Capítulo 1

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"Mas agora, eu quero não estar bem
Eu estou tão cansada, sentada aqui esperando
Se eu ouvir mais um: Basta ter paciência

Isso sempre ficará o mesmo
Então me deixe apenas desistir"


You Don't Know (Katelyn Tarver)

Belle

Lúcia continua a falar, mas sua voz é apenas um zumbido, minha atenção não é sua, algumas das suas palavras ecoam em minha mente. 

"A cirurgia não foi o suficiente para remover todos os focos."

Meu coração está quebrado em mil pedacinhos nesse momento, eu sei, eu sinto. Dói. O vazio dentro de mim aumenta. Uma parte em mim é um buraco preenchido por dor, a outra é somente um vazio.  

— Você pode optar por outra cirurgia, ou fertilização in vitro.

Uma de suas frases invade a minha névoa de dor e raiva, eu quero gritar que não quero alternativas, mas apenas assinto. 

— Tudo bem, eu irei analisar as opções. 

Sorrio, um sorriso falso, a médica a minha frente sabe que eu estou mentindo e sorri para mim, um sorriso que pode ser traduzido como um "sinto muito", Lúcia está com pena de mim. Eu não quero a sua pena. As lágrimas querem deixar meus olhos, porém as mantenho presas dentro de mim, não a deixarei ver minhas lágrimas e minha dor, eu posso ser forte, eu consigo. 

— Qualquer dúvida, eu estou a sua disposição. 

Eu fico em pé, posiciono a alça da minha bolsa em meu ombro.

— Obrigada, eu marcarei com sua secretária à próxima consulta. 

Minha voz está controlada, eu estou orgulhosa de mim mesmo. Eu estou desmoronando, mas ninguém precisa presenciar. 

— Tudo bem, Belle. 

Mais uma vez forço um sorriso. 

— Tchau, Lúcia. 

Viro-me ficando de costas para Lúcia, respiro fundo, eu só preciso chegar em meu carro, eu consigo. 

— Tchau, Belle. 

Deixo sua sala e caminho pelos corredores, o estacionamento nunca pareceu tão longe. Meu peito está doendo, há uma pressão sobre meu corpo, sobre minha alma, eu quero gritar, eu quero encontrar uma forma de aliviar a minha angústia. Eu sigo de cabeça erguida, eu sigo fingindo que eu estou bem e por dentro eu sou o próprio caos. 

Saio do hospital, o vento atingi meu rosto, mais uma vez respiro fundo, o céu está bonito, sem nuvens e o Sol reina, em outras circunstâncias, eu iria olhar para cima e sorrir, um dia bonito sempre é motivo para sorrir, mas não hoje. Hoje, eu sou apenas a tristeza, dor e um vazio. Um vazio o qual nunca conseguirei preencher, não consigo mais evitar, não consigo manter as minhas lágrimas presas, sinto elas descendo pelo meu rosto. Há pessoas olhando para mim, apresso meus passos, eu posso sentir os olhares de pena, de dó, curiosidade e compaixão. Normalmente, eu não me incomodaria com olhares, eu não iria me importar em chorar em público, mas hoje minha dor é demais, é diferente. Os olhares alheios estranhos são um lembrete do o porquê eu estou chorando, são um lembrete do que nunca terei.

Finalmente, chego em meu carro, rapidamente busco a chave em minha bolsa e aperto o pequeno botão para desligar o alarme. Entro em meu veículo, fecho a porta, e jogo minha bolsa no banco de passageiros   ao meu lado. E então, eu desabo, eu caio, eu deixo meu mundo desmoronar.

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