O Poder do Nosso Amor

Capítulo 6

"Você é a menina dos meus olhos
Menina eu nunca amei alguém como você"

Home (Edward Sharpe And The Magnetic Zeros)

Atualmente

Luís

Eu odeio essa cidade, eu odeio as recordações, eu odeio encontrar Ivana, eu odeio como Bianca está me tratando, eu odeio como eu estou me sentindo.

Uma parte de mim está tentando entender como tudo saiu do meu controle, a outra está em negação. Diana não é confiável, talvez, tenha mentido, talvez, a menina seja filha do meu pai, ou de qualquer outro homem. Talvez, Bianca esteja enganada na aparência da menina, minha irmã não é boa com feições.

Eu estou dirigindo em modo automático, sigo Bianca pela cidade, não reconheço os lugares, não consigo reconhecer, minha mente está longe, pensamentos ecoam em minha cabeça, eu estou surtando, porque lá no fundo, eu sei que se a menina tem em torno de sete anos, há uma chance de ser minha. Faz muito tempo e não consigo lembrar se naquela maldita noite usamos camisinha.

Eu estou desesperado, eu estou com medo, como conseguirei lidar com uma criança? Como conseguiremos lidar com uma criança? Eu sei que Belle está tentando ser forte, mas é se ela não conseguir aceitar uma filha minha? E se ela não ficar? E se me abandonar? E se for demais para ela? Afinal, nós estamos tentando superar um momento difícil. Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo, o problema para ter um bebê, uma possível filha, eu não tenho controle sobre as situações e isso está me matando.

Estamos em silêncio, não consigo falar com Belle, não consigo encontrar palavras. Eu queria estar em um pesadelo, eu queria poder acordar e descobrir que tudo não passa de uma história projetada pela minha imaginação.

Bianca estaciona em frente à uma casa pequena, eu estaciono logo atrás do seu carro. É uma das poucas casas da rua, é um lugar isolado e afastado da cidade. É uma casa pintada de azul claro, janelas e porta brancas, é simples, de um andar com uma varanda em sua parte frontal, em seu em torno é cercada por cercas-vivas e sua frente por uma cerca de madeira pintada em branco. Há uma gramado bem cuidado atrás da cerca e há uma garotinha correndo por ele, ela está atrás de algo, meu coração está acelerado, eu preciso vê-la, algo me puxa para ela, eu deixo o carro, é como se o tempo estivesse mais devagar, é como se tudo estivesse sumindo e restasse apenas nós.

Eu aproximo-me, ela vira-se, eu estou na calçada de frente para ela, seu olhar é surpreso, não está olhando para mim, encara algo ao meu lado, meu olhar segue o seu e encontro Belle, ela está olhando para Belle e Belle está olhando para ela. Eu nunca vi esse olhar de Belle, ele é diferente de todos os outros, é sublime e tranquilo. Eu viro-me novamente para a garotinha, ela está sorrindo, nesse momento, todos meus medos desaparecem, nesse momento não há insegurança, ou receio. Meu peito preenche-se com algo indescritível, seus olhos são verdes como os meus, mas nesse instante não importa. Sentimentos diversos transbordam em meu coração, não consigo identificá-los, mas estou me sentindo como se fosse capaz de flutuar.    

A garotinha desvia o olhar de Belle e olha para mim. Eu olho para ela, em seus olhos, os olhos tão iguais aos meus, meu coração bate mais forte, meu coração está repleto de amor e eu sei que farei qualquer coisa por essa garotinha. Sinto Belle se aproximar, sua mão encontra a minha, entrelaçamos nossos dedos. Sinto seu olhar sobre mim, mas sou incapaz de desviar o olhar da garotinha para olhar para minha esposa, seu braço encosta no meu, sua respiração está em meu pescoço, sua boca está perto da minha orelha.

— Você está conhecendo sua filha, não é? Seu coração está reconhecendo sua filha, não é?

Sua voz é um sussurro, não há acusação, não há mágoa, ou ressentimento em sua voz, e eu conheço Belle o suficiente para saber que está sorrindo entre suas palavras. Talvez, Belle também tenha sentido algo, aperto sua mão.