Capítulo 20

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Heloisa

- Abre essa porta, Heloisa. – Peter batia e implorava do outro lado.

- Vai embora, Peter.

Estamos nesse impasse á mais de trinta minutos. Não estamos fazendo nenhum tipo de escândalo, mas para uma madrugada comum, isso aqui está bem animado e agitado.

- Eu não vou embora até que você abra e eu possa te explicar as coisas.

Não há o que explicar, eu já disse isso pra ele umas mil vezes, e não vou me repetir desta vez.

- Minha linda... – ele falou já com a voz cansada e eu juro que meu coração mole deu um salto maior dentro do peito. - ... Helo, deixa o seu orgulho ferido de lado por um momento e me deixa te explicar algumas coisas. Pelo amor de Deus! Eu não aguento mais ficar nesse jogo de gato e rato, de morde e assopra. Eu sinto sua falta, eu sinto falta das crianças.

Pode ser impressão minha mas noto uma presença de choro, ou somente a voz embargada, mas isso esta me destruindo.

Levanto-me da cama e vou em direção á porta. A toco como se tivesse tocando seu rosto. Eu também sinto falta dele, em todos os sentidos possíveis.

- Não tem orgulho ferido nenhum nessa história, só quero que você se vá de uma vez. – minha voz é firme, mas eu ainda choro e encosto minha testa na madeira da porta.

- Teimosa. – ouço ele soltar e seus passos indo para longe.

É isso! Agora ele se foi e dessa vez pra sempre.

Isso me desespera então eu caio sentada no chão, meu corpo sofrendo espasmos por conta do choro compulsivo.

- Idiota! Idiota! Idiota! – não canso de repetir a mim mesma.

Eu poderia deixar essa coisa toda de lado? Não!

Eu poderia esquecer o que vi e passar uma borracha por cima disso tudo? Definitivamente, não!

Mas eu podia e queria ouvi-lo tentar se explicar. Queria ver até onde ele iria com suas desculpas e mentiras.

Levantei-me do chão e bati a mão na maçaneta para abrir a porta, mas de repente escutei passos voltando e congelei no lugar. Logo em seguida ouvi som de alguém se sentando, não sei bem onde e um baque meio surdo de madeira tocando o chão.

Franzi a testa e tentei olhar pelo buraco da fechadura.

- O que você está aprontando agora? – sussurrei baixinho apenas para mim mesma.

E então, notas baixas e harmoniosas começaram a ser tocadas no violão. Peter começou a cantarolar algo que eu não entendia, ou não existia. Tocou algumas notas e começou um melodia. E então começou a canta-la, baixinho para não fazer muito barulho.

Só reconheci a musica depois da segunda ou terceira estrofe. E então me peguei cantando junto.

Peter fazia uma má interpretação de You Give Me Something de James Morrison. A letra era bonita e todo o sentimento foi colocado pra fora com Peter meio cantando, meio recitando.

Sentei de costas na porta, apenas ouvi e senti tudo que a musica e a voz do meu marido me passava. Em alguns segundos ela parecia mais carregada que em outras vezes e eu me peguei chorando de novo.


You only stay with me in the morning

You only hold me when I sleep

I was made to tread the water

Depois do Recomeço (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora