I CAN'T-II

17°

Segunda, 3 de maio de 2021

Constança on

Ouvi alguém a bater à porta, mas apenas continuei de olhos fechado. Não estava com paciência para aturar seja quem for. Ouvi passos na minha direção e a cama cedeu, sinal que alguém de sentou...

" Porquê a ti??"- ouvi um chor a minha mão foi entrelaçada noutra... ALTO E PARA TUDO, É O ANDRÉ??-" Porquê e que eu tive de estragar tudo?? Podias ser tao felizes agora e nada disto teria acontecido, desculpa "- É MESMO ELE... O QUE ESTA AQUI A FAZER?? SERÁ QUE ELE SABE O QUE ACONTECEU??-" Errei muito, fiz escolhas que me decepcionam a cada dia que passa e sinto-me frustrado cada vez que vejo uma foto tua ou do Lourenço"- respirou, a sua voz era de pleno choro, estava a matar-me-" Espero que um dia me dês a oportunidade de voltar para ti, a oportunidade de recomeçar ao vosso lado, mas sei que vai ser difícil e já me mentalizei disso"- NÃO ME PODES PEDIR ISSO... JÁ TIVESTE A TUA OPORTUNIDADE-" A vida não pode ser vivida em função do passado, mas eu tenho a perfeita noção que o passado ainda atormenta os teus dias"- VAI EMBORA... NÃO TORNES ISTO MAIS DIFÍCIL -" Eu sofri e sofro muito, mas não posso comparar a minha dor à tua, tu sempre sofreste a drobrar"- senti o seu toque no meu rosto, arrepiei-me, mas não dava para vwe porque estava coberta-" Todos os dias relembro-me dos bons momentos que passamos juntos"- chorava cada vez mais e mais -" Desculpa, eu sou o maior culpado por estares aqui assim hoje, se eu não te tivesse feito o que fiz a esta hora podíamos estar a passear os três por Madrid "- ele pode ser o culpado de muita coisa, mas de eu estar aqui deitada certamente não é mesmo

Não podia continuar aqui a ouvi-lo lamentar-se, estava a das ainda mais cabo de mim ouvir todas as suas palavra.

" Afonso "- a comecei a mexer-me, a minha voz saiu triste e quase inaudível

" É o André "- mal disse ele falou, tive que fazer um pouco de teatro para ele não perceber que ouvi tudo, por isso fiquei a encara-lo de uma forma surpresa

" O que estás aqui a fazer?? "- sentei-me rapidamente na cama, quase sem forças para falar

" Eu vim..."- ele estava tenso e nervoso, olhava-me triste e com pena-" Eu vim ver-te"- disse finamente passado uns segundos

" Vai embora, por favor "- falei baixo, a minha voz estava completamente destruída devido aos meus gritos enquanto tenho pesadelos

" Antes de ir embora vais ter que me ouvir"- falou sério

" Só vens para piorar"- falei o mais alto que pude-" Vai embora, por favor "- uma lágrima caiu-me

" O meu erro foi não seguir os meus princípios, esqueci-me do que era e me deixei-me levar por aquilo que não devia, deixei que uma noite me tirasse o sorriso"- ele estava mesmo ali à minha frente a chorar, eu não conseguir dizer para ele parar de dizer aquilo, no fundo queria ouvir o que ele me tinha para dizer depois deste anos todos-" O meu maior erro foi esquecer que existes, foi permitir que a raiva me dominasse e me consumisse"- limpou as lágrimas que caiam velozmente-" Mas o mair erro foi mesmo, enfim, magoar-te"- brincava com as mãos para não ter que me encarar-" Neste momento só queria que tudo fosse como antes, lamento pelo meu erro, mesmo não sabendo o que realmente aconteceu, mas espero que um dia, quando tudo tiver mais calmo, me contes o que realmente aconteceu naquela noite"- olhou para mim e os seus olhos estavam desfeitos, desta vez foi eu a olhar para as mãos, não queria nada vê-lo assim, partia-me o coração-" Mas de uma coisa eu tenho a certeza absoluta, tu para mim és incondicional"- suspirou

" Não consigo olhar para ti sem me lembrar do que me fizeste"- falei baixo ao fim de um tempo-" Vai embora, por favor "- gritei, aquilo não era gritar por a minha voz estava fraca, chorava como uma desalmanda-" Não tornes a minha dor ainda maior do aquilo que ela já esta"- suspirei e olhei para ele a chorar, ele também chorava. Doía, mas tem que parecer que me é indiferente

" Não me vou embora desta casa enquanto não souber que estas bem, enquanto não tirares esses pensamentos da tua cabeça "- falou autoritário levantando-se da minha cama-" Eu só vou embora daqui quando tiver a certeza que o meu filho nunca irá perder a mãe"- limpou as lágrimas e saiu meio desnorteado

Digo que não vou chorar para parecer forte, mas neste momento já não consigo segurar mais esta magoa... O MEU LIMITE DE SENTIR DOR JÁ ESTÁ A TRANSBORDAR... A MINHA CAPACIDADE DE SUPORTAR JÁ VAI ALÉM DAS MINHAS FORÇAS... A MINHA GARGANTA ESTÁ SUFOCADA POR GRITOS E FECHADA POR MUITOS NÓS...Digo que não vou chorar, mas acabo sempre por o fazer... PORQUE SOU IMPOTENTE PERANTE AS DORES DO MUNDO... Porque não consigo suportar mais dor aqui dentro de mim... CHORO PARA TENTAR ALIVIAR A DOR QUE ME CONSOME CADA VEZ MAIS, DIA APÓS DIA... Já perdi a vontade de lutar contra mim e já perdi a vontade de viver... Digo que não vou chorar, mas choro sempre... Pelas injustiças que vejo... PELAS DORES QUE CARREGO NO PEITO... Digo então que não vou chorar, mas choro... JÁ NÃO CONSIGO MAIS TRAVAR O SOFRIMENTO... Não consigo olhar-me para o espelho sem ter nojo de mim... Não consigo apagar tudo de mau que aconteceu... NÃO CONSIGO VOLTAR A SER FELIZ... Não consigo continuar a viver neste mundo sem tirar este sentimento que ganhei desde o dia em que me ficaram sem eu querer... QUERO MORRER PARA SER FELIZ... Não quero sentir que sou um peso para as pessoas... Pois nos últimos anos eu só tenho sido um peso... A DOR QUE NÃO MATA CORRÓI... Ainda não morri, mas estou completamente corroída...

" Porquê a min??"- gritei para mim mesma agarrada ao peluche que tem o cheiro do meu filho, estou a morrer de saudades dele, já não o vejo desde o dia em que tudo se passou