C A P Í T U L O 25

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Eterno como uma obra de arte

          Viver a eternidade havia seu preço

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          Viver a eternidade havia seu preço.

          O que começou como uma simples fissura, se transformou em uma lacuna profunda, irreparável, incapaz de se preencher. A sensação de vazio era presente na maior parte do tempo, diminuía, mas nunca desaparecia, e tornavam efêmeras todas das coisas que sobrevinham ao longo dos séculos. O tempo perdeu o seu valor e os fatos se tornaram cada vez mais banais, insuficientes.

          O nada estava em todos os lugares, e a todo momento eu tentava completá-lo de alguma forma. Tentava incessante e incansavelmente sentir algo a mais, seja através de alguma droga, de algum jogo, ou pelo simples prazer sexual em seu ato mais violento e selvagem, às vezes pela dor, ou ainda pela morte e sangue que escorriam das minhas mãos. Tudo dependia do dia, da minha inspiração e dos meus desejos.

           Eu era como aquelas telas negras à minha frente. O vazio. O nada. Ornados por uma agradável moldura de metal que enalteciam suas projeções, seus significados e seus atrativos. Elas eram o meu espelho, não revelavam nada além da verdade, e nada mais do que era preciso saber. Assim como tinha que ser.

          A vida imitando a arte, e a arte, expressando a alma.

          ― Luigi Bonaccorsi, senhor.

          Virei-me para Alfred parado à porta, e fiz uma rápida anuência.

          Deixei o escritório e segui para a sala, onde o pintor me esperava. Diminuí meus passos para analisá-lo melhor, ele perscrutava tudo à sua volta, extasiado e ao mesmo tempo intrigado. Ao se aproximar do quadro posicionado no meio do cômodo, discretamente, puxou o veludo que o cobria para o lado em uma tentativa de ver o que havia debaixo. Assim que parei a poucos metros, ele notou a minha presença com espanto, então rapidamente se afastou da obra e passou a me encarar como se eu fosse um ser de outro mundo.

          ― É um... ― sua voz oscilou, lhe induzindo a um pigarreio antes de prosseguir ―, é um enorme prazer conhecê-lo, Sr. Skarsgard.

          Olhei para sua mão estendida, depois para seu semblante fascinado, e então, sem falar nada, me dirigi até a tela retirando-lhe o tecido negro. Recolhendo a mão desconcertado, ele abriu um sorriso fraco, e assim se pôs a mexer desajeitadamente nos bolsos do blazer até retirar de dentro uma lupa. Voltando-se para a pintura, passou a examiná-la com curiosidade.

          Enquanto ele se perdia em sua análise, caminhei até o bar ao lado e me servi uma dose de Opus. Por segundos me concentrei no barulho do líquido negro escorrendo lentamente para dentro o copo de cristal, o cheiro amargo, um tanto frutado, me fazendo salivar. Tão breve o senti descer agradavelmente pela minha garganta.

          ― Maravilhosa! ― exclamou o pintor, voltando seu olhar cintilante para mim. ― Não só é original, como também é a obra mais autêntica da rinascita. Observe os traços etéreos, cada linha, cada cor, a expressão e os sentimentos que ela transmite, são genuínos! ― Ele se calou por alguns segundos, parecendo buscar coragem para prosseguir. ― Perdono pela indiscrição, mas quanto esta obra acrescentou ao seu acervo? Ouvi que ela foi abatida por cem milhões, é verdade?

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