PAIXÃO

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Já era tarde da noite. Todos estavam dormindo quando Johnatan se levantou e foi até o porão falar com Esdras, que estava chorando baixinho, encolhido em um cantinho. O capitão o chama e ele balança a cabeça dizendo que não, então o capitão se aproxima.

-Você está com fome? -Susurra o capitão abaixando-se até onde o pobre tritão estava.

-Estou. Estou sem comer nada o dia inteiro. -Fala o ser marinho, limpando as lágrimas que insistiam em escorrer dos seus olhos.

Então, o capitão vai até uma caixa e pega morangos. Eles não estavam com uma cara tão boas, mas depois que ficou um dia inteiro sem comer nada, ele comeria qualquer coisa que aparecesse a sua frente.

-Pode comer, são gostosos. -Fala o capitão entregando um potinho nas mãos do ser marinho. -Esdras começou a comer de um por um. -Nunca comerá algo tão delicioso, estava acostumado a comer todos os dias algas. Johnatan esperou pacientemente Esdras comer os morangos, via a felicidade nos olhos do homem peixe ao comer aquelas frutas tão gostosas, ficou tão encantado com aquela cena que até se permitiu dar um sorriso de lado. Fazendo assim Esdras o encara-lo.
-Porque você me trata tão mal? Eu nunca fiz nada para vocês. -Fala o tritão engolindo o último pedaço de morango, fala em um time baixinho, o pirata percebe que Esdras fez aquela pergunta com um certo receio.

-Sou capitão de um navio com 20 homens, tenho que ser rigoroso e mostrar quem manda aqui. Se eu baixar a guarda isso tudo aqui vira uma baderna.
-Mas porquê você me capturou? Eu ajudei seu amigo, não era pra eu ter ajudado? Eu fiz algo errado?

-O rei ofereceu uma oferta em ouro para quem levasse uma sereia viva para ele.

-E você vai me levar até ele? - Falou com uma cara de assustado.

-Sim, quero esse dinheiro.

-Por favor, não me leve deixe-me voltar ao meu cardume. -Suplica Esdras.

-Desculpe, mas eu não posso. -Fala Johnatan baixando o olhar. -Vamos mudar de assunto. Como está esse ferimento?

-Doendo um pouco. Bati com muita força naquele negócio.

-Desculpe, não irei te machucar novamente. Deixe-me ver isso, nossa ficou um machucado feio aí em, infelizmente aqui não tem remédio algum pra eu poder passar nesse sei machucado, aqui a gente vira feridas com cachaça, espera aí que vou buscar um pouco.

Depois de algum tempo o pirata volta com uma garrafa de gim. -Olha isso vai arder um pouco, mas prometo que seu machucado vai cicatrizar mais rápido, olha segura minha mão, quando a bebida for derramada e começar a doer pode aperta-la.

-Mas se sua mão doer você não vai me... bater? -Pergunta Esdras em um tom de medo.

-Não, não vou, prometo, pode apertar o quanto quiser.

O capitão abre a garrafa e despeja sobre o machucado do tritão, que urrar de dor, Johnatan põem a mão sobre a boca de Esdras. -Você não pode gritar, assim você irá acordar toda a tripulação, e eles não podem saber que estou aqui.

-Por que não? -Pergunta o tritão curioso?

-Por que não! -Você pergunta demais, faz silêncio e deixa eu cuidar desse seu machucado de uma vez.

-Tudo bem, desculpe.

-Não precisa se desculpar,  pode ficar tranquilo. Vou voltar a derramar a bebida ver se não faz escândalo.

Quando o capitão iria voltar a despejar o líquido, Esdras o interrompe e fala. -Espera. Você esqueceu de me dar sua mão.
O capitão rir com aquela atitude e dar a mão ao tritão, mas naquele momento ele sentiu o arrepio em seu corpo, seu coração começou a palpitar rapidamente do nada, ele imediatamente salta a mão do tritão e fala, é melhor eu não te dar a mão, vice é forte e vai aguentar a dor.
-Mas... -Esdras tenta falar algo, mas é rapidamente interrompido.

