Capítulo 14

60 10 2
                                    

Rebecka se sentia pesada, havia um zumbido distante que estava incomodando os seus ouvidos e uma névoa enegrecida diminuía sua visão. Seu corpo estava sendo balançado e ela tentou ao máximo sair daquele transe horrível.

Quando a névoa em seus olhos sumiu, ela percebeu tochas acesas a sua frente. Percebeu também que estava sendo carregada, ela viu umas costas largas, e tinha um braço forte e moreno a segurando, ela estava apoiada no ombro de alguém.

Tinha uma marcha bem sincronizada e apressada e ela viu rostos assustados e suado a observá-la: as sensitivas corriam como se suas vidas dependessem disso, estavam bastante ofegantes e algumas delas ainda estavam vestidas com roupas de dormir bastante transparentes.

Existiam vários guerreiros do templo dos lados das sensitivas, eram eles que seguravam uma tocha em uma mão e uma espada na outra.

Todos estavam correndo por um túnel. Um tremor grande se fez presente acima deles. Rebecka tentou olhar para trás com o intuito de ver o rosto de quem a estava segurando. Ela suspira quando percebe quem é.

– O que está acontecendo? Para onde estão nos levando? – Ela pergunta com certa impaciência.

Ela viu de lado os dentes alvos do moreno que a segurava.

– Ah, então a bela adormecida resolveu acordar...

– Me coloca no chão, Finn. – Ela ordena já se irritando. Finn sempre gostara de tirar uma com a cara dela, principalmente na época em que ela chegara no templo.

– Me deram ordens para não fazer isso. – A expressão dele ficou sério como um bom soldado faria.

Rebecka torna a olhar para as sensitivas que estavam às costas de Finn e viu o sofrimento estampado em suas faces em cada passo delas. Rebecka torna a tentar olhar o rosto de Finn.

– Existem garotas que precisam mais ser carregadas do que eu. – Ela comenta com o intuito de se livrar do guerreiro.

Bryan me deu ordens especificas de que eu não posso colocar você no chão enquanto estiver segura. Fico me perguntando o motivo dele... – Ele falou essa última frase em um tom de deboche.

Maldito Bryan. Rebecka pensa. Ela já sabia para onde aqueles guerreiros estavam levando todas as sensitivas: O abrigo da deusa.

O abrigo da deusa era uma câmara com propriedades místicas, em que demônio algum não conseguiria entrar, esse lugar foi criado pelo maior líder caminhante da história: Camel. Ele fez esse espaço depois de um grande ataque de demônios na sua época com o intuito de proteger algumas relíquias.

Rebecka torna a sua atenção à Finn.

– É melhor me colocar no chão, Finn. Você não sabe do que eu sou capaz quando estou irritada.

Ele gargalhou com divertimento.

– Nossa, Rebecka. Agora eu fiquei com bastante medo. Ou será que fiquei excitado? – Ele volta a seriedade. – Fica quietinha que nós estamos quase chegando ao abrigo.

– Você está ferrado quando me colocar no chão. – Ela fala entredentes.

###

Bryan estava responsável pela proteção do corpo mortal da deusa. Qualquer movimento suspeito era repelido com ataques dele e de seus homens. Porém enquanto os ataques demoravam ele se lembrava do que havia conversado com Celine em relação ao corpo da deusa. Ele a havia questionado se não seria melhor levar o corpo da deusa para o abrigo junto com as sensitivas. A resposta da sua dominus o surpreendeu:

O último pedido de Camel para os jovens caminhantes antes de ir para o seu quarto e dormir em um descanso eterno foi: "nunca escondam o corpo de Gaia, ela tem que ver o mundo do lado de fora, se for necessário destrua seu corpo, mas nunca o esconda ou o tire do círculo de pedra". Ninguém entendeu seus motivos, mas todos o respeitaram. Então Bryan, se vocês não conseguirem proteger o corpo dela, o queimem.

Com grande pesar ele concordou com que sua líder disse. Ele tentaria ao máximo não chegar a esse ponto. Mas não sabia se seria capaz de tamanho sacrilégio.

###

Celine jogou longe um demônio de pele escamosa que tentou matá-la. Ela já estava fadigada com aquela repetição de ataques. Parecia até que eles eram programados para agir daquela forma.

Mais um correu em sua direção, as garras amoladas miravam sua garganta, mas ela o repeliu com a mesma facilidade anterior.

Ela estava na entrada do túnel que já estava fechado. Celine queria garantir que Rebecka e as outras ficariam seguras. Ao seu redor o fogo se alastrava, ela ouvia a cacofonia de espadas e gritos desesperados para todos os lados. A situação não estava das melhores para eles e a destruição total era iminente.

Estava se perguntando como Bryan estava se saindo. Sabia que podia confiar nele, mas não sabia se ele sairia vitorioso em sua missão. Mais um demônio a atacou, ela decepou sua cabeça antes das mãos dele a alcançarem.

Uma força negativa enorme a acometeu e ela sentiu suas pernas tremerem. E ela sentiu como se sua vida não tivesse mais sentido algum.

Ela já havia sentido aquilo antes... quando salvou Rebecka na madrugada.

Henri estava por perto.

E foi naquele instante que Celine realmente ficou preocupada.

Ela começou a correr em direção essa força sombria.

Iria tentar guiar ele para outra direção, ou ao menos iria ganhar algum tempo.

###

Henri quebrava o crânio de um soldado humano como se estivesse quebrando nozes. O homem gritava de forma arrepiante até seu corpo desfalecer. Aqueles seres eram tão frágeis para enfrentar o Senhor da segunda camada do Sheol que ele já estava se entediando.

Aquela carnificina era pouca para ele, ouvir aqueles gritos desesperados não era o suficiente.

Ele queria mais.

Muito mais.

###

Rebecka ainda estava se reclamando para ver se Finn se irritava e a colocava no chão, mas parecia que a paciência dele era infinita e ele zombava mais ainda dela.

Ela percebeu que não tinha chance alguma de deixar ele irritado quando viu a porta de pedra com várias runas do abrigo. A porta tinha um tom azul claro e parecia emanar luz própria. Os soldados que estavam mais à frente que eles abriu a pesada porta e algumas sensitivas começaram a entrar.

Finn riu.

– Enfim chegamos, Rebeckinha. Não precisa mais se preocupar.

– Vai se ferrar, Finn! – Ela grita enquanto eles passavam pela grande porta.

Aquele lugar por dentro parecia um museu. Em cada canto de parede de pedra que havia ali, tinha uma runa desenhada. Espadas enferrujadas também estavam nas paredes, assim como pequenas esculturas, pedras de cores variadas, lanças, roupas puídas e velhas e grandes baús nos chão.

As sensitivas foram aglomeradas nos tapetes de pele que tinha no local. As tochas do local foram acesas, mesmo não sendo necessário já que aquele lugar tinha uma luminosidade própria.

Rebecka foi colocada no chão.

Ela olhou com raiva para Finn.

A grande porta de pedra foi fechada.

Eu, RebeckaOnde histórias criam vida. Descubra agora