Capítulo 5

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Já havia anoitecido e Ray ainda não havia voltado para casa. Jessica fingia não se importar, mas Rebecka sabia que ela estava preocupada e ansiosa pelo retorno dele. Apesar de toda a indiferença, Jéssica amava muito o marido e não queria abandoná-lo e era isso que irritava sua filha mais velha que sabia que aquele casamento já estava despedaçado há muito tempo. Porém sabia também que não conseguiria fazer a mãe largar aquele idiota que era seu progenitor. Mas ela deixou todos aqueles problemas familiares de lado e focou no que estava no presente.

Rebecka andava de um lado para o outro toda vislumbrada. Fazia tanto tempo que não dava uma volta pela casa que fazer aquilo a assustava e a deixava apreensiva. Parecia que cada detalhe ali era novo na sua visão, o que bem poderia ser verdade.

A mãe a havia soltado das correntes logo que o sol se pôs e havia lhe dado uma roupa nova, um vestido rendado e rodado de cor creme, ela havia tomado um bom banho e sua mãe penteou seus cabelos lisos e loiro como ela costumava fazer quando ela era criança e ela não se atrevia a fazer nenhum movimento diferente ou sequer respirar quando ela passou a escova em seus fios apenas para não estragar o momento.

Não havia tido nenhum sinal de Julie e ela agradeceu a mãe mentalmente por isso. Havia até se esquecido da voz maldita que lhe atormentava pela manhã. Estava feliz demais para pensar nisso.

Depois de perambular pela casa, ela estava sentada em uma cadeira da cozinha, esperando a mãe preparar o jantar reparando em cada movimento dela como se fosse algo esplêndido, quando ouviu um movimento estranho ao redor da casa.

Achou que fosse algo de sua cabeça e tentou ignorar. Apenas tentou.

***

Já era quase meia noite. Jéssica acorrentou Rebecka outra vez com um pesar no coração e pela primeira vez ela não se sentiu excluída pela mãe.

Ela deitou o corpo relaxado no colchão improvisado que sua mãe arranjou e adormeceu. A noite até ali havia sido perfeita para ela. Era o melhor presente de aniversário que sua mãe poderia ter lhe dado.

***

00:00

O corpo de Rebecka começou a se balançar de forma bizarra e seus lábios mexiam freneticamente assim como as pálpebras fechadas. A transpiração se fez presente e o corpo estremecia. As mãos estavam fincadas com força no colchão.

De repente ela parou, os olhos abriram e eles estavam completamente negros e as veias saltadas. Ela sorriu com maldade e quando piscou outra vez seus olhos haviam voltado ao normal, menos a sua reação corporal.

- Finalmente. - Ela disse com a voz alterada, erguendo o tronco.

Olhou para a corrente como se ela fosse um simples e frágil graveto e a quebrou como se ela realmente o fosse.

Se virou para a escadaria de forma assassina e saiu dali com malícia na mente controlada por algo demoníaco.

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Jéssica estava dormindo com Julie em sua cama quando ouviu a porta sendo aberta. Achou que fosse Ray chegando em casa, mas notou que o corpo era esguio demais para ser ele e alguns centímetros mais baixo também.

Quando percebeu que era Rebecka ela já estava respirando na sua cara. O seu hálito era quente. Ela ouviu a filha dizer:

- Você já atrasou demais os nossos planos. Está na hora de dar um basta. Ela precisa seguir em frente. - Depois disso ela apenas sentiu mãos magras agarrarem seu pescoço com força. Tentou se desvencilhar do aperto, mas Rebecka estava com uma força sobrenatural que a assustou.

Ela tentou gritar, mas o que conseguiu emitir foi apenas um ganido. Julie parecia dormir como a uma pedra, pois mesmo com Jéssica batendo os pés no colchão ela não fazia movimento algum, se Jéssica observasse bem, parecia até que a menina estava morta.

Eu, RebeckaOnde histórias criam vida. Descubra agora