Capítulo 16 - Débito e Fidelidade

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Você, com tua pequena estatura repleta de um gélido orgulho,

E revestido de camadas de ouro e medo,

Possui uma doença chamada "ódio".

E eu, o mais simples dos homens, carrego sempre um sorriso morno

E um manto de proteção,

E possuo uma cura chamada "amor".

***

Tomás


- Boa noite, senhorita Emily.

A garota não me respondeu, o que era atípico dela, e simplesmente se virou de costas para mim na cama, me ignorando completamente. Se ela estivesse como sempre, daria um grande sorriso brilhante e diria "Boa noite, Tomás. Sonhe com os anjos!", mas parecia que ela ficaria do jeito que está agora por um bom tempo até se recuperar totalmente. Simplesmente a deixei em paz e fechei a porta, respirando fundo, preocupado com seu estado. Ela voltaria ao normal, não voltaria...?

Sacudi a cabeça e tirei tais pensamentos negativos da mente, sabendo que algo seria feito para melhorar a situação da senhorita Emily. Foi-me dito que ela se recuperaria, e nisso que eu deveria acreditar. Somente algumas luzes levemente fracas estavam acessas pelo corredor, porque já era, enfim, a hora de dormir depois de mais um dia incomum na casa dos Brown, principalmente do meu mestre, Martin.

Para falar a verdade, já havia me acostumado com tudo isso, é algo natural desde que eu me encontrei com ele pela primeira vez. Pelo o que ele tinha dito, seus pais procuravam por alguém que fizesse companhia a ele enquanto estava sozinho em casa, algo como um mordomo ou até mesmo um amigo qualquer que tivesse sua idade. Mas ele não gostava de entrar em contato com pessoas que não fossem seus familiares ou professores, o que foi bem complicado para meus patrões. Martin somente saía de casa para ir na de senhorita Emma e ir à rua para executar seus afazeres.

Como eu apareci e entrei em cena foi uma história peculiar.

Em meus dezoito anos de idade, eu já era um garoto endividado com pessoas perigosas. Para sobreviver, eu havia pego dinheiro emprestado para ao menos pagar duas refeições ao dia e um aluguel barato em uma pousada de quinta, não era confortável, mas como disse, era para sobreviver. Infelizmente, eu fui expulso da pousada por não poder pagar a última parcela, e as pessoas para quem eu devia dinheiro estavam atrás da minha cabeça. E, em uma noite calma de janeiro, eles haviam me achado.

Eu estava encurralado em um galpão podre e vazio, e não havia como despistar com os dois homens que possuíam armas apontadas para o meu rosto. Eu realmente pensara que morreria ali, em um lugar sujo e nojento, sem alguém para poder se lembrar de quem fui, como um animal qualquer. A única saída seria pagar a eles o que eu devia, mas eu não tinha sequer um tostão no bolso.

Eu fechara os olhos e estava esperando o primeiro tiro, mas isso não aconteceu. Quando eu os abri, vi um dos homens caído no chão e sangue transbordava de seu corpo. O outro ainda estava de pé na minha frente, apontando o mesmo revólver ameaçador para mim. Antes que eu fizesse algum movimento, ele desabou para trás como uma árvore depois de ser cortada, e então aquela pequena figura surgiu à minha frente. Em primeiro lugar eu estava achando que eles estavam brincando comigo antes de me matar, uma espécie de diversão sádica, mas notei que a situação toda era real, assim como o cheiro de sangue.

O Caso de Emma BrownOnde histórias criam vida. Descubra agora