Capítulo 27 - Andrew Harper

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A caminho de (...), 1º de Agosto de 2015 Sábado, 02:25 p.m.


Rotinas. Só de ouvir essa palavra meu estômago embrulhava. Todos que me conheciam sabiam que não a apreciava, tanto que variava um pouco para não cair no comodismo.

Certa vez, aos 17 anos, criei uma ideologia — ou talvez fosse apenas a voz da razão querendo brilhar — com a intenção egoísta de fazer algo para entreter-me, tirar-me quase totalmente do devaneio conotativo da vida. Comecei a ficar com garotas distintas ao mesmo tempo, sendo um babaca por mentir ao dizer que eram únicas. Algo horrível de se falar, agora eu sei. A verdade é que qualquer pessoa quer se sentir única, tanto pelo seu modo de ser quanto para alguém. Queremos ser enfatizados, porque se tivemos a honra de estarmos vivos, só o que falta é ser importante para alguém ou para o mundo, pelo menos. Algo comum.

De qualquer forma...

"DISTRAIR. VOCÊ PRECISA DISTRAIR TEU CORAÇÃO", era o que a razão ordenava.

Quando não concordávamos com nosso coração, lutávamos contra ele, certos de que aquilo era louco demais para aceitarmos facilmente. Só que ele não precisava de permissão, nem que fizesse sentido e, até mesmo, de provas para argumentar que nunca esteve tão errado na vida. Ele agia mais rápido que nós mesmos, leigos no amor romântico, para que sentisse o prazer primeiro e desfrutasse de nossas diversas reações.

E foi então que me permiti escutar a voz da razão, que foi justamente o que Richard "ensinara-me" e eu não o obedecia, até o dia em que percebi que havia algo de errado. Comigo. Com o meu coração que gostava de me sacanear, e ainda gosta pelo que notei há um tempo. Ele era tarado por sensações, queria mais, mais que ser o provedor das batidas descompassadas dentro de nós, ele precisava ser o baterista oficial de alguma famosa banda eclética e produzir o "belo" som que costumávamos sentir quando algo que mexia conosco acontecia. Ele era ganancioso, não desistia com destreza.

Se não fosse trágico, eu brincaria dizendo "Este Core é sádico, não é possível que goste tanto de compartilhar a dor com alguém". Na minha cabeça era para ser mais engraçado ou talvez era somente eu querendo que fosse, porque rir de nossas decepções amorosas era o melhor que podíamos fazer após termos nos decepcionado.

"Cara, isso faz muito sentido...", murmurei, arqueando uma sobrancelha e enrugando a testa, enquanto ia para Penworthan visitar o Steven, de carro.

Virei uma rua à minha direita e mais outra na mesma direção em velocidade constante, sem acelerar muito, visto que não estava no clima "extravasar"; só queria relaxar a mente antes das provas. Por incrível que parecesse, estava mais focado, talvez porque a necessidade de distrair o meu coração audacioso dilatava cada dia que se passava.

XXX

— Têm notícias dele? — indaguei, tomando um gole da cerveja na pequena e nostálgica sala do meu amigo, junto com o namorado, Antony.

Não precisei especificar, ele sabia muito bem de quem eu me referia.

Em vez de uma resposta, Steven passou os olhos pelo namorado antes me dizer o que sabia, olhando-me.

— Ele não te ligou nenhuma vez desde que foi pra Liverpool? — retrucou, estranhando.

— É... — Coloquei uma mexa do cabelo atrás da orelha. Ele crescera alguns centímetros. — Nem parece que tivemos aquela briga. Tinha até esquecido.

Steven ponderou por instantes, deslizando o dedo indicador pelas linhas da palma da mão, mordendo o lábio. Se ele continuasse fazendo essas expressões o Antony agarraria seu pescoço e faria coisas que não preferia nem imaginar, na minha frente, já que ele provavelmente estava se contorcendo desde que chegara aqui, reprimindo seus desejos latentes. Ah, não era obrigado a presenciar atos amorosos (fogosos) entre os dois. Apesar de que avisei no dia anterior a este... eles poderiam ter planejado... ok, chega. Limites.

Verão Inabalável (Livro 2) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora