Avenida Emilly Lane: 26/08/2015 – Quarta-feira, 12:53 p.m.
– Alô? T?
Atravessei a avenida principal equilibrando o celular no ombro. Em bolsas pesadas de papel pardo, o resultado da campanha criada para ajudar o orfanato próximo ao hospital infantil em que Claude estava internado. Soube, através da enfermeira que cuidava dele, que crianças carentes precisavam de roupas e, com a ajuda de Isis, organizamos um mutirão na universidade e nas casas vizinhas. Contudo, não esperava que o resultado seria além do satisfatório e nesse instante meus ombros clamavam por descanso. Desse modo, apertei os passos para enfim chegar em casa, enquanto aguardava alguém responder do outro lado da linha.
– Laranjinha? – Parei de andar, irritando um desavisado atrás de mim. Ele contornou-me e seguiu caminho em direção ao metrô logo à frente. Aquele apelido era desagradável e há tempos lhe pedi que não me chamasse assim, porém não era mais enfadonho do que Andrew atender o celular do Thomas que possuía senhas que nem eu mesma imaginava. Era intocável. – Como vai?
– Harper, estou bem – respondi. – Obrigada por perguntar. Posso falar com o Thomas, por favor?
– Ih, laranjinha – ele gargalhou. Junto com ele, outros riram junto; homens e mulheres. – Não vai dar, não – contestou, cantarolando.
– Por quê? – exigi, apreensiva demais para obter uma resposta. – Aconteceu algo com ele? – A aflição abraçou a minha garganta, resultando em uma voz estrangulada.
– Ele está bem, está bem – insistiu, logo soltou outra gargalhada.
O que seria tão engraçado?
– Então, passe o celular para ele, por gentileza – pedi, sem hesitar. Indicando que não participaria das suas brincadeiras, severamente continuei: – Tenho algo importante para conversar com ele.
– Me adianta o assunto. Ele foi estacionar o carro e, quando voltar, direi a ele. Fica tranquila – assegurou.
– Tudo bem – desisti de insistir. Não era um segredo que ele não pudesse saber de qualquer forma. – Peça ao Thomas para não esquecer do nosso compromisso de hoje à noite.
– Poxa, laranjinha, não sabia que vocês tinham algo marcado. Desculpe por pegá-lo emprestado sem avisar.
– Hoje à noite, Andrew – repeti levemente irritada. Apertei as alças da sacola com força desnecessária.
– A gente vai sair essa noite. Ele não te disse? – perguntou, em meio a sorrisos e sussurros.
Não, ele não me disse, Harper. Ultimamente, Thomas não vinha me dizendo quase nada e era bem estranho não saber o que ele planejava para o dia seguinte, quando antes era a primeira a ouvir que ele sairia com os amigos, porém desta vez não fui informada.
Meu namorado e o celular pareciam uma só pessoa, até quando nós estávamos juntos. Embora não passássemos mais tanto tempo na companhia do outro, era incômodo notar que sua atenção não estava em mim, mas no que quer que estivesse recebendo pelo celular a cada segundo dos nossos parcos encontros, que se tornavam mais escassos, curtos e monossilábicos à medida que os dias avançavam. Entendia que seus novos amigos eram novidade, por este motivo repetia para mim mesma que era apenas uma fase e tampouco iria brigar com ele por se divertir. Thomas permanecia sendo uma parte constante em minha vida e, mesmo distante meu namorado estava ali. Para mim, isso bastava.
Ele era importante para mim de uma maneira que nem conseguia mensurar, e uma leve dor acometia meu coração ao pensar que ele poderia ir embora caso eu demandasse atenção. O meu maior medo não se tornaria realidade, não enquanto pudesse evitar. Essas distrações logo chegariam ao fim.
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Verão Inabalável (Livro 2) - Completo
General FictionLivro 2 da série "Estações Insólitas" Livro 1 - "Primavera Sem Rumo": https://www.wattpad.com/story/60735165-primavera-sem-rumo-livro-1 Uma nova estação. Um novo segredo para desvendar. E uma nova vida para explorar. Iris e seus amigos...