Capítulo 9

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O sol nasceu banhando aquela extensão escondida da terra. Rebecka não conseguira mais dormir, como já havia dito antes que não conseguiria. Não que ela não estivesse cansada, mas seus olhos se recusavam a fechar, e toda vez que ela pensava nele sua mente voltava a agir.

Não podia baixar a guarda, disso ela sabia mais do que qualquer outra pessoa. Qualquer vacilo seu desencadearia coisas terríveis e ela não queria nem imaginar que pessoas que ela amava e estimava estavam em perigo.

Sua perna direita ardeu de repente e ela imediatamente se recordou do que seu pesadelo havia falado, sobre uma marca colocada nela. Então ela levantou a barra de sua saia longa e lá estava uma espécie de tatuagem, mas, diferente das outras, essa estava da cor de lava e não parava de cintilar e queimar como uma. Ela olhou para aquilo mais intrigada do que assustada. Não estava gostando nem um pouco do rumo em que as coisas estavam tomando.

A porta do quarto de Celine foi aberta e Rebecka pulou da cadeira em que estava sentada, a saia voltou ao seu lugar e a tatuagem em fogo foi escondida. Quando ela viu quem era é que pôde relaxar outra vez. A pessoa que adentrou no quarto olhou para ela com preocupação.

- Você não parece nada bem. - A pessoa abriu a janela de madeira do quarto e a luz do sol banhou o rosto de Celine, que mesmo assim não despertara. - O que está fazendo aqui? - Os olhos cintilantes dele penetraram a alma da garota.

Ela engoliu em seco antes de se desviar do olhar dele.

- Eu pergunto a mesma coisa. Não devia estar fazendo o seu treino matinal, caçador?

Ele fechou o rosto e Rebecka se encolheu. Olhar para aquele cara era um tormento. Os olhos azuis com mariscados lilases brilhante não paravam de analisa-la, abaixo do olho esquerdo tinha uma tatuagem que sempre deixava Rebecka temerosa e apreensiva só de olhá-la, seus lábios sempre se contraíam antes de falar com ela como se ele quisesse esbofeteá-la. O que para ela não seria nada difícil de acreditar. Ele pegou nos cabelos dourados e rebeldes antes de responder.

- Estou muito ocupado hoje para me preocupar com treino matinal.

O coração de Rebecka apertou e ela teve uma sensação terrível. Ela se levantou outra vez da cadeira.

- O que está acontecendo? - Ela perguntou com a voz quase trêmula.

A cara dela se fechou mais ainda, se é que isso é possível.

- Isso não diz respeito à você.

Rebecka colocou a mão atrás das costas e sentiu o cabo de seu punhal escondido. Ela não estava com paciência para ele naquela manhã.

- Tudo que acontece aqui diz respeito a mim. - Ela hesitou antes de continuar, mas quando a adrenalina penetrou em seu corpo ela criou coragem. - Principalmente depois do que aconteceu comigo nessa madrugada.

Ele ergueu uma das sobrancelhas.

- Do que está falando?

Ela sorriu com o canto da boca.

- Isso não diz respeito à você.

A ira dele apareceu e ele não se controlou. Em um movimento mais rápido do que Rebecka perceberia, ele a jogou na parede, fazendo com que suas costas batessem com força e empurrou o antebraço no pescoço dela, a sufocando. Imediatamente ela tirou o punhal atrás das suas costas e encostou no pescoço dele. Ambos ficaram nessa posição sem ao menos piscar.

- Não tente bancar a esperta comigo, caso contrário eu vou te fazer em picadinhos e ninguém poderá me impedir.

- Se eu fosse você, eu não seria tão confiante assim. Não se esqueça que eu sou a melhor sensitiva daqui e meu poder ultrapassa qualquer coisa que você já viu. É só me provocar mais um pouco.

Ele não hesitou com as palavras dela, ao contrário, apertou o pescoço dela mais ainda, fazendo com que ela nem sequer respirasse. Ela, sem esperar, apertou o punhal e empurrou na pele dele. Um filete de sangue escorreu. O olhar de ambos estavam assassínios. Qualquer movimento errado e já era para um dos dois.

- Parem com isso! - Uma ordem foi ouvida, porém nenhum dos dois largou sua posição. - Estão agindo como duas crianças mimadas. - Celine se levantou com dificuldade da cama.

- Ela me provocou, dominus. Eu não pude evitar. Não com alguém questionando o meu poder. - Ele falou sem desviar os olhos dela.

- Não foi isso que eu te ensinei, Bryan. - Ela falou encarando e depois se virou para a jovem. - E nem à você, Rebecka.

- Ele... não quis... me contar o que... estava acontecendo. - Ela falou com dificuldade, mesmo tentando mostrar que sua situação não estava tão ruim assim.

- Largue-a logo, seu imbecil! Pelos céus!

Bryan, relutantemente, soltou Rebecka devagar. Então ele se ajoelhou na frente de Celine.

- Me perdoe, dominus, sei que meu comportamento foi arrogante e desnecessário, irei me flagelar para pagar por isso.

- Do que diabos você está falando? - Rebecka perguntou achando tudo aquilo muito bizarro.

Celine mordeu o lábio inferior rapidamente e encarou Bryan com uma careta.

- Rebecka, você precisa sair daqui. Tenho que conversar em particular com Bryan.

- Mas...

- Não me desobedeça outra vez. Vá tomar um banho e troque de roupa. Me espere no salão principal de oração. E nem se atreva a me desobedecer. - Ela falou essa última frase com fogo nos olhos e Rebecka percebeu que não teria outra escolha a não ser seguir essa ordem à risca.

Então ela arrastou os pés para fora do quarto e Celine bateu a porta logo atrás dela.

Eu, RebeckaOnde histórias criam vida. Descubra agora