Verão Inabalável (Livro 2) - Completo

Capítulo 35 - Iris Thompson

Esquina com a Madson: 26/08/2015 – Quarta-feira, 10:47 a.m.

Sempre tive um lema bem forte, por mais que minha cabeça estivesse aérea e outros problemas surgissem: nunca deixar nada para depois. Assuntos não esperavam, pessoas não esperavam e muito menos eu devia esperar.

Assim que Louise me falou sobre meu pai, quis correr pelo corredor do dormitório e entrar no meu carro, dirigindo a toda velocidade em busca do meu pai. Meu querido pai, que, ao que tudo indicava, estava passando por um tratamento contra o câncer e eu devia estar ao seu lado para dar conforto a ele, mostrar que ele podia contar comigo nesse momento difícil novamente. Outra situação complicada, outro obstáculo em sua vida, outro momento. No entanto, nada disso importava para mim. Sendo sua filha, era o que precisava fazer, era o que eu devia fazer. Não podia olhar para trás, pros lados ou para qualquer direção senão a dele e às suas dificuldades. Porém, fui obrigada a enfiar o pé no freio e esperar pelo dia seguinte. Louise já me jogava olhares estranhos, como se fosse maluca e precisasse ser internada na primeira cena que desse. E, correr àquela hora da noite era, provavelmente, um motivo para chamar os meninos e atrair a atenção para mim.

Uma me encarando e verificando se estava dormindo já era mais do que o suficiente.

Bufei e lambi os lábios secos. Ainda podia sentir o gosto dela.

Mas, não consegui pegar no sono tão fácil. Eu precisava da minha amiga, aquela com quem poderia contar e nos seus braços, podia encontrar conforto para a noite em que o céu caiu na minha cabeça e o chão fugiu dos meus pés. Foi uma bela rasteira que a vida me deu.

Quantas pancadas mais a vida ainda vai me dar?

Ansiosa para me tranquilizar e encontrar meu rumo, esperei inquieta na minha cama. Virei de um lado para o outro, enquanto Louise demorava a pegar no sono. Roí as unhas, lixei o estrago feito e remexi as pernas dobradas na cama, quando finalmente ela começou a sussurrar algumas palavras sobre um tal de Liam. Essa era a minha deixa para pular da cama e andar devagar, pé a pé, pois mal dava para ver algo no quarto escuro.

Atrás da porta do nosso dormitório ficavam as nossas bolsas e lá também era o local do meu esconderijo. Eu já podia sentir seu cheiro e o efeito que causaria assim que bebericasse seu néctar direto da garrafa de água.

Louise nunca sonharia em perceber o abrigo da minha amiga e, de vez em quando, eu até bebia na frente dela. Uma inocente garrafa de água e ninguém perguntaria; nem ela, nem o Andy e muito menos a Tiffany.

Com a cabeça no lugar, após batizar o chá que tomei hoje cedo, entrei correndo no carro e costurei as ruas do bairro até a casa dos meus pais.

Estacionada numa das avenidas menos movimentadas do bairro, duas ruas antes da casa deles, eu esperava minha mãe ir desbravar o mundo ou sabe-se lá o que ela fazia em suas saídas matinais. Meu pai e eu tínhamos um relacionamento firme e estável, por isso seria mais fácil lidar com o assunto que enrolava em minha garganta quando lembrava apenas com ele. Se ela estivesse junto, ele nem me deixaria terminar e não queria perder a viagem. Ambos sabíamos o quanto ela conseguia ser dramática quando o assunto era sobre saúde e alimentos não-saudáveis. Ela diria que a alimentação precária do meu pai o levou a isso e por causa dessa falta de responsabilidade dele, agora ele pagava caro.

Revirei os olhos.

Era melhor resolver isso sozinha mesmo.

Tamborilei os dedos inquietos no volante, observando atrás dos olhos escuros quem ia e vinha. O chapéu de palha sobre minha cabeça impedia que me reconhecessem, pois também não planejava encontrar os gêmeos. E também pouco me importava se vissem o meu carro, pois aumentaria o volume da música que corria pelo carro. Era agitada, enérgica e pesada, bem do jeito que adorava quando ia à academia para fazer meus exercícios. Eu sentia meus músculos ligados na tomada, prontos para correrem a Meia Maratona de Londres.