Capítulo 47

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Marcello

Durante todo o trajeto de taxi, eu tentei pensar em uma forma de abordar a situação. Todos os malditos trinta minutos de corrida. O motorista tentou puxar uma conversa amigável, até porque era uma viagem aparentemente longa, mas quando percebeu minhas respostas curtas e monossilábicas, desistiu e se concentrou em cantar junto com o rádio.

A cidade passava pela janela em uma espécie de borrão. Exatamente como estava meu coração.

Quando encostamo-nos ao meio fio, em frente a uma casa simples, mas bem cuidada, de um bairro extremamente residencial, eu me forcei a perceber a loucura que estava prestes a fazer. As luzes da casa estavam todas apagadas, assim como de todas as outras residências.

Bati os olhos no relógio e franzi a testa. Obvio! Já passava da uma da manhã.

- Merda! – sussurrei.

- Algum problema, senhor? – o motorista perguntou se virando para trás.

Eu ri baixinho e cocei minha nuca.

- Acho que não me atentei sobre o adiantado da hora.

O motorista sorriu.

- Um hotel, quem sabe?!

Assenti e indiquei que me levasse.

Não muito distante dali, paramos em um pequeno e charmoso hotel na avenida principal. Paguei pelo taxi, o agradecendo pela viagem e entrei na pequena recepção. Depois de fazer check-in e pegar as chaves, subi dois lances de escada, porque esperar o elevador não seria uma opção, e entrei em um quarto pequeno e limpo. Olhei em volta e a solidão me tomou. Sentei na beirada da cama e olhei para fora pela janela entreaberta. A brisa da madrugada tocou meu rosto e eu fechei os olhos pensando na grande confusão que minha vida se tornou.

Eu devia saber que junto com um relacionamento, também viria as complicações, mas não nessa proporção.

Quando era mais novo, assim que descobri a sexualidade, eu achava que tinha coisa errada comigo. Meus amigos quase molhavam as calças de tanto tesão nas meninas da escola e eu não sentia nada, mas também não sentia quando os via nus no vestiário do ginásio. Ou eu tentava me negar isso, o que é mais provável. Quando enfim sucumbi as chatices dos meus amigos que diziam o tempo todo que eu precisava beijar e provar uma menina, eu comecei a entender que aquilo não era pra mim. Conheci e comecei a gostar, realmente gostar, de Melinda. Ela era mais velha que eu, enquanto estava em seus dezessete anos, eu estava nos meus quinze, mas ainda assim nos dávamos bem. Ela era bonita e inteligente, então eu deveria estar feliz, mas não estava. Em uma noite de bebedeira precoce, nos beijamos e ela conseguiu me excitar, á ponto de me fazer perder a virgindade com ela, mas no outro dia meu inferno começou. Eu não me sentia em mim, eu não me reconhecia e nem tentava me sentir atraído por aquela menina incrível. E só descobri o porquê, meses depois, quando um cara do time de futebol me chamou a atenção, e então quando estávamos na ducha, ele disse que gostava de homens e que se sentia atraído por mim.

No inicio eu fiquei confuso, porque ao invés de me sentir ofendido ou constrangido, eu senti um calor gostoso dentro de mim e então passei a entender que o que acontecia comigo não era errado, e sim que era exatamente o que eu era. Um gay. Um homossexual. E que nenhuma menina, bonita ou feia, inteligente ou não, nunca me faria sentir como me senti naquele dia que Henry confessou ser atraído por mim.

Eu queria encontrar meu lugar no mundo e me sentia extremamente fora dele.

O celular vibrou no meu bolso me tirando do meu devaneio. A tela me mostrando que Ramon havia me mandado mensagem.

Depois do Recomeço (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora