Arkham

Capítulo 14: Está com medo agora?

Julie bateu na porta do escritório e entrou, encontrando Ed de costas e com um copo de uísque na mão enquanto observava a vista oferecida pela janela.

-Ed? - chamou aproximando-se dele e parando ao lado do amigo - Está tudo bem?

Ele soltou um suspirou e levou o copo à boca, sorvendo um pouco do líquido âmbar.

-Por que ficou tão nervosa?

-Do que está falando? - indagou confusa e ele a encarou.

-Acha que eu te faria algum mal?

-Está falando de quando entrou sem avisar no meu quarto enquanto eu tomava banho? - perguntou pegando o copo da mão dele e bebendo o resto do que sobrou dentro - É claro que fiquei nervosa - inventou uma desculpa e devolveu o copo - Não esperava que entrasse no meu quarto, fiquei assustada, apenas isso.

-Tem certeza de que é só isso? - perguntou ainda encarando-a.

-É claro que tenho - ela limpou a garganta e se afastou dele - E sobre Matthew?

Ed arqueou uma sobrancelha e a estudou com os olhos.

-O que encontrei está na mesa, pode olhar - em seguida observou enquanto ela lia os papéis e via as imagens atentamente, o cabelo castanho caía sobre as costas delas e uma mecha estava atrás da orelha para não atrapalhar sua visão, os olhos azuis emoldurados por longos e espessos cílios escuros eram ávidos por informações importantes e as mãos ágeis. A pele branca da garota destacava a cor do cabelo, fazendo com Julie parecesse exatamente como uma boneca, sem perceber, Ed se deu conta de que estava encarando demais a moça quando ela o olhou e ficou corada - E então?

Ele caminhou até o pequeno bar do escritório e colocou mais um pouco de uísque dentro do copo.

-Você acha que ele planeja uma vingança? - perguntou ela olhando para ele muito séria.

-Vingança? - Ed perguntou confuso - Por que? Fez algo à ele?

Julie engoliu em seco e percebeu que tinha falado demais, as únicas pessoas que sabiam sua história eram Coringa e Harley, e ela jamais contaria aquilo para Ed ou outra pessoa.

-Ahn... Foi apenas um palpite - disse ela - Eu não faço ideia do que ele quer.

-Mas se não sabe por que seu palpite seria vingança?

-Ah, eu não sei, Ed - respondeu dando de ombros e desviando o olhar - Vou pensar sobre isso, obrigada por me ajudar - ela se levantou e andou até a porta, parando assim que a mão dele tocou em seu braço.

-Espere.

-O que foi?

-Matthew é um ex-namorado ou algo do tipo? - perguntou tirando a mão do braço dela.

-Podemos dizer que sim - disse ela com a memória de tudo que tinha acontecido por causa de uma aposta idiota - Mas isso não importa agora, vou procurar por Harley, até mais.

-Até.

-Você é idiota? - perguntou Dylan quando Matthew terminou de contar o que tinha acontecido na festa de natal - Foi atrás da tonta da Julie novamente? Qual é o seu problema? Deveria ficar longe daquela psicopata.

Matthew suspirou irritado e continuou encarando o chão enquanto permanecia sentado na poltrona de couro marrom da pequena sala do apartamento do primo.

  -Julie não é psicopata - disse ele - Além do mais, é você que está perseguindo Harley quando ela claramente não liga para você.

  -Harley está sendo manipulada pelo maníaco do Coringa - Dylan fechou as mãos em punhos ao lado do corpo enquanto andava de um lado para o outro - Ela será minha de um jeito ou de outro... - encarou Matt - E esqueça Julie, já não bastou o que ela fez à você?

  -Eu gosto dela - encarou o primo - Julie fez aquilo pra se vingar de todos nós, e ela me livrou de continuar sendo corno e de seguir uma carreira que eu nem gostava - desviou o olhar - Se eu não tivesse feito a maldita aposta, nada teria acontecido.

-Está ficando mole, caro primo? - indagou Dylan parando de andar e encarando o outro - Nem pense em querer me deixar na mão.

Matthew suspirou e levantou-se.

-Fique tranquilo - sorriu sínico, pegou a jaqueta que tinha deixado pendurada no gancho na parede e saiu porta à fora do apartamento de Dylan.

Coringa respirou fundo e encarou a pilha de papéis sobre sua mesa, precisava pensar qual seria seu plano para capturar o morcego, Batman.

Tudo o que tinha acontecido com ele tinha sido culpa daquele herói infeliz e nada o faria mudar de ideia sobre acabar com ele.

Uma batida na porta fez o vilão erguer os olhos e ver uma cabeça loura surgir.

  -O que quer? - perguntou frio.

  -Eu... Julie, é sobre Julie que vim falar - disse ela nervosa fechando a porta atrás de si - Acho que ela precisa de mais proteção.

  -Contra você? Com certeza - disse ele encostando-se na cadeira de couro preto e encarando Harley.

  -Contra Matthew - respondeu ignorando a provocação dele - Ele estava na festa e procurou por Julie, a sorte dela foi que Ed esbarrou neles bem na hora - contou sentando-se em uma das poltronas do lugar.

  -Matthew esteve aqui? - perguntou cruzando os braços - Como ele entrou?

  -Não era uma festa privada, Coringa - disse ela suspirando - Ele está atrás de Julie, é preciso que alguém esteja com ela 24 horas por dia para mantê-la segura.

  -Cuidarei disso - respondeu e ela ergueu-se da poltrona indo em direção à porta - Espere.

Harley virou-se na direção dele novamente, surpresa.

  -Ainda não terminei seus testes - disse ele levantando-se da cadeira e andando para perto dela - Me diga, do que tem medo, doutora?

Harley piscou sem entender e olhou-o no fundo dos olhos tentando decifrar qual era o motivo da pergunta feita por ele.

Nunca tinha passado por esse tipo de coisa antes, era inesperado para ela que ele fizesse tal pergunta, afinal, quem deveria perguntar era ela mesma, ela era a médica.

Respirou fundo tentando manter a calma enquanto ele se aproximava cada vez mais dela. Harley pensou por alguns instantes e o encarou.

  -Tenho medo de me sentir sozinha de novo - respondeu simplesmente e ele abriu um enorme sorriso.

  -Tão sentimental, doce Harley - disse ele dando voltas ao redor dela como uma cobra prestes a dar o bote - Quer saber meu maior medo?

Ela mexeu a cabeça de forma positiva e sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

  -Estar com pessoas como você - respondeu e ela sentiu uma pontada no coração, aquelas palavras ecoaram em sua mente e ela teve que buscar no fundo de si toda a força que tinha para não gritar com ele ou chorar na frente dele, não queria ser fraca - Está com medo agora?

Ele parou de frente para ela e a observou, cada traço tentando esconder algo que ele não soube decifrar. Os olhos azuis encaravam um ponto fixo no chão e ela parecia cada vez mais a ponto de explodir.

De forma estranha, ele sentiu vontade de abraçá-la e se arrependeu do que disse, mas sabia que agora já tinha dito e não deixaria que alguém como ela fizesse dele fraco.

  -Eu não estou com medo - ela fechou as mãos em punhos ao redor do corpo e ergueu os olhos marejados por lágrimas encarando-o com firmeza - Eu estou com pena de você.

Dizendo isso, a loira saiu do escritório do palhaço e correu para seu quarto o mais rápido que pôde, trancando a porta em seguida e jurando não sair mais de lá pelo resto do dia, não tinha forças para olhar para ele novamente, Coringa era frio e a desprezava, ela não sabia por quanto tempo aguentaria aquilo.