Capítulo 11 - Primórdio

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Cubra tudo com a neve,

Cubra tudo através das ondas de incerteza,

Ninguém realmente nunca se importou conosco.

Me cubra com os seus braços

Antes que o gelo possa se espalhar pelos meus ossos

E possuir o meu fraco coração.

***

Emma, sentada em sua cama, encarou o teto branco do quarto com os olhos mortos, tentando mexer as pontas dos dedos. Nenhum resultado. Tentou mover as pernas, e aconteceu a mesma coisa: nada. Os remédios que estavam lhe dando a fazia ficar grogue e com sono constantemente, o que a irritava profundamente. Já estava presa em um lugar que queria desesperadamente sair, e ainda por cima tinha que ficar daquela forma, como se fosse um animal perigoso sendo sedado, como se ela fosse capaz de machucar uma pessoa.

Uma enfermeira entrou em seu quarto, indo até ela rapidamente com uma bandeja em mãos. Emma olhou para o que era com pouco interesse, vendo que havia mais um comprimido e um copo de água ali. Sentiu suas mãos formigarem, denunciando que elas estavam voltando ao normal, e fracamente as ergueu para pegar o seu remédio. Colocou o comprimido na boca e bebeu a água, logo abrindo sua boca para que a enfermeira pudesse confirmar se ela realmente tinha engolido. Vendo nada de errado e com pressa, a mulher se afastou, lhe desejando uma boa noite, e Emma somente a encarou com um sorriso. A enfermeira estremeceu antes de sair do quarto, encarando a face estranhamente amigável dela.

- Garota louca... - Murmurou e saiu.

Ela desfez seu sorriso.

Eu não gosto de nenhum deles.

Havia passado pela mesma situação há pouco tempo, alguns dias depois da visita de Martin e Mary. Seus parentes restantes estavam, por algum motivo, indo visita-la com frequência, o que ela achava ótimo e, ao mesmo tempo, triste. Ela não gostava do olhar de pena deles sobre sua figura farta, não queria que eles tivessem tais sentimentos negativos quando se tratava dela. Queria ser forte e aguentar tudo sozinha, mas estava fraca demais e com uma péssima companhia.

Em tal dia, ela se sentia tão exausta quanto atualmente, seu corpo pesado estava levemente gelado, mas não necessitava de um cobertor. Deslizara da parede que estava escorada para a cama, deitando-se sem escolha. Seu corpo dormente tinha dificuldades de mover-se, e ficou encarando seus lençóis brancos. Se esse quarto ao menos tivesse uma janela para que eu pudesse admirar o céu..., pensara. Por que isso tem que acontecer justo comigo?

Ela fechara os olhos, sentindo as lágrimas umedecê-los.

Eu quero ir para casa.

"- Se Deus existe, ele deve nos odiar, essa é a única justificação para passarmos por tudo o que passamos. Eu também não estou aguentando mais".

- Será que Deus esqueceu-se de nós, querido? - Murmurara.

A porta de seu quarto foi aberta e ela fracamente abrira os olhos, era a enfermeira que sempre a visitava para lhe dar os medicamentos. Emma sentira um desconforto no peito e fechara seus olhos, respirando fundo. Sabia o que viria a seguir; sentiria como se estivesse flutuando e, segundos depois, não estaria mais controlando o próprio corpo, disparando palavras horríveis para qualquer um que estivesse ali e agindo como um animal. Por favor, hoje não...

O Caso de Emma BrownOnde histórias criam vida. Descubra agora