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Quarta, 16 de junho de 2021

Constança on

Eu estou naquela fase da minha vida que eu não sei... Não sei se quero lutar... Não sei se tenho capacidade de perdoar... Não sei se vou voltar a ser completamente feliz... Não sei se isto é tudo uma ilusão... A única coisa que sei é que o amo mais do que há três anos atrás, parece impossível mas é a maior verdade que carrego em mim. Amo o sorriso dele, meu Deus... Amo as palavras carinhosas dele... Amo a capacidade que ele tem para lutar pelo que quer... Amo o espírito de conquista que ele tem... Amo o profissionalismo dele... Amo aqueles olhos... Amo aqueles dentes alinhados... Amo aquele André preocupado... Amo aquele André ciumento... Amo cada traço dele... Mas no meio disto tudo não consigo esquecer o porquê das minhas incertezas agora. Se o amo?? Ás vezes até me chego a perguntar se me amo mais a mim ou a ele, parece sufocante juro. Mas tenho medo de cometer um erro em perdoar... Tenho medo que tudo volte depois... Tenho medo de ter medo... Tenho medo de sofrer... Tenho medo apenas, sendo ou não apenas ficcional.

" Posso" - fui acordada dos meus pensamentos quando ouvi o Afonsinho, imediatamente olhei para a porta e ela estava com um leve sorriso no rosto

"Podes Fonso" - sorri igualmente, dando-lhe premissão para entrar no meu gabinete

"Só te vinha avisar que dia 2 de Julho vamos de férias" - aquelas feições matreiras pairavam no rosto dele

"Vamos onde??" - a minha voz sei num tom muito agudo

"De férias"- sorriu- " Eu, Afonso Miguel Valente da Silva, decidei por livre e espontaneidade pagar umas férias à minha cunhada favorita, ao meu sobrinho lindo e a minha bela namorada, posso??"- inquiriu-me no gozo

" Oh Afonso, claro que não"- suspirei, mesmo estando feliz por ele se ter lembrado de mim, ele não o devia ter feito-" Achas que tem algum jeito pagares-me as férias?? Devia ser um momento só teu e da Cátia"

"Clsro que tinha de pagar, tu já reparaste no que eu ganho?? Eu só ganho o que ganho graças a ti, eu estou num estágio apenas e já ganho imenso, se consegui este estágio também foi graças a ti, tu acolheste-me em tua casa como se fosse teu irmão, achas que não te posso agradecer por isso?? Constança, eu muito do que me tornei hoje devo-o a ti, sei que não há agradecimento possível, mas pelo menos posso tentar retribuir de certa forma o que vais fazendo por mim"- falou seriamente, mas não tão convicto assim das palavras que proferia, algo se passa

" Tudo o que eu faço por ti é porque realmente gosto de ti, és como um irmão, és uma pessoa fundamental no meu dia a dia e não quero que penses que quero alguma vez ser retribuída por isso, acredita que já fizeste mais por mim do que eu por ti, tiveste lá em cada queda mim e isso vale por tudo"- levantei-me enquanto falava, caminhei até ele e apenas o abracei, já com as lágrimas a escorrer- "Obrigada, por te lembrares de mim a sério"- sorria, chorava, abraçava, falava, eu estava estasiada

" Obrigado eu, agora prepara a mala que daqui a uns dias vamos até as Ilhas Gregas"- limpou-me as lágrimas do rosto e sorriu-" Agora vou trabalhar que ainda não fui, porque alguém decidiu bater com o carro e atrasou a minha vida toda" - fez-me gargalhar

" Não fui eu que bati, bateram-me"- fiz cara de indignada na brincadeira- " Chegaste à mesma hora que eu, eu já respondia a um mail, só ainda não foste porque gosta mais de ir falar sobre futebol em frente à máquina de café"- pega Afonso, embrulha

" Ai desculpe Senhora Doutora Orientadora, não volto a cometer esse erro, mesmo quando o trabalho for escassa, que podia ser muitas vezes mas graças a Deus nunca foi"- falou com um tom meio afimininado

" Então vai lá se não a nota de final de estágio começa a ficar sem umas décimas" - não parava de rir com a estupidez dele

" Ai credo, já vou então"- continuou a fazer aquela voz e saiu, fiquei-me ali apenas a rir com um parva

Realmente já sofri um bacadinho, mas eu só posso ser grata por ter seres como o Afonso na minha vida. Entraram de uma forma tão repentina, do nada ele e o irmão dele em dias tornaram-se o quase tudo. Estabeleci uma relação imdeianta com ambos, por cada um deles era parte do que faltava em mim, apesar de a mim mãe e do meu irmão nunca seres substituíveis, eles conseguiram colmatar um bocadinho esse meu lado de perda e dor. O André lembra-me a minha mãe, calmo, ponderado, muito amigo do amigo, com um sorriso que ilumina onde passa, com aquelas palavras sábias em horas "H's" e especialmente com aquela doçura comum neles os dois, quer dizer neles os três, o meu filho já joga na equipa deles, é uma doçura tão inexplicável, mas é tão boa de se sentir. O Afonso e o Lourenço são iguais meu Deus, até a idade seria a mesma, ambos são marcados por serem os palhaços da zona, por serem desenibidos, por apesar da excentricidade toda são os mais carinhoso e os mais protetores, nunca abandonam os que amam e se amam é com toda a força, enchem o coração das pessoas e são portadores de uma inteligência fora do normal. Olhar para eles e como olhar para quem já partiu, claro que não é o mesmo sentimento, nem nunca vais ser, não acaba com a saudade e nem nunca vai acabar, mas de certa forma ajuda a reconfortar essas duas perdas tão grandes. Só com a presença deles é que consegui dizer que "superei", não no sentido literal claro, porque o superar é completamente figurado, quando se ama verdadeiramente alguém não se supera a saudade que se continua a ter. Sou mesmo uma sortuda por ter o Afonso na minha vida, o André já não tenho da maneira que queria que ele tivesse continuado, mas de certa forma agora tenho parte dele. Tenho um filho dele que é mais do que um reflexo do que ele é. São chapados. Agora já percebo a revolta daquelas mães que dizem "Carreguei-o 9 meses para ele ser igual ao pai", no fundo é revoltante a dor foi minha e os louros são do pai, não é bonito ahah.

I CAN'T-IIOnde histórias criam vida. Descubra agora