Capítulo 38 - Connor Campbell

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Por não esperar que as meninas chegassem tão cedo, mantive-me tranquilo em um dos sofás de espera. Acontece que não foi uma boa ideia estar não desprevenido desse jeito, pois, ao deslizar meus olhos da revista para o lado de fora do hospital, vi Iris saindo de seu carro com Elizabeth ao seu alcance.

Logo, arregalei os olhos, olhei para a revista em mãos e não sabia se a deixava em cima do sofá ou atravessava a mesa de centro para deixá-la sobre a pequena pilha de revistas dentro de um baú revestido de palha. Dei de ombros mentalmente, deixando a revista em qualquer lugar e fui até Darla, a recepcionista antipática que ninguém gostava, para iniciar alguma conversa.

Iris não podia me ver, ela não sabia que eu me voluntariava neste hospital, e certamente não acreditaria se eu dissesse.

De costas para qualquer um que adentrasse - e não se dirigisse diretamente à recepção -, comentei casualmente sobre a ala pediátrica estar mais calma hoje, nenhuma emergência, nada que me deixasse preocupado com as crianças, o que verdade para alívio próprio. Ela somente concordou com poucas palavras, sem pretensão de prolongar o assunto. Contudo, enquanto a Iris e Elizabeth não passassem por mim, tinha que manter a conversa, no mínimo, linear com Darla.

- Hoje está muito frio - comentei, olhando para fora do hospital com o queixo apoiado no ombro.

Mais alguns passos e elas estariam aqui. Respirei fundo, apreensivo.

- Óbvio. O verão está chegando ao fim.

Olhei para ela, sorri forçado e, quando cogitava puxar mais um assunto, elas entraram às pressas, trazendo uma lufada de ar frio junto. Eu suspirei aliviado, já que não precisaria me forçar a falar com Darla mais. Era desgastante. A recepcionista deu de ombros quando percebeu que eram as duas, o que certamente estranhei, visto que fazia parte do seu trabalho não deixar que visitantes entrassem sem antes preencher uma ficha e ganhar um crachá, indicando que tinha permissão para visitar algum paciente. Então, ou ela recebera um ultimato de demissão e não ligava para mais nada, ou apenas não se importava com o emprego que tinha. De qualquer forma, não era da minha conta e eu estava satisfeito por ela não ter se manifestado contra a invasão das duas.

Disse para Elizabeth vir mais cedo, antes do meio dia, uma vez que o médico que atenderia sua amiga só ficaria aqui até essa hora. Só não imaginava ser tão cedo.

Aconselhei minha irmã que inventasse alguma história para Iris, pois se ela dissesse que a amiga precisava de um médico, a mesma não viria por conta própria. Não me importava qual tinha sido a história, contanto que Iris viesse. Ela tinha de vir, de qualquer maneira.

Me despedi de Darla e segui disfarçadamente as meninas.

A menos de cinco metros de distância, elas viraram à direita, eu desviei de uma enfermeira que saía de uma porta qualquer, e continuei andando.

O que vi foi rápido e tive que agir ainda mais rápido quando elas simplesmente pararam assim que viraram à esquerda. Então eu parei no mesmo instante, torcendo para que alguma enfermeira aparecesse o mais breve possível e eu fingir que estava numa conversa descontraída com a mesma enquanto via a situação se desenrolar e fugir do controle.

Mas não foi exatamente isso que aconteceu.

Era previsível que o que ocorreria saísse do controle. Era da natureza da Iris se recusar a aceitar algo que não lhe era bem-vindo, e eu ansiava por uma reação, qualquer que fosse, para me manter entretido.

Após instantes sem mexer um músculo sequer, ela tomou coragem e prosseguiu, o maxilar mais trincado que há alguns minutos. Me mantive parado no canto da fronteira entre as duas paredes, braços cruzados, cabeça minimamente baixa, esperando o espetáculo. Eu devia ter trago a revista junto, droga.

Verão Inabalável (Livro 2) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora