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Domingo, 24 de janeiro de 2021

Quantas vezes pensamos "Ah, se eu pudesse começar de novo, já tinha começado", a verdade é que eu posso e ainda assim continuo presa ao passado, mas por medo de avançar.

Tenho a plena consciência que começar de novo não é necessariamente começar completamente de novo.
A vida já me deu várias oportunidades para recomeçar, já me deu oportunidade de seguir novos caminhos e acima de tudo deu oportunidade de me encontrar mais do que uma vez.
Todas essas oportunidades chegaram sempre de formas trágicas, de roturas que tive na minha vida, de mudanças dramáticas, de perdas, de rejeições, ou até mesmo de doenças. Só criamos coragem depois de perdemos o rumo, de perdermos o chão.
Inventar outro padrão de vida, não é necessariamente renunciar o outro antigo. Sei que antes de começar tenho que reconhecer os erros, os meus e os das pessoas que me rodeiam. Criar novos padrões é permitir-se inclusive novos enganos, erros, fragilidades, mas não os mesmos.
Só quem viveu bem as suas perdas e enganos pode começar novo. Só quem conhece o peso do fracasso, da solidão e da esperança perdida pode trocar de pele. Como disse um filósofo: "O que não me mata, fortalece-me". Eu posso, mas ainda estou muito acorrentada ao meu antigo padrão de vida...

" Vamos passear"- o Afonso estava há mais de uma hora atentar que eu saísse do quarto, antes adorava sair agora fico-me mais por casa, porque tudo me lembra o André

" Oh Afonso, não quero mesmo"- suspirei baixo para não acordar o meu filho que dormia no quarto ao lado

O Afonso Miguel Valente da Silva tem sido uma grande pilar na minha vida. Sempre pensei que ele iria acabar por desistir de nós passado pouco tempo de o seu irmão já não fazer parte das nossas vidas, mas pelos vistos não. Até veio viver connosco para tomar conta de nós e para estar mais perto da faculdade... Sim, ele anda na faculdade, a tirar gestão empresarial, está quase a acabar. Orgulho...

" Anda lá, almoçamos fora e depois vamos passear com o pirralho"- ele estava visivelmente irritado comigo

Realmente durante estes quase 3 anos que se passaram, fizeram-me percebe o quão a vida pode ser injusta, mas também pode ser de inteira felicidade. A minha nova vida começou repleta de dor, de perda, de angústia e de todos os sentimentos piores inimagináveis. Aprendi a valorizar a felicidade, não a felicidade a longo prazo, mas sim a felicidade a curto prazo. O meu erro foi mesmo esse, pensar que seria feliz para sempre... Não fui, mas a dor trouxe-me o melhor de mim... O Lourenço completa os meus dias, completa a minha felicidade, completa a minha vida, faz-me uma mulher feliz a todos os níveis...

" Constança??"- o Afonso abanava a mão à frente da minha cara

" Vamos sair"- levantei-me da cama a correr e olhei para o Afonso seriamente, ele apenas me observava atentamente 

" Agora vai lá meter-te pronta para irmos dar uma volta a um sítio qualquer"- o Afonso sorriu e saiu do meu quarto

Fiz toda a minha higiene pessoal. Preparei tudo para dar banho ao Lourenço que ainda dormia serenamente. Este meio quilo de gente nunca me deu uma má noite desde que nasceu, mas agora já está tão grande, vai fazer três aninhos.

" Filho, vamos lá acordar"- ia depositando beijos pela face do Lourenço e ele mexia-se ensonado-" O Tio Afonso está à nossa espera para irmos passear"- vi-o a levantar-se rapidamente

Ele tem uma paixão pelo Afonso e o Afonso por ele. Andam sempre a brincar os dois juntos, sempre na palhaçada. No outro dia cheguei a casa e estavam eles todos sujos de ovos e farinha, porque andaram a fazer uma guerra de comida como viram lá nos desenhos do Canal Panda. Às vezes o Afonso consegue ser mesmo a criança maior.

I CAN'T-IIOnde histórias criam vida. Descubra agora