Final - A Morte do Cravo

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A verdade não passa de um conto de fadas

Que os homens disseram ser o certo,

E impuseram como uma lei real.

Mas, se ela realmente existe,

Por que sempre estamos fadados a enganar os outros

E tão à vontade em contar mentiras?


***


Caleb Gracês acabava de apagar um cigarro no chão com um pisar quando Marta saiu de dentro de uma cafeteria ali perto, a mulher carregava dois recipientes que continham suas bebidas quentes. Ela andava apressadamente pela neve, tendo cuidado para não escorregar e acabar derrubando tudo o que carregava em cima de si e ainda sentir a dor de tal tombo, mas não suportava mais ficar naquela rua extremamente branca e gélida, desejando entrar em seu carro o mais rápido possível. Ela observou como o seu hálito quente saía como fumaça entre seus lábios e os cabelos castanhos caindo como cascatas por seu peito pareciam estar salpicados com neve. A rua inteira estava silenciosa e aparentemente vazia, uma mescla entre o branco da neve e o marrom das árvores. Caleb sorriu para ela e pegou um dos copos quando a mesma terminou com a distância entre eles, ouvindo-a bater os dentes enquanto arrumava o seu cachecol vermelho entorno do pescoço.

- V-vamos entrar, rápido. - Disse, tremendo.

- Você fica uma graça assim, Marta.

- Diga isso mais uma vez e passo meu carro por cima do seu corpo velho.

- Eu só tenho trinta e sete.

- Trinta e todos, você quis dizer.

Marta desferiu mais alguns insultos antes de finalmente conseguir entrar em seu carro, assumindo o banco do motorista e ligando o aquecedor. Caleb achou a ação dela um pouco exagerada, já que considerava o frio agradável e não tão insuportável como ela fazia parecer que estava, e entrou no veículo sem muita cerimônia. Do lado de fora, apreciou a vista das árvores sendo engolfadas pela neve e brancura cortante, algumas estavam escassas de folhas enquanto outras acumulavam muitos cristais de gelo, tornando aquele lugar extremamente belo. Ele tomou um gole de seu café e relaxou contra o banco enquanto Marta começou a dirigir, fazendo com que ele a encarasse por alguns segundos.

Fazia alguns meses desde que reataram, o incidente em que fora envolvido e extremamente ferido há um ano atrás fez com que ela se preocupasse com ele e o visitasse no hospital todos os dias com Elisa, ela sempre dizia que estava fazendo aquilo somente porque ele era o "idiota e imprudente" pai de sua querida filha. Lhe deu boas broncas conforme se recuperava, dizendo que ele deveria ter seguido seu conselho e se aposentado para poder preservar a própria vida, irritou-se com ele, xingou e chorou, mas o mais importante é que ela sempre esteve ali ao seu lado. Após algumas semanas de recuperação, Caleb saía do hospital com a companhia dela, a considerando somente de uma grande amiga, mas o seu relacionamento avançou a ponto de que eles estivessem juntos romanticamente novamente. Elisa estava mais feliz que nunca e a vida do detetive parecia voltar ao normal, a única desavença que possuía com sua mulher era o fato de que ele ainda se recusava de se aposentar.

Lucas Bandeira passara de assistente a um oficial detetive, mas não abandonara Caleb mesmo assim. Tudo parecia estar indo muito bem, mas ele ainda se sentia incomodado, como se alguma coisa estivesse fora de seu conhecimento e o perturbando profundamente. Sabia que havia algo que deveria se lembrar e quase riu de si mesmo ao pensar nessa possibilidade, se comparando com Emma Brown por um minuto. Afinal, ela sempre dissera que havia algo que deveria se lembrar e nunca conseguia, e ele estava da mesma forma agora. O dia em que fora ferido gravemente ainda parecia vago em sua memória, desbotado e com vários acontecimentos fora de seu conhecimento, sendo que ele sabia que deveria saber. Era confuso de entender até mesmo para ele.

O Caso de Emma BrownOnde histórias criam vida. Descubra agora