17- Titão

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Vou para o banheiro e me tranco dentro do box. Deixo a porta aberta caso alguém chegue e queria usar, já que não vou está aqui.

Coloquo-me na posição e penso em Coral. Demora um pouco mais do que o normal, mas aos poucos, começo a sentir o frescor da água. A melhor sensação que já senti. Não à nada igual a isso.

Quando abro os olhos percebo que estou no mesmo lugar de sempre. Mas me lembro que, para entrar no mundo das sereias, preciso cantar a canção:

Sereia que vive no rio
Seu mundo quero encontrar
Para entrar em meu mundo
Bastas só cantar

Assim que canto, tudo ao meu redor começa a se desfazer; como se fosse um papel de parede caindo ao chão.

As cenas que começo a ver são deploráveis. Imagine uma cidade submersa, como Atlântida. Agora imagine que Atlântida virou uma cidade fantasmagórica, sem uma alma viva. Imaginou? Então, essa é a cena que estou vendo agora. 

Sinceramente, achei que aqui seria o paraíso, mas já vi que é bem diferente do que imaginei.

Agora tenho que procurar Coral. Mas por onde irei começar ? Aqui é tão grande, e do jeito que está, da até medo. Acho que gritar por ela não é uma boa ideia. Mas o que pode acontecer se eu gritar ?

— CORAL! — Nenhuma resposta. Vou tentar novamente. — CORAAAL!!!!!

Olhei ao redor e nada. Até que lá no fundo, vejo um pontinho pequeno vindo na minha direção. Deve ser ela. Segundos depois, está chegando mais perto, mas de atrás dela saiu mais duas pessoas, e atrás delas, mas duas. Foi então que eu percebi, não é Coral, nem outra sereia, é um mostro que nem sei o nome e ele estava se multiplicando cada vez mais.

Eu estou imóvel de tanto medo. Eles estão cada vez mais perto e agora posso ver direito como são. É um tipo de sereia, só que em vez  de calda, são vários tentáculos. A cabeça também é cheia de tentáculos, em vez de cabelos. Não tem pelos nenhum sobre o corpo e são gigantes, o menor deles tem uns dois metros de altura.

Finalmente tirei coragem e comecei a nadar. Com certeza eles estão aqui para me fazer mal. Mas para onde eu vou agora? Não sei onde fica nada aqui. Não tem cavernas, só prédios e mais prédios. Seria invasão entrar em um deles ? Provavelmente. Mas não tem ninguém aqui, só me resta essa opção, eles estão chegando cada  vez perto de mim.

Entro em um pequeno prédio e vários peixes saem de dentro dele. Tudo está revirado, não moram ninguém aqui a anos. Vou até o último andar, se bem que não tem muita diferença. Da pra alcançar aqui em dois segundos nadando pelo lado de fora.

Me sinto fraca e me sento em um dos quartos. Encolhida no canto mais escuro que tem. Minha cabeça está pesada e girando.

Escuto um barulho lá em baixo. Eles estão aqui.

— Iara, Socorro. — Uma voz familiar soava lá em baixo. Uma  voz que não ouvia a anos. — Iara, venha rápido! — Suplicou a voz, que agora começo a reconhecer.  Mas não é possível. Ela está morta. Eu a vi morrer, vi enterra-la. Mas é a voz da minha mãe. E ela está precisando de mim.

Imediatamente, saio do meu canto e vou em direção a ela que continua a me chamar. Me sinto cada vez mais fraca, mas não desisto. Minha mãe precisa de mim.

Quando chego no porta do prédio, fico cercada pelos monstros. São muito mais aterrorizantes. O mais alto, provavelmente o líder, chega mais perto de mim. Ele passa um dos seus tentáculos em meu rosto. Um toque gelado e gosmento. Sinto um calafrio na minha espinha.

— Iara, me salve. — Ele falou com a voz da minha mãe, rindo de mim. — Achou mesmo que sua mãezinha estaria aqui? — Dessa vez ele falou usando a sua voz normal. Totalmente grave, de da arrepios. — Agora você vem com a gente.

— Para onde vão me levar. — Pergunto assustada.

— Você verá quando chegar lá. — Ele disse agarrando meu braço e me puxando.

Mas quando nós viramos, uma luz verde incandescente surge. E os monstros começam a gritar de dor. " Por favor, pare!" "Nos a soltamos" " Está doendo demais" eles gritam para a sereia que segura a luz. Pela calda rosa, deduzo que é Coral.

Os monstros caem no chão de dor e um por um começam a desmaiar. O líder finalmente me solta e cai no chão imóvel. 

A Luz para e finalmente consigo ver que realmente é Coral.

— Você está bem, Iara? O que veio fazer aqui ?

— Vim ajudar você. — Respondo atônita. — Quem são esses? — Perguntei apontando para o chão onde eles estavam estirados.

— São titões. Eles foram criados por Quétane para que assim que você vinhesse aqui, eles te pagassem e trancasse no calabouço. Esse cristal verde ajuda a manter eles demaiados por um tempo.

— Coral... e-eu não estou me sentido muito bem. — Falo caindo ao chão em cima de um dos titões.

Coral me pega no braço e fala umas palavras no meu ouvido  que eu não entendi. E tudo vai ficando escuro, até que não vejo mais nada.

                          ***

Acordo em uma cama no hospital. Meu braço dói por está com uma agulha enfiada nele. Estou tomando soro e o frasco está já acabando.

Uma enfermeira entra no quarto e diz que vá chamar meu pai. Ótimo. Com certeza ele vai me dá bronca.

— Finalmente acordou. — Ele falou, empurrando a porta do quarto em que estou.

— O que aconteceu ? — Perguntei sem ter a mínima ideia do que ocorreu.

— Eu que pergunto. Você foi encontrada desmaiada no banheiro. Passamos horas sem notícias, até que o médico te reconheceu e veio nos avisar.  — Ele está bravo comigo. Mas dessa vez, vejo que ele estava realmente preocupado comigo.

Não respondi. Virei a cabeça para o lado e fiquei olhando as gotas do soro caírem.

O médico entra no quarto e me examina.

— Nos deu um susto e tanto em mocinha. — Falou.

— O que ela tem doutor ? — Vovô perguntou.

— Fraqueza. Aparentemente não está se alimentando direito.

— Vou ter que ficar muito tempo aqui ? — Perguntei. Odeio hospitais.

— Amanhã terá alta. Bom, se precisassem de alguma coisa é só me procurar. — O médico falou saindo do quarto.

Todos saíram do quarto e uma enfermeira veio tirar o soro. Que dia mais louco. Tanta coisa acontecendo. Resta saber como vim parar aqui, e essa resposta só quem tem é Coral.

A Última Sereia  (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora