C A P Í T U L O 5

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A conexão de todas as coisas

          Qual a punição ideal para um pecador?

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          Qual a punição ideal para um pecador?

          Em tempos longínquos, aldrabões tinham seus olhos perfurados, línguas cortadas e suas bocas costuradas. Ladros e burladores eram flagelados até que a pele de seus corpos se dilacerasse, enquanto seus dedos eram guilhotinados um a um. Em traidores se abriam os membros até seus ossos ficarem expostos, e se porventura desmaiassem de dor, atiçadores em brasas lhe eram aplicados nas partes íntimas para que pudessem acordar.

          De todos, a pior sentença era destinada àqueles que tomavam covardemente a vida de outro. Como um pássaro, eram atirados em uma gaiola de ferro dotada de lâminas bem talhadas. Ela era suspensa e brutalmente pendulada. Logo, o ambiente era purificado com o cheiro e o licor do pecado, transformado em gotas rubras que caiam como uma intensa chuva. Esta, que marcava a pele alva de quem embaixo permanecia para desfrutar do banho funesto.

          Em poucos minutos, um cadáver retalhado e exangue repousava em sua armação de metal, enquanto sob ela, o vermelho abstergia o branco em um contraste refinado. Assim como o par de scarpins escarlate que jazia em meus pés. Ele fora acuradamente escolhido para aquele dia. Uma lembrança que mantinha o meu espírito assertivo e focado na constância da minha contrição.

          ― Carissimi? ― Desviei os olhos dos meus sapatos para Vincent parado à minha frente com a mão estendida. ― Vamos?

          Descruzei minhas pernas soltando-me do cinto da poltrona do avião, antes de buscar o apoio de sua mão para me levantar. Tínhamos acabado de pousar a quase dez mil quilômetros de casa, especificamente, na Ilha de Pacem.

          Um carro nos levou da pista de pouso até a única construção da ilha, o majestoso Palácio de Pacem, sede do Conselho de Ordem, concebido a quase dois mil anos atrás com monumentais talhes de pedras. Sua frente, sustentada por cinco extraordinárias estátuas de mármore com pouco mais de cinquenta metros cada, podia ser admirada em qualquer parte daquela ínsula.

          Era inevitável uma breve conflagração ao me por diante delas. Não importava se eu presenciara suas edificações, ou quantas vezes eu já estivera lá, sempre me irrompia um sentimento de resignação e resiliência sob seus significados.

          Do lado direito, com uma mão estendida para cima de onde à noite ficava visível uma luz, e com a outra segurando uma linda rosa de bronze, encontrava-se a Deusa Aine. Seu rosto ostentava traços perfeitos e imaculados. Longos cabelos lhe caiam sobre os ombros enfeitados com ramos e flores. Em seu pescoço, reluzia um colar com uma delicada árvore-da-vida. No seu corpo venusto, estava esculpido um tênue véu que mal lhe cobria os seios e quadris. Beleza, sedução e inocência eram quase um paradoxo que só ela parecia possuir.

          Após a Deusa das Fadas, ficava o Deus dos Humanos, Jeváh. Com os olhos fechados e o corpo coberto com um manto alinhado, ele descansava as mãos unidas próximas ao peito. Em um de seus dedos, um anel portava uma cruz alada também de bronze. Simplicidade e ternura emanavam de sua imagem.

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