Capítulo 3: Você está pronta?

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  -Eu não esperava outra coisa - disse Julie por fim após o longo e torturante silêncio que a menina permaneceu assim que Harley contou que os pais dela não viriam para o Natal.

  -Mas eu ficarei aqui com você - sorriu para a outra.

  -Não precisa perder seu natal por dó de mim, doutora - respondeu desviando o olhar - Você tem sua família e amigos que se importam com você e deveria aproveitar esse feriado com eles.

  A loira se aproximou da garota e segurou as mãos dela.

  -Eu não tenho ninguém lá fora, Julie - suspirou - Não se preocupe, não estou fazendo isso por dó, eu gosto de você, somos amigas, não somos?

  A menina abriu um sorriso radiante.

  -Sim, somos.

  -Então está combinado, passaremos o natal juntas - sorriu.



  Dylan olhou para o relógio em seu pulso enquanto caminhava pelo corredor do asilo esperando o horário do almoço, ansioso para ir almoçar com Harley assim como combinaram na noite anterior.

  Desde que vira a loira, não conseguiu tirar os olhos dela, ficou encantado. Ela tinha uma beleza delicada, os olhos azuis e grandes, a boca cheia e o nariz fino, os cabelos loiros que sempre mantinha presos em um coque a deixavam parecendo uma bailarina, pronta para dançar em um grande palco para uma grande plateia.

  Distraído, não percebeu que outra pessoa passava por ele no corredor, notando algo estranho e colorido no vulto.

  -Ei! - virou-se apenas para constatar que era quem ele pensou - Coringa, o que está fazendo fora do quarto?

  O homem virou-se lentamente para ele e sorriu.

  -Ora, ora... Vejam se não é o doutorzinho - aproximou-se de Dylan com as mãos cruzadas atrás das costas - A criadagem de hoje em dia está ficando petulante com toda essa moleza.

  As íris de Dylan brilharam de raiva e as mãos fecharam-se em punho, ele odiava o vilão, tinha sido por causa de uma das vinganças idiotas dele contra o Batman que seu pai tinha sido morto, mas apesar de tudo, nunca buscou vingança, acreditava que isso era perca de tempo.

  -Estou vendo que você ainda não aprendeu que o seu lugar é dentro daquele quarto em uma camisa de força - respirou fundo tentando manter a calma - Aliás, quem foi que cometeu a burrice de deixá-lo sem?

  -Fique longe da doutora - avisou virando-se e entrando na sala de Harley, sorrindo para Dylan ao fechar a porta atrás de si.



  -Coringa? - perguntou assim que ouviu o barulho da porta se fechando e constatando quem era - O que faz aqui?

  -Vim fazer uma visita, doutora Quinzel - respondeu sorrindo e aproximando-se da mesa dela - Não está feliz em me ver?

  O coração dela acelerou e não entendia como aquilo estava acontecendo, não podia estar, pensou.

  -E-Estou - gaguejou e ele soltou uma risada, deixando-a intrigada com sua mudança de atitude.

  -Não fique nervosa, minha linda - disse ficando sério novamente - Vamos conversar um pouco.

  -Eu tenho que sair agora, na verdade - disse ela sem se mover da cadeira que estava sentada - Podemos conversar amanhã durante seu horário, o que acha?

  -Aonde você vai?

  -Marquei de almoçar hoje com Dylan - respondeu e fez menção de levantar-se quando a mão fria e grande dele pousou sobre a sua encima da mesa, fazendo-a parar.

  -O doutorzinho?

  -Na verdade ele é um de nossos enfermeiros - contou voltando a sentar-se.

  -Cancele.

  -Como?

  Ele levantou-se e rodeou a mesa dela, parando atrás de sua cadeira.

  -Você me ouviu - abaixou a cabeça a centímetros do ouvido dela - Cancele.

  Ela virou a cabeça para olhá-lo e seus rostos estavam tão próximos que ela nem conseguia piscar, hipnotizada pelos olhos verdes dele.

  Sem saber como ele tinha conseguido exercer tanto poder sobre ela, pegou o celular e mandou uma mensagem para Dylan dizendo que não poderia ir almoçar com ele.

  -Muito bem, doutora - sorriu e acariciou a bochecha dela com uma das mãos - Nos vemos amanhã.

  Saiu deixando-a sozinha.


 

  -Eu tenho direito a uma ligação toda quarta - disse Coringa para a mulher onde o telefone ficava.

  -Você quis usá-la na segunda - disse ela - Então não pode usar hoje.

  Ele a encarou.

  -Por favor, querida - disse sorrindo charmoso - É rápido, tenho um bom amigo lá fora, ele fica preocupado comigo.

  -Tudo bem, tudo bem - cedeu a mulher por fim - Mas só dessa vez.

  -É claro.


  Julie encarava o teto de seu quarto enquanto pensava quando iria sair dali, não tinha coisa melhor do que se ver livre daquele lugar tedioso.

  Quando conheceu Harley, pensou que a loira fosse mais uma das médicas que tentariam convence-la a aceitar que era louca, o que nunca fez sentido para ela.

  Mas depois de várias consultas semanais com a mulher, ela percebeu que finalmente conseguia ser compreendida por alguém.

  Ouviu uma leve batida na porta de seu quarto e ergueu a cabeça, curiosa. Levantou-se da cama e ergueu-se nas pontas dos pés, tentando ver quem era através da janela.

   -Abra a porta para seu amigo, Julie, não é educado fazer as pessoas esperarem - disse a voz masculina do outro lado.

  A menina abriu a porta e sorriu.

  -Achei que tivesse ido embora desse lugar sem mim - disse ela sorrindo enquanto fechava a porta assim que Coringa entrou.

  -Iremos sair daqui na sexta - contou sorrindo - Você está pronta?

  -Mas e o natal?

  -Ora, meu bem, o natal é na semana que vem.

  -Mas passaremos o natal fugindo?

  -Passaremos o natal em uma das melhores coberturas, fique tranquila.

  -Você é o melhor irmão mais velho postiço que alguém poderia ter - disse abraçando-o e sorrindo.

  -Chega, já está bom de contato humano por hoje, eu não gosto de abraços assim - respondeu afastando a menina - Preciso ir.

  -Tudo bem - disse ela ainda sorrindo - Você vai levar a doutora Quinzel também?

  Ele pensou por alguns instantes.

  -Ela nos ajudará a sair daqui.

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