Capítulo 36

1.6K 201 32
                                    

Heloisa

- Helo. - Joana veio meio cambaleante para meu lado. - Onde estamos? E por que ele voltou?

Eu não sabia o que responder então apenas engoli o caroço que se formou na minha garganta.
Joana colocou-se a desatar os nós da corda para me libertar. Marcus veio também para ajudar a mãe. Senti as amarras sendo frouxas e meus pulsos até suspiraram de alívio. Levantei cada um dos braços lentamente os esfregando para que a circulação voltasse.

- Como ele conseguiu trazer vocês até Miami? - perguntei meio confusa.

Joana estreitou os olhos.

- Não estamos em Miami, Heloisa, estamos em Nova York. – ela esperou um pouco e completou. – Eu fui buscar Marcus na escola e aquele desgraçado nos pegou.

Demorei alguns segundos para registrar a informação é então o pânico me tomou. Eu imaginei que pudesse ter essa possibilidade.

-Eu estou muito confusa, Jo. Se estamos em Nova York, como eles conseguiram me trazer pra cá?

Ela deu de ombros.

- Não sei. - ela sussurrou. - O que eles pretendem com a gente?

Um arrepio me passou pela espinha só de tentar imaginar.
Não respondi, apenas lhe olhei de forma significativa. Tínhamos uma criança ali e eu não queria assusta-la. Passei a olhar em volta para tentar decifrar onde estávamos.

Fui até o janelão para ver se conhecia o lugar, mas não havia nada. Somente mata verde e fechada. Muito provavelmente estávamos em algum galpão abandonado.

Visualizei uma porta na outra extremidade da sala e meio instável fui em direção à ela. Com sorte estaria destrancada e com mais sorte ainda seria algum tipo de saída.

- Helo... - Joana me repreendeu quando percebeu minha intenção.

Olhei para seus olhos claros e amedrontados.

- Precisamos tentar. - falei baixo.

Ela estreitou os olhos mas assentiu no mesmo momento em que puxou o corpinho de Marcus para mais próximo dela.
Continuei meu caminho até aquela porta misteriosa. Coloquei a mão na maçaneta e respirei fundo.

Que seja uma saída. Que seja uma saída. Que seja uma saída.

Cantava esse mantra em minha cabeça para me dar força.
Com um último suspiro longo e baixo girei e a porta fez um click como se tivesse sendo aberta. Sorri para mim mesma.

Olhei para Joana que agora parecia ter recebido uma boa notícia e seus olhos brilhavam com esperança. Empurrei um pouco testando a madeira e ouvi um rangido baixo de dobradiças enferrujadas. Parei com medo do barulho chamar atenção. Depois de alguns segundos repeti a ação e não rangeu tanto, o que me trouxe mais tranquilidade.

Assim que a porta foi totalmente escancarada a decepção e o alívio me tomou. A decepção pois não era uma saída e o alívio porque ali era um banheiro. Meio desativado, mas ainda assim um banheiro. E eu precisava usar um com urgência.

Olhei para Joana que esperava uma resposta minha e balancei a cabeça em negativa. Ela murchou e suspirou em seguida.

- É apenas um banheiro. - falei baixo e a vi assentir. - Eu precisava mesmo de um.

- Vai em frente.

Entrei no pequeno cômodo. Havia uma pia com um torneira enferrujada, uma privada sem tampa e parecia extremamente suja de limo. Senti nojo mas a necessidade gritava mais alto. Testei a descarga e com um barulho exagerado a água saiu de seus dutos e circulou pela bacia sanitária. Testei a torneira e uma água mais barrenta saiu dela. Foram precisos alguns segundos de água correndo para que saísse limpa.

Depois do Recomeço (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora