Capítulo 18 - Âmbar Malicioso

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As mentiras sempre me disseram que elas são a melhor saída.

Mesmo que eu não goste delas,

São elas que sempre usei para sobreviver nesse mundo incerto.

Continuarei trilhando um caminho denso e perverso,

Até poder alcançar a luz do sol novamente.

***

Essa vida não passa de uma grande piada sem graça.

Era a última noite de Emma naquele Sanatório.

Pelo menos era isso que ela esperava, estando deitada em sua cama sem conseguir dormir. Estava completamente sozinha naquele lugar, a conversa que tivera durante à manhã com Caleb a perseguiu o dia inteiro, e ficou horas chorando pelas mortes dos pais, estando incomparavelmente mais triste por conta de Anne. Christopher fora tão maldoso com ela que sua mente lhe dizia para não lamentar por ele, mas era impossível; ainda sentia arrependimento por não poder ter sido capaz de estabelecer paz entre ela e aquele homem antes que o mesmo morresse.

A todo o momento a garota tentava dormir, mas pesadelos tenebrosos perseguiam ela, acordando-a em um salto, somente para se deparar com seu quarto escuro e suas roupas encharcadas de suor frio. Sobre o que eram tais sonhos, coisa que deveria saber urgentemente, não conseguia lembrar, deixando-a sempre no vazio e com perguntas lhe invadindo a mente. Teve vontade de chorar em frustração, mas somente respirou fundo, e agora estremecia com o frio do outono que o seu cobertor ralo não era capaz de abafar. Tentou ignorar a tristeza que pesava em seu peito e a mandava desistir de tudo, era forte o suficiente para superar mais uma fase ruim de sua vida. Estava tudo bem, ela com certeza ficaria bem.

De repente sentiu que suas costas se aqueceram e um braço circundou sua cintura, a puxando para perto, e ela se virou devagar, curiosa. Um emaranhado de cabelos loiros pálidos saltou para fora do cobertor, e logo um par de olhos fechados e cílios longos e escuros saíram debaixo do mesmo tecido, tremulando com leveza. Ela sorriu, sentindo seu coração se acalmar e sua dor se dissipar aos poucos, e passou uma mão pela cabeça dele. Como era esperado, Martin caíra no sono com facilidade por conta dos remédios que tomava para dormir, e isso a preocupava sempre. Ele não contava para ela tudo em detalhes, mas ela não era boba e sabia que ele nunca tomara tantos comprimidos como agora. Ele também estava sendo medicado, mas não tanto quanto ela.

- Boa noite, Henry. - Murmurou, colocando a cabeça contra seu peito, o abraçando forte. - Obrigada por estar aqui.

Ele gemeu baixinho e respondeu alguma coisa incompreensível, retornando o abraço que recebera inconscientemente. Ela ergueu sua cabeça, olhando-o, vendo que estava prestes a repetir o que dissera.

- O que foi? - Sussurrou mesmo sabendo que não estava sendo escutada. - O que está havendo, Henry?

Ele estremeceu e a puxou para mais perto, o que Emma não achava ser possível. Sentiu seu rosto ser tomado pelo rubor e fechou seus olhos, se aninhando a ele.

- Não morra, Em. - Disse ele. - Eu... Salvarei você... de novo e de novo. Estarei com você. Sempre.

Ela sorriu.

Não se vá também, querido.

- Certo. Sempre.

***

O dia raiou sem demora, acompanhado de mais uma atípica carranca de Emily Brown. A garota soltou um suspiro irritado e caminhou pelo quarto sem muitas opções do que fazer. Seus tios haviam saído para o enterro de Anastácia Blake e as únicas - e indesejáveis - companhias que haviam naquela casa eram Tomás, Martin e a maldita gata Iris. "Algo" dentro dela a fazia odiar aquele animal, porque era como se ele estivesse olhando-a através de seus olhos com aquela face sabichona entediada e sabia sobre tudo o que estava acontecendo com a garota.

O Caso de Emma BrownOnde histórias criam vida. Descubra agora