I CAN'T-II

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Sexta, 23 de abril de 2021

Constança on

" Não vás"- o Afonso andou o dia todo a chatear-me para não ir jantar com o Simão

" Afonso, já te disse que é um jantar amigável "- suspirei continuando a maquilhar-me

" Até pode ser, mas não vás "- o moreno não desistia- " Achas que ele só quer um jantar amigável?? "- o Afonso olhava para mim se uma forma seria

" Mas não tem que ser ele querer as coisas, também ainda tenho voto na matéria "- suspirei pesadamente

" Ele é manipulador"- olhei para o Afonso incrédula

" Não o conheces"- tentei desviar o assunto

" A Cátia disse que ele consegue tudo o que quer "- o meu Fonsi olhava-me triste

" É por cauda disso que estás chateado com a Cátia?? "- vi-o a acentir-" Oh Afonso, faz as pazes com ela, não tem lógica estares chateado por minha causa"- fiz-lhe uma festa no cabelo

" Eu não te consigo ver com mais ninguém, a não ser o André "- falou pesadamente e encarava o chão

" Eu e o André é passado, não posso ficar presa para sempre a algo que me fez sofrer muito"- tentei conter as lágrimas, vê-lo assim deixava-me completa desolada

" Mas ele mudou, eu acredito nisso"- o Afonso falou com convicção

" Como é que sabes?? Não falas com o teu irmão há anos"- o moreno não me olhava nos olhos

" Eu sinto, não me perguntes como, mas eu sinto"- suspirou-" Ele amava-te e sei que ainda te ama, só que ele tem medo da rejeição, teve medo de correr atrás de ti, não queria ser mais rejeitado do que foi"- brincava com as mãos para não me encarar

" Então porque e que ainda estas aqui?? Se achas que ele mudou, vai ter com ele, afinal ele não te faz nada"- peguei na carteira e sai sem lhe dizer nada

" Ele é o único que amas"- ouvi-o a gritar, mas não liguei sequer

" Ele é o único que amas", a voz do Afonso não parava de entoar na minha cabeça, estava perdida naquelas palavras ainda tão dolorosas de serem ouvidas. Tenho perfeita noção que há amores eternos...
Mesmo após a quebra, permanecem guardados no coração para sempre. Eu faço parte das pessoas que escondem o amor passado no coração. Está lá, quietinho, silenciado. Mas tenho a perfeita noção que não está morto. O meu coração irá guardar para sempre o sentimento que tive pelo André, que não deixa de residir em mim. Não existem mais conversas, beijos... Nenhum contacto, mas o passado ainda se presentifica em lembranças e até há o certo friozinho na barriga só de lembrar. Não dá para mandá-lo embora. É preciso aprender a conviver com isso, eu sei... Existem esses amores que não desgrudam, que se mantém vivos mesmo quando há o desejo de abandoná-los, não me posso culpabilizar por não conseguir. Sei que vai ser difícil estar por inteiro numa relação futura. Cada arrepio pelo ex será sempre um tijolo a mais nos muros que se constroem dentro do romance, distanciando, afastando... Uma parte de mim não será entregue à pessoa que irá partilhar uma vida comigo, continuará a ser de alguém que não existe mais.

" Estás muito pensativa, passasse alguma coisa??"- o Simão fez-me acordar do meu transe, olhei para ele e vi-o focado na condução

" Coisas da minha cabeça, mas nada que não se resolva"- tentei dar um sorriso normal

" Mas foi algo que eu fiz??"- ele persistia

" Não, é só uns assuntos que eu tenho pendentes, mas que se resolvem rapidamente "- mentira, ando há três anos para os resolver e nada