Capítulo 11 - Elizabeth Campbell

154 26 40
                                    


Píer de Brighton: 28/06/2015 – Domingo, 10:17 p.m.


Me considerava uma pessoa com poucos vícios. Quando ficava nervosa, coçava as mãos e apertava freneticamente os dedos a fim de extravasar o nervosismo. E hoje, talvez tenha adquirido uma nova mania baseada na convivência diária com minha melhor amiga Iris. Não costumava ter o hábito de puxar as pontas dos cabelos, para compensar de alguma forma a inquietação que perturbava meu estômago levemente cheio. Contudo, insistentemente meus dedos encontravam os fios avermelhados dos meus cachos, enquanto observava distraída a ausência de Louise.

Minha atenção perdia o foco constantemente e, embora mantivesse a guarda alta, roía as pontas das unhas com a preocupação latente.

Odiava mentir para Iris – e eu já estava me habituando a fazê-lo constantemente nas últimas semanas – pois em uma relação de amigos a sinceridade era um requisito importante para manter a lealdade em uma amizade. Todavia, permiti que ela pensasse que minha angústia tinha a ver com o cigarro do Andrew, que era a menor das minhas preocupações no momento. Na verdade, não foi nem uma mentira mas sim uma omissão por consentimento, que vinha se repetindo não apenas com o seu amigo.

Estar sozinha com ele ainda era incômodo, entretanto, suportável.

Se eles imaginavam que era esse o motivo do meu nervosismo, assim seria melhor. Louise e Iris já haviam brigado antes, e talvez levantar questionamentos sobre seu primo com a colega de quarto dela não seria, de todo, bom para mim. Pelo menos, dessa vez, apenas observaria e voltaria a agir conforme julgava ser o certo, que mudava continuamente conforme os dias passavam.

– Laranjinha, o que está acontecendo? – Andrew encarou o mesmo ponto fixo que eu. – Você está mais quieta que o normal – pontuou ele, sem pensar duas vezes.

– Harper – ele franziu o cenho quando pronunciei seu nome com calmaria. Contudo, mantive a formalidade no tom de voz. – Já pedi para não me chamar dessa maneira. Eu não gosto, por favor – insisti. 

Ele revirou os olhos, quase como Iris fazia e eu, embora quisesse ir, me mantive séria.

– Posso te fazer uma pergunta?

Assenti com a cabeça, e ele apontou para a minha bolsa onde guardei meu celular.

– Isso tem a ver com o Yoshimura?

Franzi o cenho, automaticamente fechando a cara.

– Perdão? – cruzei os braços, balançando a perna para que o nervosismo passasse. Todavia, não obtive sucesso.

– O Thobias...

– Thomas – corrigi-o, delicadamente.

– É, Thomas. Enfim – respirou fundo e coçou as mãos. Logo, as esfregou com brutalidade na região onde um cavanhaque espesso surgia em seu queixo quadrado. – Espero que você não esteja fazendo isso por culpa dele.

Abri minha boca, no entanto, segundos depois desisti de falar o que surgiu à minha mente confusa e atribulada de problemas. Costumava ser paciente e essa convivência com a Iris começava a afetar também a minha eterna serenidade.

– Harper – ele bufou, todavia, prossegui – acredito que isso não seja do seu interesse. Não falo sobre meus relacionamentos nem amorosos, nem de amizades. O que eu te peço é que respeite as minhas decisões.

– Não precisa ficar zangada, laranj... – ele parou, logo assim que seu olhar encontrou o meu, e dessa vez não era nada amistoso. – Elizabeth, melhor assim? – perguntou, acendendo outro cigarro. Eu assenti e Andrew guardou o isqueiro no bolso. – Vou respeitar seja lá qual for a decisão que tiverem tomado. Digo, que você tiver tomado por sua conta própria.

Verão Inabalável (Livro 2) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora