C A P Í T U L O 4

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O medo que intoxica a mente

          ― Vovó, por que vampiros são maus?

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          ― Vovó, por que vampiros são maus?

         Vovó Ise se sentou no sofá fazendo um gesto para eu me aproximar.

         ― Porque eles não possuem coração, minha princesa.

          Levei minhas mãos até à boca, assustada.

         ― Mas, vovó, como um ser pode viver sem um coração? ― Ela riu, e então me puxou para o seu colo.

         ― Usei a palavra coração no sentido figurado, porque é no coração que guardamos nossos sentimentos. ― Vovó pousou sua mão em meu peito. ― Eles até possuem um coração aqui dentro, mas eles não possuem sentimentos, por isso fazem maldades. ― Fiquei pensando em como seria um ser sem sentimentos, e de repente, comecei a sentir pena deles.

         ― Eles devem ser tristes e sozinhos. ― Vovó levantou o meu queixo, olhando em meus olhos.

          ― Por que diz isso, meu amor?

          ― Não gostar de ninguém deve ser triste. Não ser amado também. Como eles vão ter sentimentos, se ninguém é capaz de amar eles por conta de suas maldades? ― Vovó me deu um beijo na testa.

          ― Que Aine tenha piedade de sua inocência, minha princesa. Acho que já está na hora de você saber o que aconteceu.

          Só me vinha à mente as palavras da minha avó ditas a treze anos atrás, quando eu estava passando as férias na casa dela. Louise fizera o que pôde para me alertar dos perigos do mundo, e enquanto estive com ela, permaneci segura. No entanto, eu cresci, meus sonhos mudaram e me levaram para longe dela. Eu estava tão apavorada, que já nem tinha mais certeza se fizera a coisa certa ao deixá-la.

          É assombroso como nossas vidas podem mudar em uma única noite, em um único segundo. Eu podia sentir a dor da mudança em minha vida, e elas eram intensas. Naquele momento só conseguia me ver condenada por assassinato dividindo uma cela com a minha melhor amiga que seria presa como cúmplice.

          Ninguém viu, e ninguém estava lá para provar que fora em legítima defesa ou que, na verdade, eu nem tinha consciência do que estava fazendo até ter feito. Aliás, houve uma testemunha, mas era muito provável que ela distorcesse os fatos para me culpar.

          Culpa, era isso que eu sentia, ou pelo menos era isso que eu admitia sentir para ocultar a minha falta de arrependimento. Por mais que fosse errado matar alguém, no fundo, existia um alívio acolhedor por ter conseguido me defender de um monstro como aquele.

          Ainda assim, a angústia que eu sentia por medo do incerto que me aguardava, era devastadora. A sala de casa nunca pareceu tão grande quanto naquele momento, e há muitos anos eu não me sentia tão pequena e frágil.

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