-Mas nada, você é homem, agora cala a boca logo e deixar eu terminar.
Esdras fecha os olhos e sente aquele líquido sendo derramado sobre sua cabeça, aquilo dói, mas lembra que não pode gritar, então ele morde os lábios tão fortes que sente o gosto de ferro em sua boca, rapidamente lágrimas começam a brotar de seus olhos.

O capitão vendo sua reação pensa em limpar as lágrimas daquele tritão, mas rapidamente muda de ideia, e pensa consigo mesmo. "Ele é homem, está acostumado com a dor".
-Pronto já pode parar de chorar menininha, você chora por tudo.

-Isso dói muito, você quem me machucou. -Fala Esdras limpando o resto da bebida que ainda escorria em seu rosto.

-Você quem me provocou.

-Eu provoquei? Eu estava em minha casa, fui ajudar um dos seus amigos e você literalmente me arrancou de casa. Eu provoquei? Eu nunca tinha andando sobre pernas na minha vida, e você queria que eu aprendesse instantâneamente, então não fale asneiras, a última coisa que eu fiz foi provocar.

Aquelas palavras entraram como facas afiadas pelos ouvidos de Johnatan, por um certo momento ele sentiu culpa por fazer tudo aquilo, mas logo afastou aqueles pensamentos, e fingiu não importa-se com o que acabará de ouvir.

-Ora, ora, ora, olha só quem resolveu colocar as garrinhas para fora. Está louco homem, esqueceu com quem está falando, quer ganhar outra ferida dessa? -Fala num tom ameaçador.

-Logo Esdras recua de medo e direciona sua visão rapidamente para o chão. Desculpe não queria parecer que estava te desafiando.

Johnatan puxa o cabelo de Esdras para cima, que contorce seu rosto de dor. -Se você voltar a falar nesse tom comigo, eu vou te que te mostrar quem é que manda aqui, você está ouvindo.

Esdras balança a cabeça rapidamente em sinal de sim. -Não vou falar assim com você nunca mais.

O olhar dos dois se encontram e por um momento tudo fica em silêncio, parecia até que o mar se silenciou, a respiração dos dois ficaram pesadas, Johnatan parecia ter esquecido por um momento como se respirava, Esdras intercalava o olhar entre os olhos e os lábios do temido capitão, cada vez mais, quase que como um movimento inconsciente os dois iam chegando cada vez mais um mais perto do outro. Johnatan chegou bem perto ao rosto de Esdras, os dois se encararam por um momento, o peitoral dos dois se movimentavam cada vez mais rápidos, Johnatan chega bem próximo dos lábios do tritão e lhe dar um selinho.

Esdras o olhou assustado sem acreditar no que acabará de acontecer.
-Você também gosta de meninos? -Fala passando a mão nos lábios.
O capitão o olha com uma feição furiosa.

-Eu, não. Você quem me beijou! -O capitão rapidamente põem as mãos envolta do pescoço de Esdras o deixando sem ar, o tritão tenta tirar as mãos do pirata de seu pescoço, mas não tem êxito em tal atitude. -Eu venho ajudar- te  e é isto o que recebo em troca? Você rouba um beijo meu?

-Mas foi você quem me bei...

-Cala a merda dessa sua boca. -Grita o capitão deferindo um soco na boca do rapaz. -Se hoje o seu dia foi ruim, pode ter certeza que amanhã será pior!

- Eu não fiz nada, você que veio até mim. Por favor, não faça nada comigo, eu só quero voltar para minha família. Deixe-me ir, você diz que eu consegui fugir enquanto todos estavam dormindo. Garanto que todos acreditariam em você. Por favor eu te imploro. -Fala Esdras com sangue escorrendo pelo canto direito de sua bica.

-Cale-se! Pode ter certeza que antes de você chegar no castelo você ainda irá passar por maus bocados. Você pagará por essa atitude  imunda seu, seu defeituoso.
O capitão sobe as escadas pisando passos pesados que pareciam que iriam quebrar as madeiras daquela escada velha. Vai direto para sua cabine tentar  dormir, mas não consegue, a noite toda, ele vira de um lado para o outro na cama, mas não consegue de imaginar o beijo que ele trocou com o ser marinho.

ENTRE DOIS MUNDOS Livro1Onde histórias criam vida. Descubra agora