I CAN'T-II

35º

Quinta, 3 de junho de 2021

André on

" Foi um erro, nada vai mudar por causa de um ato irresponsável da minha parte"- falava rudemente e o meu coração apenas apertava ao som daquelas palavras-" Não pensei em nada naquele momento, mas agora que tenho consciência consigo perceber que há imagens que nunca vão sair da minha cabeça, imagens essas que me impedem de continuar"- suspirou e apenas estava ali a encarar-me, fiquei completamente sem chão

" Tu realmente és tão egocêntrica"-  gritei-lhe com toda a minha força naquele momento, sinceramente já não era muita, vi que ela se encolheu acho que sentiu medo- "Nunca pensaste que para mim aquilo estava a ser importante?? Nunca pensaste que estava há tanto tempo à espera daquele momento?? Eu amo-te com todas as minhas forças e tu apenas gozas com a minha cara?? Não tinhas esse direito Constança, porque é que eu voltei?? Nunca devia ter voltado por ti, voltei e fazes-me isto?? Descartas-me como queres e bem te apetece?? Não és a Constança que eu conheci"- chorei admito que chorei, podem achar paneleiro um rapaz chorar, mas eu amo-a, só me lembro de sair completamente desnorteado 

Cada vez me apercebo mais que as palavras têm um "peso", pode não ser um peso físico, mas sim um "peso" que é capaz de destruir. Desta forma são as palavras que definem a nossa vida... Tomamos atitudes devido as palavras proferidas, neste momento posso dizer que devemos mesmo pensar antes de falar. Porque um palavras destrói... Uma vez alguém me disse, esse alguém foi quem me tirou tudo neste momento, então ela disse " As palavras são levadas pelo vento, ficam incorporadas nas nossas mentes e no nosso coração e assim torna-se difícil de ultrapassar". O futuro depende mesmo das nossas palavras, tenho plena consciência que não posso falar muito deste assunto, porque em tempos eu próprio as usei  de uma forma destrutível contra muitas pessoas que amava e amo. Mas agora vejo-me no lugar delas e sinto a dor que elas devem ter sentido naquele momento, é completamente uma dor que corroí. Agora percebo este poder tremendo que carrega as palavras. Sei que podem edificar, mas acho que também só nos lembramos delas quando são usadas para destruir. Basicamente duas balizas de comunicação vão moldando as nossas vidas. Há palavras que deviam ser escondidas num baú fechado a sete chaves, porque não edificam e sim magoam. Só queria ter ouvido da boca dela, palavras que me mimassem, que me confortassem, no fundo queria que me aquecesse o coração depois deste tempo todo sem ela.  

Dei por mim estava à porta de casa de minha casa, mas sinceramente não quero entrar... Todos os cantos me lembram os momentos que partilhei com a Constança, desde os momentos de pura intimides até aos momentos de pura partilha. Por muito mais que aconteça coisas que nos fazem querer avançar, há coisas que nos impedem completamente de dar a batalha por vencida. Acordei dos meus pensamentos com o telemóvel a vibrar no meu bolso, tirei-o sem deslocar os olhos da estrada, li a palavra "Mãe" no visor.

" Filho"- mal atendi o telemóvel  voz chorosa da minha mãe soou pelo mesmo 

" Que se passa??"- nem tive tempo de a saudar, a minha preocupação falou mais alto 

" O teu pai deu entrada no hospital"- ela estava a chorar muito- " Estou aqui à espera, mas ainda não me disseram nada e não consigo falar com o teu irmão"- suspirou tristemente 

" Onde é que estás??"- a preocupação tomou conta do meu corpo 

" No hospital da Constança"- começava a ter a respiração mais calma, inverti o sentido de marcha e ouvi muitas buzinadelas por parte dos outros condutores

" Eu vou falar com o Afonso e daqui a 10 min estou ai"- conduzia o mais rápido possível, o dia não podia ter começado da melhor maneira