Capítulo 8 - Andrew Harper

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Bakehouse Mommy's, 29/06/2015 – Segunda-feira, 09:18 a.m.


A vida da Lou era interessante, ao menos sendo telespectador. Um filho para cuidar, pais mortos e apenas a avó viva, três — ou mais, vai saber — caras interessados nela, sendo que a mesma não estava disposta a ter um relacionamento, nem mesmo amar alguém — ainda que ninguém soubesse controlar esse sentimento avassalador. Era, de fato, muita responsabilidade, embora eu não entendesse o motivo dela elevar a quantidade de caras com os quais ficava. Não era exatamente a melhor estratégia para alguém que não queria envolver-se com toda a intensidade que advinha do amor.

Pensando bem... eu já fiz isso na minha juventude, não? Talvez.

Dei de ombros, de qualquer forma.

Ela sabia o que estava fazendo, mas agir como um amigo que somente queria o seu bem, fazia parte de quem eu era.

— Lou — comecei e fiz uma pausa dramaticamente efêmera. — Não estou aqui para me intrometer ou julgar, mas eu amo você e não aguentaria vê-la chateada ou magoada — Peguei uma de suas mãos e acariciei, com os dedos, o dorso dela. — Por favor, só... reavalie essa estratégia de que "só assim não vou me apaixonar", porque tem a possibilidade de ser justamente o contrário — Mirei seus olhos azuis brilhantes. — E essa "possibilidade" é alta.

Estávamos em uma padaria perto da casa de Johann, e assim que encontrei os olhos da franjinha, fui fisgado por um olhar marcante — quase literalmente, pois a dona tinha o contorno dos seus olhos pintados de preto. Ela era a mulher que beijara-me de surpresa na universidade; esqueci seu nome. Tinha a sensação de que estivesse me seguindo, embora não fizesse sentido algum. Ela sorriu, acenou e foi embora logo em seguida.

Franzi as sobrancelhas. "Que estranha", pensei.

Se não tivéssemos apartado a briga feia que resultaria em derramamento de sangue, elas estariam no hospital ou somente com curativos neste momento. A Lou contara o que havia ocorrido, mas preferia ficar neutro, porque conhecia os dois lados da moeda e era incapaz de escolher. Ela era a minha melhor amiga, e não seria por isso que a defenderia, pois havia veracidade nas duas versões e a justiça tinha de prevalecer, sempre.

Coçou a orelha, utilizando a sua mão livre.

— Eu sei disso — murmurou, encarando o seu crumpet mordido. — Pensei que aderindo a esse tipo de estratégia poderia saciar as minhas vontades — completou, um pouco envergonhada.

Recostei-me na cadeira, entrelaçando os dedos e repousando-os sobre a barriga.

— Bem, vendo de fora, você está sendo um tanto egoísta agindo dessa maneira, tanto consigo mesma quanto com eles.

— Eles? — disse, erguendo uma sobrancelha. — Eu já disse. Nunca fiquei com o Connor e também jamais o adicionei à Lista Estratégica — Riu do nome que acabara de dar. — Não sei sobre o que ele pensa – ninguém, na verdade, apesar de que daria para, pelo menos, deduzir — Mudou a direção do seu raciocínio. — Ele, de certo modo, me intriga. E... ah, é! — Lembrou de algo. — Além do fato dele me confundir. É estressante, para falar a verdade. Odeio essas oscilações de atitude dele!

Franzi o cenho e semicerrei os olhos.

— Confundir? Oscilações de atitude?

— É, sabe... se não me engano, ele me enganou três vezes, incitando minha vontade de beijá-lo! — sussurrou, inclinada para mim e voltou ao normal, sentada na cadeira, porém com as mãos apoiando o seu maxilar. — A Iris não sabe de nada! Acusa, sem as provas verdadeiras. — Suspirou, cansada e recostou-se na cadeira. — Mas, não importa o que ela pensa; sei o que faço. E... em se tratando do Connor, só pela brincadeira sem graça dele, dá para perceber que não vale nem mesmo o prato que come.

Cruzou as pernas e os braços.

Era óbvio que a certeza que tinha no tom de voz, derretia entre seus dedos logo após. A porra do amor não traduzia a nossa língua, então não adiantava a razão falar mais alto em determinados momentos, o coração tinha a decisão própria sobre o que fazer, na maioria das vezes.

— Mas isso não a impede de se apaixonar por ele – afirmei o óbvio.

Lou encarou além do vitral que separava o estabelecimento de uma praça aconchegante e movimentada.

— Eu sei que não — respondeu, contrariada.

***

Ficamos em silêncio por tempo suficiente para eu perceber a necessidade de mudar de assunto e distraí-la, após sairmos da padaria.

— Sabe o pai de Johann?

— O que tem ele? — indagou, com os olhos semicerrados devido à claridade do dia.

— Ele cuidou de minha mãe.

Sua feição mudou para consternação, talvez por eu ter de reviver um momento nocivo para mim mesmo com o médico dela.

— É por isso que aparentam ser tão próximos... — murmurou, encarando um ponto cego no céu. Seus olhos procuraram-me. — Era sobre isso que estavam conversando no jardim?

— Ahm... sim.

Ela sorriu, percebendo a minha confusão simultânea.

— Relaxa, não é nada sobrenatural — Ela gesticulava. — Vi vocês quando estava indo para o jardim fotografar, mas mudei de ideia porque não queria atrapalhar.

Foi a minha vez de sorrir para ela, aproveitando para passar meu braço por detrás do seu pescoço e trazê-la para mais perto. Parecíamos um casal de namorados, e não perdi tempo para lhe falar isto. Ela riu e comentou algo. Lembrei de um episódio de How I Met Your Mother, no qual o Ted fez um trato com a Robin e tentei fazer o mesmo com a franjinha. Embora eu não soubesse se me achava minimamente atraente. Apesar disto, ela concordou, então concluí que talvez sentisse algo, mesmo que um breve resquício. De qualquer forma, essa vida era muito relativa; tudo podia acontecer.

— Aquela não é a Iris? — inquiriu, com asco na voz e no olhar.

Semicerrei os olhos, tentando procurá-la em todas as direções.

— Onde?

— Ali — apontou. — Atrás de um arbusto conversando com uma mulher...

Ela livrou-se de mim, chegou um pouco mais perto e procurou um ângulo que pudesse enxergar quem era a tal pessoa.

— Ah, encontrei! — sussurrei para ela.

— Por que está sussurrando? — perguntou, sem me olhar.

— Ué! Não é você que está inclinada e com as mãos nos joelhos? Precisa trabalhar mais a forma como disfarça, franjinha.

Mediante isso, ela voltou ao normal, puxou o meu antebraço e encaminhou-se para o sentido contrário ao qual Iris estava.

— Eu conheço aquela menina! — sussurrou, como se fosse fofoca.

— Eu também conheço, afinal, é a Iris, doidinha.

Ela revirou os olhos.

— Não ela, mas a outra! — Deu um tapa fraco na minha testa.

— Ai! — encenei a dor inexistente. — De onde você a conhece? — indaguei, voltando ao normal em um segundo.

— Ela é uma amiga de uma outra amiga minha, Luna, lá na minha cidade natal. O que será que ela faz aqui? — perguntou mais para si mesma, com uma mão segurando o cotovelo e a outra mão em seu queixo.

— Eu sei lá! Esquece isso, franjinha. Vem, preciso mostrar uma coisa super legal!

Verão Inabalável (Livro 2) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora