O Caso de Emma Brown

Luz e Escuridão

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Ela sempre foi a luz e eu sempre fui a sombra.

Não que ser sombra seja algo ruim, claro. Eu sempre tinha meu tempo só quando ela estava cercada de pessoas, e era bom estar sozinho para pensar. Estar com ela era a melhor parte de meu dia, mas sempre que ela se afastava deixava para trás somente a mim: a escuridão, a sombra do brilhante e belo sol que era.

Não que o fato de ela ser a luz me incomoda, pelo contrário, me agrada. Ela era brilhante demais para tomar meu lugar e eu era vazio demais para tomar o dela. Viver cercado de pessoas nunca fez e nunca fará o meu estilo, por isso sou tão reservado e sozinho. A solidão nunca foi uma pedra no meu caminho, nunca foi ruim, na verdade sempre foi uma porta aberta para me deixar ser quem sou. Algo que me deixa em paz. Algo que me faz ser único. Ser sombra não era tão ruim quando se era necessário por tantas pessoas. Mas, no fundo, todos gostavam mais da luz do que da escuridão, mas por que? Porque as pessoas me temem mesmo dizendo não possuir medos. Quem preferiria estar sozinho e aprisionado na própria mente quando se podia passar um tempo com quem se ama? Seria tolice ficar recluso, e é algo que eu faço sem pensar duas vezes. Não que eu seja tolo, eu somente não me importo mais.

Não que eu esteja triste, não estou. Sou feliz sempre que ela chega perto. Ela acaba com meus demônios e estende sua mão para mim, me presenteando com seu caloroso sorriso, sua cálida presença. Sua voz é suave como notas de piano saltando em meus ouvidos e enchendo minha alma com alegria e calma, fazendo minha mente dançar levemente conforme o ritmo de sua existência interage com a minha. Ser sombra não é tão ruim quando se tem a luz, afinal, é ela que faz eu ser quem sou. A vida dela também não faria sentido se somente existisse ela. Todos precisam dela como precisam de mim, como a lua e o sol. Ninguém suportaria ficar eternamente na luz e também não suportaria estar sempre enclausurado pelo escuro. Somos como o equilíbrio um para o outro, como uma balança. Eu gosto de ser a lua, é reconfortante estar na presença de animais noturnos e o sossego incessante.

Não que servir de apoio para uma balança seja algo ruim. É bom ser necessário.

Não que o fato de eu estar vazio sem ela seja algo ruim. É somente... estranho.

Não que seja algo incômodo não ser desejado, é somente... estranho.

Não que eu esteja me sentindo triste. Tristeza é algo normal, mas estranho.

Não que eu às vezes eu esteja me sentindo um pouco sozinho quando ela está longe. É normal se sentir solitário, não é?

Não que seja algo ruim eu estar como estou, pois não é. É somente peculiar.

Não que eu esteja me sentindo confuso, é algo normal estar confuso.

Não que as lágrimas que escorrem pelo meu rosto sejam más. Elas são boas para refrescar o interior.

Não que eu queira que ela esteja comigo o tempo todo.

Não é como se eu quisesse estar cercado por pessoas como ela está.

Não é como se eu precisasse de mais alguém além dela.

Não é como se eu tivesse medo de perder minha fonte de luz.

Não é como se ser uma sombra fosse algo ruim.

Não é como se eu estivesse com inveja.

Não é como se eu estivesse mal com o que sou.

Não é como se... eu estivesse... com medo de sumir.

Não é como se eu estivesse temendo todos os dias perder minha razão de viver.

Não é como se eu não gostasse de ser uma sombra, seria uma tolice não gostar.

Não é como se eu estivesse com medo de que nossas promessas sejam quebradas com o tempo como dentes de leão se desfazendo no ar.

Eu já não acredito mais em promessas.

...

Ha... ha... ha.