10 ANOS DEPOIS...
Rebecka corria com bastante agilidade pelos degraus da igreja, teve que quebrar um ou dois vitrais para conseguir entrar ali e não iria permitir que aquele pau-mandado fugisse de seus dedos, não depois de já ter corrido tanto para aquela finalidade.
Então aumentou o passo e o ser insignificante à sua frente fez exatamente o mesmo.
Ele já era o terceiro demônio só naquela noite, ela estranhava sobre o que poderia estar acontecendo no Sheol para ter tanto movimento do lado de fora dele. Naquele mesmo dia ela havia topado com um transfigurentur durante o dia, o dia, nem ela mesma poderia acreditar naquilo se alguém simplesmente falasse para ela. Eles não tinham o costume de agir daquela forma tão... Desesperada e era isso que a intrigava.
O demônio avançou pelo pátio da igreja fechada e os passos dos dois ecoaram no ambiente escuro e tenebroso, Rebecka nunca gostara desse tipo de lugar e parecia que seu "amiguinho" também não aprovava, pois não parava de resmungar e blasfemar enquanto olhava para trás para se certificar que Rebecka não o seguia mais.
Ela aproveitou esse momento de distração dele para lhe arremessar uma adaga mística no tornozelo, ele urrou de dor e se desequilibrou, caindo de cara no chão.
Ele tentou se levantar, mas Rebecka já havia desembainhado a katana e colocado a lâmina afiada no pescoço dele.
–O que está acontecendo no submundo para que os cães sarnentos saiam do covil? – Ela perguntou esperando por qualquer movimento de ataque vindo dele.
Ele não se atreveria a sequer engolir uma saliva, uma linha fina de sangue escorreu de seu pescoço. Olhando para ele, parecia muito que era um ser humano como outro qualquer, mas era aí que estava o engano.
– Não vai ter o que procura, não comigo, caçadora de almas. Me mate agora, nesse templo tão sagrado para os homens...
– Não tente incutir piedade em mim pois isto tudo não faz efeito algum em meu ser. – Ela apertou mais a katana na pele dele rasgando ainda mais. – O que está havendo no Sheol?
– Me mate de uma vez caçadora, não vou falar.
Rebecka deu de ombros.
– Que seja feita a sua vontade então. – Ela cortou o pescoço dele e a cabeça rolou pelo chão bem encerado.
Os responsáveis pela igreja dariam um jeito de limpar aquilo, eles sabiam dos trabalhos dela, apenas não aprovavam seus métodos violentos.
O corpo do demônio começou a se deformar e sua forma demoníaca surgiu depois da pele fazer uma decomposição instantânea.
Rebecka virou as costas para o corpo e refez o seu percurso no vitral quebrado da Virgem Maria e o menino Jesus.
***
Algumas horas depois e Rebecka estava pisando nas poças de lama, sentindo a água da chuva encharcar suas botas pretas de cano longo, ela cobrira a cabeça com o capuz de sua jaqueta, mas aquilo não adiantara muito. Então a única coisa que ela poderia fazer para fugir daquela chuva era acelerar o passo e foi o que ela fez.
***
Rebecka se sentia cansada e já não via a hora de chegar na passagem secreta. Logo que avistou a montanha aonde tinha tal passagem, ela se animou mais.
Quando se aproximou da grande rocha, empurrou os lugares certos dela e a pedra enorme abriu e deu lugar a uma passagem estreita. Rebecka a atravessou e logo que passou a "porta" se fechou atrás de si.
A paisagem a sua frente ao invés de ser algo cavernoso, se abria para um céu estrelado, como se a montanha ao invés de ser uma montanha, fosse uma bacia, havia inúmeros tipos de árvores ali e desde que Rebecka chegara ali aos 15 anos de idade, ela se sentia bem em estar naquele ambiente reconfortante.
Pessoas que não faziam parte do grupo, não conheciam aquele local e não sabiam nada a respeito dele, não era visível em satélite algum e muito menos a olho nu, para a visão de todos aquilo era uma montanha, isso por que era protegido por uma magia antiga.
Rebecka atravessou o pátio circular em silêncio em direção ao seu cômodo de descanso. Já era quase três horas da manhã e ela não queria ser pega fora da cama já que não era permitido que nenhuma das sensitivas ficassem acordadas tão tarde e fora do santuário, e quem era pega fazendo tal ato era passiva de uma punição severa. Rebecka havia passado por várias daquelas punições, mas sempre que estava livre delas dava um jeito de sair pela madrugada quando sentia que devia.
Naquele momento ela já estava em um dos corredores dos quartos das mulheres, quando foi pega no ato por Celine, a mulher que a salvara na floresta há 10 anos.
Celine estava na mesma postura de sempre quando estava zangada: os braços cruzados, a cara estava amarrada, o quadril estava jogado para um lado e o pé esquerdo não parava de bater no chão, ela fazia este último movimento pois sabia que Rebecka odiava aquilo, talvez fosse uma forma dela se vingar da outra por fazer ela passar tanta raiva.
–O que está fazendo fora da cama tamanha três horas da manhã? - Ela perguntou e em seguida contraiu os lábios.
– Um demônio estava causando problemas e eu achei...
– Caçar demônios é trabalho dos caçadores, você é uma sensitiva Rebecka, não pode arriscar que uma entidade tome posse de seu corpo e atrapalhe todos os planos corretos para seus poderes por causa de sua teimosia. – Celine suspirou antes de prosseguir. - Você vai ser punida por isso. - Decretou, cansada e sem vontade alguma. Rebecka sabia que ela já estava cansada de falar aquela frase para ela.
Na verdade, Rebecka achava incrível que Celine ainda não tenha a expulsado dali depois de tanta teimosia.
– Quando vai começar dessa vez? - Rebecka perguntou sentindo seu corpo pesar e o sono chegar devagar.
Celine novamente suspirou. Já não era mais tão jovem como outrora, estava quase chegando aos seus 57 anos e todo aquele trabalho ao longo dos anos a estavam cansando.
– Você precisa se aplicar as nossas regras assim como as outras pessoas desse lugar, Rebecka. Se você não se aplica, acaba morrendo nesse mundo obscuro.
– Celine, ninguém, nunca, se manteve vivo por que seguia as regras. Vários dos nossos já morreram...
– E parece que você pretende ser a próxima. - Celine esfregou os olhos cor de mel. - Vá para o seu dormitório, eu vou te chamar quando for a hora da sua punição.
Rebecka não respondeu nada, apenas continuou caminhando até o seu quarto. Chegando lá ela apenas conseguiu tirar as botas encharcadas e sujas de lama e se jogar na cama macia.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Eu, Rebecka
Paranormal⚠Atenção⚠: Para melhor entendimento leia: Os caminhantes ... Bastava se distrair um pouco e já era. A vida de Rebecka era um emaranhado de problemas. Seus pais já não suportavam o que vinha acontecendo na vida da sua filha mais velha e queriam dar...