7- Vadia uma vez, sempre vadia.

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A volta para casa foi silenciosa. Ninguém quis falar, e eu achei melhor assim.

A casa Joana ficava bem antes da fazenda. Cauã e ela desceram. Ele voltou e falou:

- Fique aqui. Eu já volto. - Assenti.

Ele bateu na porta da casa e um senhor abriu. Joana entrou e Cauã ficou conversando com o homem. Não consegui escutar a conversa até que Cauã apontou para o carro e o homem olhou e minha direção.

- Você está traindo a minha sobrinha!? - O homem gritou alterado. Ele estava quase batendo me Cauã.

- Eu já disse que terminamos a três meses. Ela não aceita, mas eu me cansei já. Peça para ela não ir mais atrás de mim.

- E aquele é sua namorada? Por isso você deu um pé na bunda dela?

- Não. Ela não é minha namorada. Ela é neta da dona da fazenda onde trabalho. Joana saiu no meio do mato atrás de mim, e ainda chamou ela de vadia. Se dona Carmen ficar sabendo, ela me demite. E tudo por causa da sua sobrinha. Até breve. - Cauã não deixou o homem falar e saiu em direção ao carro.

Passamos mais alguns minutos em silêncio. Mas dessa vez eu falei.

- Quanto tempo você passou com ela? - Perguntei. Queria saber mais sobre essa tal de Joana.

- Dois anos. Mas eu não gostava dela. Só estava com ela por pena mesmo.

- E o que ela tem? Você disse que ela não era muito boa mentalmente.

- Não sei direito. Só sei que ela se descontrolada as vezes. Tipo, quando não toma o remédio.

- Ah, entendi.

- Desculpa, mais uma vez. Eu deveria ter imaginado que ela faria algo parecido. - Ele parecia preocupado e sincero. Deveria estar com medo da minha avó saber.

- Não se preocupe. E eu não vou contar a minha avó, caso isso esteja de preocupado.

- Olha, eu realmente gostei de você, sereiazinha. Será que posso te chamar assim? - Disse sorrindo.

- Tudo bem. Mas não na frente dos outros.

Ele sorriu mais uma vez. Sabe aquele sorriso que tira o fôlego de qualquer um? Pois é, é o dele.

- Vamos sair amanhã? Quer dizer, você quer conhecer algum outro lugar amanhã?

- Claro. Onde vamos? - Alguma coisa envolvendo água? Dessa vez, espero que não.

- Andar a cavalos. Que tal?

- Ótimo. Nunca montei. Você me ensina ne?

- Não tenha dúvidas. - Ele entrou com o carro na garagem da fazenda. - Chegamos. Foi bom passar esse tempo com você. Se não fosse aquele imprevisto...

Ele estava se aproximando cada vez mais de mim. Dessa vez ele realmente ia me beijar. E sem dúvida, eu ia deixar. Nossos rostos estavam quase juntos e eu fechei os olhos.

- Iara! - Ah,não. Meu pai.

Nós nos separamos rápido. Eu achava que ele estava atrás do carro, mas quando olhei, ele não estava lá.

- É melhor você entrar. - Cauã disse, descendo do carro. - Te vejo amanhã. - E saiu sorrindo. Não acredito que perdi essa chance de beija-lo.

Entrei em casa e meu pai já veio reclamando.
- Isso são horas de chegar? - Perguntou.

- Eu não passei nem duas horas fora de casa.

- Não me responda, mocinha.

- Foi você que começou. Não posso me divertir mais?

- Não! Agora já para o quarto.

- Quer saber? Eu já estou cansada disso.

- Não, Eu não quero saber. Você não é nem um terço do que sua mãe era. Você é uma vadia. - Ele levantou a mão, e me deu um tapa na cara.

- Jorge, mais o que é isso? O que deu em você? - Vovó chegou mesmo na hora do tapa. Ela me segurou, eu já estava chorando. Mas não ia deixar barato.

- Isso! Me humilha. Se isso te faz se senti um homem melhor. Agora, é o meu coração, minha vida, que você chama de mentira. - A raiva me consumia por dentro.

- Vai, continua fazendo drama.

- Eu já joguei o seu jogo antes. E eu não aguento mais. - Sai correndo para o meu quarto. Era a segunda vez que me chamavam de vadia num dia só.

Ele já tinha me chamado de várias coisas antes, mas de vadia? E me dá um tapa na cara? Dessa vez ele passou de todos os limites. E ainda colocou minha mãe no meio.

Eu não merecia tanta humilhação. Se minha mãe estivesse aqui, tudo seria diferente.

Apesar de ainda ser 16:12, eu precisava dormi. Nem que seja alguns minutos.

Durante o sono e sonhei com a sereia que vi no fundo do rio.

- Iara, meu nome é Coral. Todas as noites eu tento falar com você através dos seus sonhos, mas alguma coisa me bloqueia. Antes que este sonho termine, preciso te dizer que veja logo o que tem no pergaminho. Você vai entender muitas coisas...

E o sonho acabou e eu acordei. Olhei no celular e já passava de 01:28 da manhã. Já era hora de saber o que tinha nesse pergaminho.






A Última Sereia  (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora