Harley observou a tempestade que caía através da janela de sua sala, suspirando enquanto levava sua xícara de chá até os lábios. Uma batida na porta a fez virar-se assustada.
-Olá doutora - Coringa sorriu fechando a porta atrás de si e caminhando para perto dela, parado ao seu lado - Eu adoro tempestades assim - disse observando a chuva.
-Elas me dão medo - confessou olhando para o fundo da xícara em sua mão - Meus pais morreram em um dia assim.
Ele a observou cuidadosamente, gravando cada traço dela, não era como se pudesse sentir algo por ela, afinal, ele não se permitia tais sentimentos e muito menos deixar-se levar por eles, precisava da ajuda dela para fugir daquele lugar.
-Tempestades assim fazem o barulho aqui dentro - colocou o dedo indicador na testa dela - Parar.
-Não para mim - respondeu afastando-se dele e colocando a xícara sobre sua mesa - Sente-se, por favor.
Ele sentou no divã de couro bege e encarou o teto, pensando sobre a resposta dela, não era algo que ele esperava, afinal, ela era apenas mais uma garota boba.
-Muito bem, doutora - começou - Quais são as perguntas que tem para mim hoje?
-Como era a sua família?
-Complicada.
-Quer falar sobre isso?
-Eu não falo sobre isso.
-E se sente melhor assim?
-Sim.
Ela soltou um suspiro, cansada da mesma resposta de sempre para todas as perguntas que fazia. Ela o observou enquanto ele encarava o teto e como se algo a puxasse para perto dele, estendeu a mão e tocou as mãos frias dele que estavam sobre o abdômen, inclinando-se para que ficasse mais próxima.
No mesmo instante, como se tivesse levado um susto, ele virou a cabeça e olhou-a nos olhos, descrente por ela estar tão próxima. Sabia que aquilo era errado, mas ele precisava despertar algo nela para fugir.
Aproveitando a chance, ele ergueu o corpo e colocou uma das mãos na nuca dela e a outra nas costas, puxando-a para seu colo, enquanto ela atendia aos toques dele sem resistir. Ele manteve o olhar no dela e retirou os óculos de Harley, finalmente tocando com seus lábios nos dela.
Uma sensação estranha passou por ele quando o beijo se tornou mais profundo, deixando-o assustado e nervoso por sentir-se daquela forma, ele não podia.
Afastou-a bruscamente e andou até a porta, saindo da sala dela, deixando-a sozinha com seus pensamentos e dúvidas.
Cinco dias se passaram desde o beijo entre eles e Coringa não voltara para a consulta da semana com ela, deixando a loira preocupada. Não quis questionar nenhum dos enfermeiros e nem ir até onde ele ficava, já que ela mesma ainda não acreditava que tinham se beijado.
Ela sentiu-se estranha, tinha gostado do beijo e percebeu que tinha desenvolvido sentimentos pelo paciente e nem notado. Agora ali estava ela, perguntando a si mesma o que fazer com aquela situação. Ela tinha sido antiprofissional e tinha certeza de que isso poderia lhe custar caro, tanto para sua profissão quanto para seu emocional.
Uma risada ecoou pelo corredor e ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo, era a risada dele, ela sabia que era. Disparou até a porta e abriu, deparando-se com Coringa sendo carregado por dois enfermeiros até o laboratório onde aconteciam as terapias de choque. Assim que a notou, Coringa olhou para ela e sorriu, fazendo-a sentir o coração pesado por saber o que aconteceria com ele e não poder fazer nada para impedir.
Assim que a porta fechou-se atrás dele, ela suspirou triste, pensando em como ele sofria naquele lugar terrível. Uma voz a chamou e ela saiu dos devaneios.
-Está me ouvindo? - perguntou Dylan sorrindo.
-Sim, estou sim - respondeu tentando inutilmente sorrir para ele de volta.
O rapaz a observou cabisbaixa e ergueu o rosto dela pelo delicado queixo.
-O que foi?
-Não é nada que deva se preocupar - respondeu e entrou em sua sala, sendo seguida por ele - Vamos comer algo? Estou faminta.
-É claro - respondeu soltando um suspiro enquanto olhava na direção para onde Coringa tinha sido levado - Dia difícil para o Coringa hoje, não? - disse enquanto ela trancava a porta de sua sala.
Harley o encarou.
-O que quer dizer, Dylan?
-Quero dizer que terapia de choque sempre faz bem aos pacientes - respondeu soltando um sorrisinho.
-Acho que ainda não entendi.
-Ora, Harley, ele não foi na consulta médica de hoje, o que significa que merece punição.
-Foi você que o mandou para lá? - perguntou parando de andar no meio do corredor.
-Sim.
-Por que fez isso?
-Eu já disse - suspirou passando uma das mãos nos cabelos - Por que está tão preocupada? Ele é louco de qualquer jeito.
-Ele não é! - gritou - Você é médico por acaso? - questionou abaixando o tom de voz e encarando-o.
-Não, mas tenho permissão do doutor Carter para isso - respondeu sem entender a reação dela.
-Não faça coisas das quais não sabe - encarou-o por mais alguns segundos - Prefiro ir comer algo sozinha - disse afastando-se dele e seguindo o caminho pelo corredor do hospital até seu carro, irritada - Eu vou tira-lo desse lugar - sussurrou dentro do carro olhando a fachada do lugar.
-Olá, Julie - disse sorrindo para a menina - Como você está?
-Estou bem - respondeu a garota - E você?
-Digamos que estou bem - disse aproximando-se da outra e sentando-se na poltrona - Então, já decidiu quais filmes veremos no Natal?
-Ainda não - Julie olhou para algum ponto atrás da loira - Estou pensando nisso.
-E sobre seus pais? - perguntou - Como está se sentindo?
-Estou bem - ela sorriu - Tenho você agora, doutora.
-Pode me chamar de Harley - sorriu - Somos amigas agora.
A menina continuou sorrindo, deitando-se no divã e narrando como tinha sido o sonho que tivera naquela noite e como tinha se sentido durante a semana anterior. O cabelo ondulado e escuro dela estava preso em duas tranças, uma de cada lado, dando um ar infantil à garota que já não era mais criança.
Julie tinha um sorriso meigo e parecia ser incrivelmente inteligente, era uma pena os pais da menina não se darem conta disso, estavam perdendo grandes coisas. Harley pensou em cada noite da qual passou sozinha em casa durante a maior parte de sua adolescência, assustada e encolhida na cama de seu quarto, tinha medo de andar pela enorme casa que morava e dar de cara com algum fantasma. Hoje ali estava ela, vendo si mesma em Julie.
-E foi só isso - disse Julie.
-Então é só por hoje - sorriu fechando seu bloco de anotações e observando a menina se levantar.
-Obrigada por sempre me ouvir - agradeceu abraçando a médica - Até semana que vem Harley - sorriu acenando para ela enquanto caminhava para fora da sala.
Harley sorriu de volta e agradeceu mentalmente por ter conhecido Julie.
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Arkham
FanfictionQuando Harley vai trabalhar no hospital psiquiátrico, ela nunca imaginaria conhecer o tão famoso palhaço inimigo de Batman, e muito menos que se apaixonaria por ele. E o Coringa? Será que também vai se apaixonar por ela? O que vai acontecer com ess...