As ruínas da fundação
O tal Sr. Torres seguiu calmamente em nossa direção, segurando firme seu quepe junto ao peito. Se Eleonora não estivesse segurando a minha mão, eu já estaria dentro do carro partindo em alta velocidade para fora dali. Aquilo só podia ser um teste divino, não tinha outra explicação. Tentei manter a calma, não queria que o episódio da semana anterior se repetisse. Respirei fundo e me esforcei para manter um ritmo compassado, mas o tremor da minha carne era incontrolável.
Ele parou à nossa frente mantendo uma distância respeitosa. De perto pude ver algumas marcas de expressões em seu rosto magro que, acompanhado dos cabelos grisalhos em suas têmporas, me intuíam a pensar que ele fora transformado na meia-idade.
― Senhora, senhorita. ― A sua voz era baixa, compassada e ressonou com igual calma com que ele movera a cabeça em reverência.
― Sr. Torres, como vai? ― perguntou Eleonora no mesmo tom complacente.
― Vou bem senhora, obrigado por perguntar ― respondeu ele sorrindo timidamente, o que fez as linhas próximas à sua boca se aprofundarem.
― Liz, esse é o Sr. Lino Torres, e Sr. Torres, essa é a senhorita Liz Aileen, uma amiga muito insigne.
― Prazer em conhecê-la, Srta. Aileen. ― Ele abaixou a cabeça novamente.
― Igualmente. ― Engoli seco, tentando voltar a respirar, mas meu coração parecia preso na garganta.
Nesse momento, para além da minha compreensão emocional, puxei lá do fundo da razão, a coragem, e então estendi a mão para ele. O vampiro ficou visivelmente confuso, mas não hesitou, a segurou com delicadeza, enquanto seus olhos azuis brilhavam e seu sorriso se alargava.
Nosso contato não durou muito, logo ele se afastou com um agradecimento gentil de Eleonora. Aquilo não tinha sido tão ruim quanto esperei, pelo contrário, eu me sentia bem em ter conseguido controlar o meu medo, no entanto, isso não mudou o fato de que tudo que eu mais queria, era ir embora dali. Ao me despedir dela agradeci o café e a gentileza, só então terminei de chegar ao carro.
― Liz? ― Eleonora chamou fazendo-me soltar a maçaneta e me virar para ela mais uma vez.
― Sim?
― Você foi magnífica, querida. Tão corajosa, que não tenho palavras para expressar o meu contentamento. ― Dei um sorriso acanhado, porém, agradecido. ― E não esqueça, leia o livro.
― Não vou esquecer. ― Bati os dedos na minha bolsa para atestar minha afirmação. ― Até quarta-feira, Sra. Skarsgard. ― Acenei um tchau, e então fui embora.
Minha volta para casa foi submersa em pensamentos, tentando encaixar todos os detalhes daquela visita para que soasse como algo normal aos meus neurônios. Por mais que eu tentasse, existia uma sensação estranha e enigmática. Talvez fosse causada pelo vampiro, ou até mesmo pelo receio misturado à curiosidade acerca do livro que repousava na minha bolsa. De qualquer forma, uma das primeiras coisas que eu faria ao falar com a minha avó, seria perguntar sobre Eleonora Skarsgard.
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Contrato de Destino
Fantasia[LIVRO 1] Este é o primeiro livro da Série Vórtex. [Romance/Fantasia] Um contrato foi selado pelos Deuses e dois destinos foram traçados. Após dois mil e seiscentos anos, nasce com a rainha das fadas, a oportunidade de cumpri-lo. ...