isabel repito é melhor se entregar. É o melhor negócio a se fazer. Posso garantir que você sairá viva daí , ninguém te fará nenhum mal. - Reforça Judite.
- Dá pra parar com essa ladainha, tá me deixando nervosa, já disse que não vou me entregar. Se continuarem com essa conversa chata eu mato essa criança queimada no fogão de lenha e depois me mato. Não tenho nada a perder.
- Não. Não faça nenhum mal ao meu filho. Eu te imploro. Por favor. É eu quem você quer Isabel, então vamos negociar. Eu troco de lugar com a criança. Por favor. Eu sou uma garantia maior de que você conseguirá fugir. Posso servir de escudo pra você. -Implora Bárbara.
- É um negócio interessante a se fazer. Tá bem. Eu aceito. A Bárbara troca de lugar com o bebê. Mas tenho mais uma condição a fazer. Quero um carro pra mim fugir. Pode ser esse aí do Raul, coloquem ele prontinho na estrada. Há e não esqueçam de deixar a maleta com o dinheiro lá dentro.
- Tá certo Isabel, vamos fazer isso. Agora devolva meu filho. - Negocia Bárbara.
- É isso mesmo que você quer fazer Bárbara? - Questiona a delegada.
- Não meu amor, você não pode fazer isso, é muito arriscado. - Tenta impedir Raul.
- Eu preciso ir. Tenho que salvar nosso filho. Você precisa conhecê-lo. Te devo isso. É a nossa única chance. -diz Bárbara.
- Se é isso que você quer, não há nada que eu possa fazer Bárbara. - Afirma Judite.
- Tá certo meu amor, mas salva o nosso filhinho e volta pra mim. Por favor. Eu não suportaria viver sem você. - Diz Raul emocionado.
- Eu não sei se vou sair viva de lá, mas queria que soubesse que você foi a melhor coisa que aconteceu nessa minha vida. Sem você nada faria sentido. Obrigado por me fazer tão feliz. E caso me aconteça alguma coisa cuide do nosso filho, o proteja de todo o mal desse mundo lhe dando muito amor. Por favor. Me prometa. - Diz Bárbara com a voz embargada.
- Claro que vou amar muito nosso filho, mas você falando assim até parece que não vai voltar mais. - Diz Raul.
- Então já decidiram. Vai ou não vai querer trocar de lugar Bárbara? - Indaga Isabel.
- Vou, já estou indo Isabel. -Confirma Bárbara.
- Vamos fazer o seguinte, vem você com a Talita, vou deixar o cesto com a criança em cima da mesa, vocês entram, mas se tentarem alguma coisa, os três morrem, não estou de brincadeira. Assim que eu tiver com a Bárbara nas minhas mãos, a Talita pega a criança e sai. - Ordena Isabel que tinha em mente transformar Bárbara em escudo humano, fazendo ela de refém até o carro onde a colocaria para dirigir e fugiria. No meio do caminho quando estivesse livre abandonaria Bárbara e sumiria no mundo com o dinheiro.
Bárbara se despede de Raul com um beijo e um abraço emocionante.
Ao lado de Talita caminhaam para dentro da casa. Não tinham certeza de nada, tudo poderia acontecer. Entram. Isabel estava com a arma apontada para o bebê, aos poucos se aproxima de Bárbara e rapidamente a transforma em refém, agarrando seu pescoço e virando a arma para a cabeça da irmã. Ordena que Talita leve a criança.
Talita deseja boa sorte a amiga, em seguida sai da casa e entrega o bebê ao pai. Era a primeira vez que Raul via seu filho após acreditar que a criança estava morta. O encontro foi emocionante. Levantou o filho no ar e o definiu em duas palavras: meu herói! Parecia um milagre.
No entanto a felicidade não estava completa, Bárbara ainda corria riscos. Todos seguiam apreensivos.
No lado interno da casa Isabel jogou Bárbara no chão, permanecia com o revólver apontado em sua direção. Contudo a "irmã do bem" não se intimidou na frente da "irmã do mal":
- Então Isabel, agora é só nós duas.

A UVA PODREOnde histórias criam vida. Descubra agora