C A P Í T U L O 2

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Inocência perdida

          Em frente à porta dupla de madeira, inspirei profundamente o ar gélido da noite, já prevendo que dentro daquele pub eu não conseguiria respirar sem me intoxicar com o ar tomado pela névoa fétida de cigarro

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          Em frente à porta dupla de madeira, inspirei profundamente o ar gélido da noite, já prevendo que dentro daquele pub eu não conseguiria respirar sem me intoxicar com o ar tomado pela névoa fétida de cigarro. Eu não o conhecia, mas era assim que lugares fechados como aquele eram.

          O que estou fazendo aqui? Deixei as minhas pálpebras caírem por alguns instantes ainda não acreditando que tinha cedido às chantagens da Sophi. Certo, eu não era tão careta assim, não era como se eu nunca saísse. Houve algumas raras ocasiões e nem foram ruins, embora o incômodo sempre existisse. O meu conforto ali era saber que valia o esforço para vê-la feliz.

          ― Como você conheceu esse lugar, Sophi? ― indaguei com os olhos retidos nas letras vermelho neon que reluzia o nome "Bauhaus".

          ― É de um conhecido do Luc.

          Virei-me para a minha amiga que detinha seu olhar sobre a silhueta alta, de ombros largos marcados pela jaqueta de couro. Lucca se aproximava a passos despreocupados, passando a mão por entre seus fios loiros, enquanto um sorriso tímido era milimetricamente desenhado em seus lábios.

          ― Que demora para estacionar esse carro, Luc ― reclamou Sophi batendo o pé, impaciente.

          ― O que é isso, esquentadinha? Ninguém nunca te disse que psicólogos não podem perder a calma? ― Lucca começou a rir, e eu mal consegui disfarçar antes de me render ao riso junto dele.

           Sophi puxou um sorriso forçado o desfazendo em seguida, e então entrou no bar sem nem olhar para trás. O ar que soprou lá de dentro era tão irrespirável, que por um momento quase perdi a coragem ponderando aquela situação, mas ao perceber a minha dúvida, Lucca segurou a minha mão e me envolveu em um abraço.

          ― Está tudo bem? ― perguntou ele, seus olhos azuis me analisando de cima.

          Inalei fundo e fiz que "sim" com a cabeça, o que não soou muito convincente, já que Luc continuava me olhando com uma expressão desconfiada. "Sim, está." precisei dizer, obrigando-me a sorrir, até que finalmente ele cedeu me devolvendo o sorriso e nos guiando para dentro.

          O lugar estava lotado, pessoas se encontravam espalhadas por todos os lados entre o bar, as altas mesinhas distribuídas ao redor e o que parecia ser a pista de dança, onde um aglomerado significativo delas balançavam seus corpos suados ao ritmo de uma música antiga remixada. A pouca luz que prevalecia no ambiente, refletia os tons amarronzados das paredes de madeira, o que para alguns seria aconchegante, mas que para mim só aumentava a sensação de calor. O ar era abafado demais e o cheiro de cigarro e suor não era nada agradável ou convidativo.

          O que estou fazendo aqui? Repeti para mim mesma pela terceira vez naqueles últimos quinze minutos. Involuntariamente olhei para a porta que havíamos entrado, vê-la fechada só agravava aquela sensação incômoda. Céus, eu teria de ser forte para resistir a tudo aquilo, ainda que parecesse algo impossível.

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