Capítulo 2

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Somente quando Jéssica chegou no outro quarto que ela soube porque seu marido a chamou: Julie não estava bem.

A garotinha estava pálida e sua respiração estava fraca, seus olhos estavam fechados e vez ou outra eles estremeciam.

Jessica analisou a sua pequena com cuidado e olhou decidida para o marido.

– Nós precisamos levar ela para o hospital.

– Não podemos deixar a outra sozinha em casa. – Ele falou impaciente. – O que você acha que aconteceria se deixássemos aquele demônio sozinho?

Jéssica respira fundo procurando manter a calma e pensar racionalmente. 

– Então eu vou levar Julie para o hospital e você fica aqui com a Rebecka para vigiá-la.

– Não! Eu levo Julie para o hospital e você fica aqui com aquele demônio que você ainda chama de filha.

Ele se levantou com a pequena Julie nos braços e se encaminhou até a porta. Jéssica estava indignada.

– Você fala como se ela não fosse sua filha. – Havia muita dor em sua voz.

– A minha filha morreu há muito tempo. – Ele falou com desprezo e deixou Jéssica sozinha no quarto.

Por que sua vida mudou de forma tão trágica?

∆∆∆

Jéssica se lembrava bem de quando Rebecka tinha a idade que Julie tinha naquele momento.

Era uma garotinha tão delicada, tão doce, era impossível alguém vê-la e não se encantar pelo seu jeito. Mas de alguma forma aquilo mudou.

Rebecka passou da fase de doçura para a de insanidade logo quando tinha seus 7 anos. Começou a falar coisas sem sentindo pensando que as outras pessoas podiam entendê-la e quanto mais tempo passava, mais difícil se tornava conviver com ela.

Aos 8 anos já não dava mais de leva-la para a escola por que os pais estavam assustados em ouvir pelos seus filhos que havia uma coleguinha falando a forma que iria matar eles ou simplesmente como eles iriam morrer (se era acidente, se por afogamento, enfim).

Aos 9 Rebecka matou seu hamster e disse que aquilo fora um acidente. Jéssica preferira acreditar, mas Ray, seu pai, já não via mais a filha da mesma forma.

E mesmo com Jéssica ter descoberto que estava grávida outra vez, não amenizou o coração de seu marido que já ficara sombrio e frio.

Nesse meio tempo que Jéssica estava grávida, Rebecka matou o gato que eles criavam. O estrangulou até a morte e depois saiu o arrastando pela casa pelo rabo como se ele fosse algum animal de pelúcia. Tinha marcas de unhas em seus braços por que o gato tentara escapar, mas Rebecka não se importara com isso. "Nem dói" Ela dizia sempre que alguém tocava no assunto.

Quando Julie tinha 2 anos de idade, Jéssica flagrou Rebecka tentando sufocar a irmã debaixo do travesseiro, mas isso ela nunca contara ao marido e Julie talvez não se lembrasse do ocorrido.

Quando Rebecka completou seus 13 anos, seus pais a levaram ao padre que disse que não poderia fazer um exorcismo na menina, pois o que a controlava era poderoso demais para suas capacidades. Mas deu um conselho: "A amarrem toda noite antes de dormir, pois o demônio vai tentá-la a matar vocês. "

Jéssica não queria fazer isso, mas o marido insistiu tanto que ela concordou.

Conversaram longamente com Rebecka antes de fazerem o que tinham que fazer e ela parecia uma boneca olhando para eles como se eles não tivessem significado algum em sua vida. Até que quando seu pai terminou seu discurso, ela se virou para a mãe e disse:

– Vai mesmo permitir que ele faça isso comigo?

Jéssica engolira em seco antes de responder que sim. E esse fora um dos piores erros de sua vida.

A agressividade de Rebecka aumentou gritantemente. Ela só ficava quieta quando estava ao lado das mãe e bem longe do pai e da irmã.

Jéssica passou a mentir para a filha, dizendo sempre que na manhã seguinte ela a soltaria. Mas o problema era que ela não soltava. Só o fazia para a filha fazer suas necessidades fisiológicas. Depois disso era a corrente de novo. 

Cada dia era um inferno para Jéssica e ainda mais agora que o tolo do seu marido não deixara ela levar sua menininha para o hospital. Era ela quem cuidava de Julie e Rebecka todo santo dia. Era ela quem tinha que ouvir Ray xingar e dizer que qualquer dia desses iriam dar um sumiço em Rebecka.

Era ela que tinha que se ver definhar a cada luta com sua menina.

E pelo andar de tudo isso ela via uma coisa: a sua vida não tinha salvação nem redenção.

Eu, RebeckaOnde histórias criam vida. Descubra agora