Segunda, 17 de maio de 2021
André on
Estava na cama à muito tempo a olhar para as paredes brancas que revestiam o quarto. A minha noite foi passada em branco, o facto de ter voo para hoje deixa-me sem sono e deixa-me presente um sentimento de agonia. Vou embora sem conseguir que a Constança saía daquele quarto, vou embora sem saber como é que ela vai ficar, como é que vai ficar o meu filho. Eu vou-me embora de coração nas mãos...
" Papá"- ouvi a doce voz do meu filho a gritar por mim, já deve ter acordado
Fiz o caminho até ao seu quarto incrivelmente decorado pela mamã dele... Lá estava ele a olhar para a porta sentado na caminha com lençóis azuis cor de céu.
" Bom dia, já acordaste??"- senti-me ao lado dele na cama e dei-lhe um beijo demorado na testa
" Tenho fome"- a sua voz era tão ensonada, eu ri-me porque fez-me lembrar o Afonso
" Então vamos lá fazer o pequeno almoço para ti"- peguei nele rumo à cozinha
O pequeno almoço foi passado entre gargalhadas e mais gargalhadas, mas em mim tinha presente uma dor, dor essa que só iria cessar quando eu contar ao meu filho que hoje o vou ter que deixar novamente para trás. Não por tanto tempo, mas o tempo suficiente que me faça morrer de saudades por dentro.
" Lourenço, o papá hoje vai ter que viajar"- as palavras que eu não queria dizer sair de uma forma muito rápida da minha boca
" Eu quelo ir"- o meu filho olhou para mim com um sorriso rasgado no rosto
" Não podes, a mamã está aqui e tu tens que ficar com ela"- falei de uma forma simples para tentar explicar-lhe da melhor maneira
" Mas eu quelo ir, a mamã vêm conoco"- a ignorância de uma criança é tão pura que chega a dar dó
" A mamã está doentinha não pode viajar agora"- foi a melhor desculpa que arranjei para tentar explicar a situação
"Oh"- o Lourenço olhou-me triste e saiu em direção às sala de estar
" Ah, sempre vais embora??"- dei uma salto ao ouvir a tão inesperada voz do Afonso-" Covarde"- ainda o ouvi a falar baixo, presumo que não queira que eu ouvisse
" Não me venhas chatear, por favor"- falei com a lágrima nos olhos e levantei-me repentinamente
Como é que eu demorei tanto tempo a perceber o quão me faz bem estar aqui, no Porto?? Eu já nem me lembrava do quão bom e ter quem amo por perto, nem me lembrava do que era ouvir a minha língua mal saísse de casa, nem me lembrava de como a comida era boa, nem me lembrava do quão as pessoas era simpáticas umas com as outras, já estava esquecido das minhas origens e agora que me voltei a relembrar não quero outra coisa...
" Filho, anda cá"- chamei o meu pequeno depois de me ter sentado na poltrona individual e logo o vi a vir até mim-" Desculpa, mas o papá não te pode levar, mas promete que um dia vais comigo"- sentei-o no meu colo e tentei falar de uma forma meiga
" Está bem, papá"- o meu filho deu-me um beijo e foi brincar novamente
Fui rumo ao meu quarto, ia começar a preparar a mala com os pertences que fui adquirindo durante a minha estadia cá. Fiz tudo o que tinha a fazer para a viajem...
" A que horas tens voo??"- o Afonso entrou no quarto sem bater à porta
" As 18h e 45min"- suspirei pesadamente
" Eu levo-te"- o Afonso surpreendeu-me com as palavras proferidas por ele
" Não precisas, posso apanhar um táxi e além disso a Constança não pode ficar sozinha"- não queira que o meu irmã de sentisse obrigado a ir levar-me
" O pai da Constança vai ficar com ela, eu já falei com ele e está tudo combinado, eu e o Lourenço vamos levar-te"- virou costas e eu fiquei pasmado a olhar para ele, mas ainda o vi a olhar para trás e a dar um leve sorriso, no fundo aconchegante
Parece que não, mas este acto já me deixou mais "motivado" para ir, saber que os laços que rompi há uns anos atrás se estão a revitalizar é gratificante. Sim, foi um simples... Mas um ato que me deixou sem reação, eu não estava minimamente à espera depois dos pequenos atritos que tivemos...
" Posso??"- abri a porta do quarto da Constança e ela estava deitada sobre a cama, a dormir calmamente, pelo menos já é um começo ela ter um sono tranquilo, sem pesadelos-" Eu vinha despedir-me, mas já vi que vai ser em vão, mas bem espero que durante o tempo que eu estiver fora tu recuperes, não mereces nada disto para a tua vida e além disso o Lourenço precisa tanto da mãe, não me vou alongar muito, também estás a dormir por isso não vale muito a pena estar aqui a falar e a falar"- parei de lhe fazer festas nos rosto já com as lágrimas nos olhos, levantei-me, dei-lhe um beijo na bochecha-" Amo-te tanto"- dei-lhe mais um beijo e voltei para o piso debaixo
" Papá, anda bincar comigo"- o Lourenço começou a falar mal me viu a descer as escadas
" Eu vou, mas tens que dizer "brincar" "- tentei reforçar as dicção da palavra
" Bincar"- o meu pequeno voltou a dizer incorretamente
" Filho, brin-car"- voltei a reforçar
" Brin-car"- o Lourenço finalmente soletrou direito
" Boa"- peguei no meu filho e atirei-o ao ar, ele gargalhava alegremente

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I CAN'T-II
RomanceA minha vida parece mesmo injusta ou talvez seja mesmo... Eu apostei tudo na pessoa errada, esperei amor de quem não me pode dar, chorei por quem nunca devia ter chorado, e sempre esperei e espero as mudanças que nunca virão. Tomei algumas decisões...