Moonlight Market's: 14/08/3015 - Sábado, 06:22 p.m.
O mercado estava cheio e barulhento, precisava comprar apenas algumas bebidas para a social de hoje na casa de Clara com um pessoal de Processo Penal, inclusive Eric; finalmente nós dois comeríamos os toffes de sua mãe, Rosemary, de novo.
Massageei as têmporas com o maxilar trincado. Após tanto dias estudando leis e seus artigos, fiquei exausto. A meta era gravar, ao menos, 50% delas, visto que complementavam a maioria das outras matérias e não precisaria me esforçar tanto depois.
Senti o bolso frontal vibrar e a abertura de Game of Thrones invadiu a loja estreita, parecia mais um mercadinho ou bazar.
Dei de ombros, encarei o visor do celular com o nome dele saltando da tela e suspirei antes de atender.
- O que quer?
****
Vê-lo de forma tão inesperada após tantos meses sem nos comunicarmos era estranho, como se não tivéssemos um pingo de intimidade, o que, se parar para pensar, era algo verídico no fim das contas.
- Estou curioso. Qual é a coisa importante que queria me falar?
Richard ajeitou-se no banco de modo que seu corpo ficasse ereto, do jeito que apreciava, pela milésima vez, afinal, a poltrona onde estávamos sentados era escorregadia, e ficou ainda mais difícil para ele, pois vestia um terno preto e elegante, como sempre.
Era uma cena engraçada de se admirar quando não se tinha nada para conversar com seu pai.
Pigarreou.
- Soube que visitou sua mãe - enunciou, cauteloso.
Abri a boca para rebater algo, mas calei-me e fiquei apenas observando-o enquanto apoiava-me no encosto da poltrona. Brinquei com o pote transparente de palito de dente, refletindo sobre o que acabara de ouvir.
- Como sabe? - indaguei, sem mover um músculo sequer do rosto.
Seria possível que Audrey tivesse comentado com ele? Não. Naquela época, quando éramos mais próximos, ela apoiava meus motivos para manter distância dele e, ainda por cima, nunca dirigiu uma palavra para ele quando o via. Então logo descartei a possibilidade.
- Tenho minhas fontes - respondeu com um sorriso pretensioso, como se ter vários contatos fizesse dele o Presidente do Estados Unidos.
Apesar de ter sido uma pergunta retórica, pois já previa qual seria sua resposta, queria mesmo saber, mas, como tudo com ele era difícil não tive vontade de insistir.
Querendo adiar a conversa indiferente, perguntei:
- Só veio para isso?
Lembrei da conversa que tive com Stev e Antony sobre a suposta nova mulher, a qual meu pai estava traçando. Não que quisesse lembrar, porém, as lembranças simplesmente projetavam-se de forma aleatória.
E, assim como esperava, ele ajeitou a gravata e verificou as horas no relógio de pulso, a vontade de ir embora era imensa. Nisto, nós dois concordávamos.
- Ver como você está, também.
Ri, irônico. Ele estava tão engraçado hoje.
- Não é curioso? Vir até aqui apenas para isso. Nem parece o Richard do qual conheço.
O silêncio perdurou-se por muito tempo ou somente me transmitiu esta sensação. Até o casal atrás de mim emudeceu.
Ele buscou a carteira no bolso do paletó, deixou o dinheiro em cima da mesa e saiu sem se despedir, o que não faria questão de qualquer jeito.
Queria gritar que era justamente esse tratamento especial que merecia, contudo, seria demais até para mim.
Mexi no celular, abrindo as mensagens no Whatsapp. A maioria eram de grupos, o que me fez refletir sobre como minha vida estava parada. Sentia saudades dos momentos que tive com a Iris, porque pelo menos o meu amigo de estimação lá debaixo ficava tranquilo.
Assim que saí do aplicativo chegou uma nova mensagem.
"Hey. É a Layla, você vai hoje, né?"
Sorri. Ela é uma garota bonita. Não como a ruivinha, embora ninguém se comparasse a ela. O quê? Por que pensei nela agora? Caralho, estou ferrado.
- Andy - alguém me cutucou.
Olhei para cima, encontrando Iris e a menina que Lou falara que conhecia.
Franzi o cenho.
- E aí, Iris?
- Quem era aquele homem contigo? - A voz dela passava uma sensação de urgência, então logo respondi.
- Meu pai, por quê?
Ficou em silêncio. Olhou para a amiga dela e para mim. Fez menção de dizer algo, e preferiu ficar calada. Começou a rir de repente, incitando-nos a encará-la sem entender absolutamente nada. Me olhou de novo.
- Que porra! Não estou acreditando.
Fazia um tempo que não a via e, ainda assim, podia afirmar que estava diferente. Não houve mudança na aparência, porém havia algo no seu modo de agir ou encarar as coisas que me deixava intrigado. Sabia que não era o melhor amigo dela, para quem contaria suas coisas mais íntimas, tendo Liz ao seu lado quando precisasse, como o Batman e Robin. Mas, achava que soubesse que se precisasse, estaria disposto a ajudá-la a qualquer instante. Tudo bem que todo mundo dizia isso, contudo esperava que ela enxergasse a veracidade das palavras providas por mim.
- Ficarei feliz se quiser compartilhar seus pensamentos, Iris - falei, curioso para saber o que estava por trás da sua risada caótica.
- Não, meu querido amigo - sentou-se à minha frente, onde Richard esteve, arrastando a menina junto. - Você não vai ficar feliz.
- E por que não? Sério, qualquer coisa me deixa feliz depois do meu pai ir embora.
- Andy, seu pai transa com a minha digníssima mãe.
Petrificado. O quê?
Um balde. Um balde vazio para vomitar. O quê?
- Claro que não, Iris - ri do mesmo jeito que ela há pouco. - Eles não podem... ele mora em Penwortham.
- Isso o impede por acaso? Não sabia que minha vida podia piorar.
Iris e eu transávamos. Richard e a mãe dela transavam. Hoje ele vai estar com ela. Eu estou com a Iris agora. Que merda de vida é essa?
De fato, não estava nada feliz.
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Verão Inabalável (Livro 2) - Completo
General FictionLivro 2 da série "Estações Insólitas" Livro 1 - "Primavera Sem Rumo": https://www.wattpad.com/story/60735165-primavera-sem-rumo-livro-1 Uma nova estação. Um novo segredo para desvendar. E uma nova vida para explorar. Iris e seus amigos...