Flores para uma florista - Livro I [COMPLETO]

Capítulo 22: Miosótis

"Quando o amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a amizade é concreta ela é cheia de amor e carinho."
William Shakespeare

Sexta-feira, 03 de junho

Olhava para Filipe, do outro lado da sala, encostado à parede enquanto conversava com Fernanda sobre algo que eu não conseguia escutar, devido à distância.

— Ele era o seu namorado, não? — perguntou-me Julio, o Alemão, enquanto sentava no sofá ao meu lado, com um pratinho de salgado em mãos. — Me recordo de ver vocês juntos no prédio.

— Era — falei com um suspiro, enquanto pegava uma coxinha de seu prato. — Préterito imperfeito, literalmente.

— E o moreno ali? — perguntou apontando para Vinicius. — Ele também vive lá.

— Somos amigos. Falo sério.

— Dona Flor e seus dois maridos — falou e eu o encarei séria. — Brincadeirinha.

Sábado, 04 de junho

Acordei mais cansada do que quando dormi. Parecia que um trem, um metrô, cinco ônibus, dois tratores e a fila de subida da serra depois de um feriado tinha passado por cima de mim durante a noite.

A festa, ontem, passou rapído. Ao final, nós organizamos a casa de minha mãe para deixá-la do jeito que foi encontrada e, assim, não ter que ouvir nada quando dona Cláudia finalmente voltar de viagem.

Vinicius, contra a sua vontade, foi para a sua casa, por insistência de Verônica, a irmã que veio visitá-lo.

Ele nunca foi de falar muito da família, apesar de eu ter conhecido seus pais há muito tempo, quando eles ainda moravam aqui, antes de irem para a Itália. Vini é o filho do meio, sendo Vanessa a irmã mais nova e Verônica a mais velha. Eu também não faço ideia de qual o amor que a mãe deles tinha pela letra "V", que inicia todos os nomes.

Verônica nunca gostou de mim e eu nunca soube o porquê, sempre tive coisas mais importantes para me preocupar do que com o fato dela não ir com a minha cara. Vini, também, sempre ignorou todos os comentários dela e nunca deu bola para nenhum dos seus conselhos. Já Vanessa era um amor de pessoa e sempre foi simpática comigo.

Apesar de tudo isso, incluindo a festa e alguns presentinhos que ganhei, ainda assim não conseguia tirar da cabeça o grande problema que parecia se formar em minha frente, como se eu estivesse no pé de uma montanha cheia de neve e, a qualquer momento, uma avalanche estivesse prestes a despencar sobre a minha cabeça. Não tem neve no Brasil, mas dá para entender.