Capítulo Seis

17 2 4
                                    

Acordei na manhã seguinte com a luz que entrava pela minha janela. Percebi que eu havia dormido no chão.

Me apoiei na cama para poder me levantar,  tive que fazer muito esforço para não gritar com a dor na minha perna.

- Isso que dá dormir de joelhos.- Resmunguei enquanto movimentava minhas pernas.

- Falando sozinha?- Ana entrou no quarto acompanhada de Cristina.

- Bom dia!- Falei sem olhar para elas.- Como vocês estão?

- Nós que íamos te fazer esse pergunta.- Cris se sentou na cadeira de frente pra mim.

- Não é porque eu passei três anos em coma,  que significa que eu viva mal.- Retruquei.

Minhas irmãs me olharam com a cara fechada, deu até medo.

- Se você falar nesse coma mais uma vez,  eu juro que te coloco em uma nave e te mando pra Marte.- Cris falou tão sério,  que eu acabei acreditando.

- Desculpa.- Falei levantado as mãos em sinal de inocência, e em seguida, as coloquei na minha perna, que ainda doíam.

- Se arrume. Vamos fazer compras.- Ana falou balançando as mãos frenéticamente.

- Eu tenho roupas.- Falei sem me mexer. 

- Moleton?- Cris arqueou a sobrancelha.- Isso não mudou.

Eu ri.

- Tudo bem!- Falei me dando por vencida.- Ah,  mamãe me entregou isso aqui ontem.- Mostrei a caixa com os diários que estava ao lado da cama.

- Você já leu algum?- Ana perguntou nervosa, o que foi um tanto estranho.

- Ainda não. - Olhei para a caixa, como se aquilo fosse amenizar meu receio, claro que foi inútil. Era meu passado, e eu não devia ignora-lo, só que reviver ele seria um mistério grande demais.  E se eu me decepcionar comigo mesma?

Cris percebeu minha briga interna e  me lançou um olhar compreensivo. 

- Você não pode temer tanto o passado.- Falou para mim, mas olhou de relance para Ana.- Não vou mentir, coisas ruins aconteceram no passado. Você chorou, e chorou muito. Mas também tivemos grandes momentos juntas, com a mamãe e o papai, com o Caio.

Comprimi os lábios enquanto olhava para a bendita caixa.

- Tem aqui como o papai morreu? - Perguntei para a Cristina, a única naquele momento que parecia calma.

- Talvez, você não era muito de me deixar lê-lo.

- Como o papai morreu?- Perguntei na esperança de que elas contassem.

Cris  suspirou fundo enquanto trocava olhares com a Ana. E aquele suspense todo estava começando a me irritar. 

- Ele sofreu um acidente de carro a alguns anos, e acabou morrendo ainda no local.- Minha irmã falou com lágrimas nos olhos.

- Onde eu estava?- Perguntei.

- Isso não importa agora.- Ana falou.- O importante é que o papai nos amava, e demonstrou isso até o seu último segundo de vida.

- Vamos te esperar lá na sala, se apresse.- Cris se levantou e saiu antes de eu ter a chance de perguntar mais.

Fui para o banheiro e me encarei no espelho.  Havia uma cicatriz de mais ou menos oito centímetros no me tórax,  e algumas cicatrizes no meu braço.  Mas a que mais chamou minha atenção, foi a que estava na minha cabeça, escondida pelos meus cabelos relativamente grande.

O  DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora