Sinto uma leve corrente de tremor atravessar meu corpo, pequenos solavancos pelo frio começam a se desencadear, até mesmo meu queixo treme, minhas mãos soam, e eu já não sei se é pelo frio. Grace coloca a mão sobre a boca, e tira, depois põe de novo e eu posso ver suas lágrimas. Mia abaixa a cabeça parecendo estar envergonhada... e ele... ele está parado. As mãos pendendo aos lados do corpo. A cabeça jogado um pouco para a esquerda. Seu olhar confuso está cinza escuro, seus lábios estão em uma linha dura. O casaco preto pinga assim como a mexa de cabelo que lhe cobre a testa.
Encaro-o... por segundos, minutos... então ele dá um passo, um longo passo cambaleante e para! Então ele começa a andar, vagarosamente, passos pesados como se houvesse um peso gigante em suas costas, e ela para! Cinco, ou quatro centímetros a minha frente.
Fecho meus olhos. Temendo-o. Minhas lágrimas caem com receio, contornando o tremor em meu queixo. Então sinto sua mão segurar firmemente meu rosto, e começar a moldá-lo. E eu o sinto há anos atrás, durante os três dias que conversamos, os braços, os beijos, a noite em que concebemos Clarissa. Eu posso sentir tudo isso em seu toque, então eu estou presa na segurança dos seus braços. Uma cadeia, uma cadeira boa que não me faz temer.
O medo está aqui. Depois de cinco anos ele está aqui, na minha frente. Seu abraço parece mostrar que ele não me odeia. Eu o sinto aqui, dentro de mim. Sua pele e roupas, frias e molhadas parecem me aquecer de uma forma estranha e muito bem-vinda.
—Anastásia. —Ele sussurra no meu ouvido com a voz roupa e insegura.
—Christian. —Sussurro contra seu peito.
Ele me empurra levemente, segurando meu rosto firmemente com as mãos, então sorri, sorri e seus lábios tocam a minha testa.
—Você está viva. —Ele fala dando um sorriso caloroso e eu ouço Grace e Mia suspirarem aliviadas.
—Acho que sim. —Murmuro secando minhas lágrimas. —E você está molhado.
—Sim, eu estava em Nova Iorque, mas decidi voltar mais cedo, eu queria ver a Lis e a chuva... ah... você está viva!
—Mamãe? Papai?
Viramos ao mesmo tempo e nos deparamos com Clarissa. Ela nos olha curiosa, com as mãozinhas envoltas no próprio corpo, os olhos com algumas lágrimas. Ela sorri encolhendo os ombros.
—Papai? Você não está bravo? —Clarissa pergunta temerosa. Christian me olha e sorri.
—Não. Nenhum pouco. —Christian diz dando um sorriso caloroso e Clarissa sorri.
—Eu acho que vocês têm muito a conversar. —Mia diz secando algumas lágrimas. —Lis, que tal ir para a cama?
Clarissa encara Mia e depois Christian, por fim, me olha e suspira balançando a cabeça. Mia passa por nós e segura a mão da menina.
—Você não vai embora, não é mamãe?
—Não. —Sussurro calmamente. Ela sorri e sai da cozinha com Mia. Grace nos olha e sai rapidamente apenas dando um leve apertão no ombro de Christian.
Quando estamos a sós realmente, eu me afasto um pouco, encaro por alguns minutos em um silêncio tortuoso, e ele faz o mesmo. Seus olhos parecem dizer tantas coisas, mas seus lábios se quer mexem. Faz anos, e aqui estamos novamente! Frente a frente. Almas confusas que se desconhecem e se conhecem ao mesmo tempo, e isso soa tão confuso quanto asas de beija-flor no coração.
Por reflexo vejo sua mão se mover, numa tentativa de me tocar. Em vão! Afasto-me e caminho até a copa sentando-me em um dos bancos.
—Eu já sabia. —Ela sussurra virando-se lentamente. —Há três dias.
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Segunda Chance
FanfictionAos dezesseis tudo pode acontecer... até mesmo para Anastásia Steele. Após alguns problemas no passado, ela é mantida sobre o controle total da mãe, o que a impedi de descobrir mais sobre um mundo, mal ela poderia imaginar que tudo aquilo mudaria. Q...