Se você não enxerga o óbvio, então é completamente cego e ignorante.
***
Emma
Estava realmente claro aquele lugar.
Com uma luz brilhante praticamente me cegando, cobri meus olhos com as mãos, incomodada. Sabia que estava em mais um de meus sonhos, o que já achava particularmente interessante. Logo à minha frente avistei uma porta branca se materializar, e andei até ela para abri-la.
Deparei-me com um lugar menos iluminado, mas animado e cheio de risadas e gritos de crianças. Meu corpo havia diminuído gradativamente, e me dei conta de que estava em uma visão do passado. Toquei meu vestido rosa de babados e os cabelos arrumados em um coque, então coloquei as mãos na frente do corpo e esperei por algo. Se é uma visão do passado, terei de me comportar como antes. Aqui nada pode ser mudado, de qualquer maneira, pensei.
- Ei, Florzinha, não corra assim!
Senti mãos grandes me segurarem por trás e me levantar, me pegando no colo. Olhei para quem fosse, ficando surpresa com a face - ou somente metade da face - de meu pai biológico. Seus olhos eram cobertos por sua longa franja ruiva, quase sempre impossíveis de ver. Ele sempre estava com um sorriso no rosto, o que o deixava com um ar mais bobo e jovem. Normalmente eu costumava chamá-lo de "bobão"', e ele sempre respondia com bom humor.
Eu já sentia as lágrimas escorrendo do meu rosto antes de conseguir detê-las, parecendo mesmo uma criança chorona. Ele riu e tirou um lenço amassado de seu bolso, as secando para mim.
- Não é uma bronca, você não precisa chorar.
- Eu... Eu... - funguei - não quero que vocês me deixem.
Essa é uma lembrança, impossível de ser alterada, não importa o que eu falasse. Ele só ficaria confuso e diria que eu estava falando coisas sem sentido, deixando a cena continuar a desenrolar-se.
Ele me deu um sorriso consolador e arrumou alguns fios soltos de meu cabelo.
- Não irá durar muito tempo, querida.
Agora sim eu estava surpresa.
A última coisa que eu esperava era isso. Era impossível interferir em uma lembrança ou dizer algo diferente, e ele definitivamente disse algo diferente. Eu não tive tempo para perguntar algo porque minha mãe chegou e parou ao nosso lado, arrumando os cabelos atrás da orelha.
- O que vocês dois estão fazendo? Temos que ir antes que os vizinhos continuem a nos chamar de estranhos.
Ela está com aquele olhar superior e também de tédio, sempre o dirigindo para mim, como se eu fosse um incômodo.
- Papa, por favor, me deixe descer. - Pedi. - Preciso fazer algo!
- Claro, - ele me colocou no chão e eu corri - cuidado para não cair, Em!
O jardim de um dos nossos vizinhos começou a se formar em minha visão, todas as crianças do local estavam em escorregadores, pula-pulas, balanços e outros tipos de brinquedos. Era a festa de uma criança da qual não me recordo o nome, e eu sabia a localização de meu único amigo no meio de todas elas.
Quando entrei na casa de decorações coloridas, a primeira coisa que vi foi ele. Ele estava conversando com algumas crianças, possuindo um sorriso doce, provavelmente se divertindo. Seu cabelo estava desarrumado e suas roupas não eram das melhores, mas isso não o deixava menos encantador. Tentei me aproximar, mas seus pais chegaram e ficaram ao seu lado. Estavam falando com uma das crianças, provavelmente a aniversariante, sorrindo para elas. Eu sabia que a mãe dele estava tratando aquilo como um jogo, a fim de se tornar mais sociável com as pessoas da vizinhança. Para ela, eles não passavam de fantoches para seu pequeno teatro.
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O Caso de Emma Brown
Mistério / SuspenseTodos são suspeitos até o cair das cortinas. E ninguém está sozinho aqui. O detetive Caleb Gracês e seu jovem parceiro, Lucas Bandeira, foram designados a investigar o caso de uma paciente do Sanatório Sta. Lucy, Emma Brown. Encontrada em na florest...