Acordei na manhã seguinte com a luz que entrava pela minha janela. Percebi que eu havia dormido no chão.
Me apoiei na cama para poder me levantar, tive que fazer muito esforço para não gritar com a dor na minha perna.
- Isso que dá dormir de joelhos.- Resmunguei enquanto movimentava minhas pernas.
- Falando sozinha?- Ana entrou no quarto acompanhada de Cristina.
- Bom dia!- Falei sem olhar para elas.- Como vocês estão?
- Nós que íamos te fazer esse pergunta.- Cris se sentou na cadeira de frente pra mim.
- Não é porque eu passei três anos em coma, que significa que eu viva mal.- Retruquei.
Minhas irmãs me olharam com a cara fechada, deu até medo.
- Se você falar nesse coma mais uma vez, eu juro que te coloco em uma nave e te mando pra Marte.- Cris falou tão sério, que eu acabei acreditando.
- Desculpa.- Falei levantado as mãos em sinal de inocência, e em seguida, as coloquei na minha perna, que ainda doíam.
- Se arrume. Vamos fazer compras.- Ana falou balançando as mãos frenéticamente.
- Eu tenho roupas.- Falei sem me mexer.
- Moleton?- Cris arqueou a sobrancelha.- Isso não mudou.
Eu ri.
- Tudo bem!- Falei me dando por vencida.- Ah, mamãe me entregou isso aqui ontem.- Mostrei a caixa com os diários que estava ao lado da cama.
- Você já leu algum?- Ana perguntou nervosa, o que foi um tanto estranho.
- Ainda não. - Olhei para a caixa, como se aquilo fosse amenizar meu receio, claro que foi inútil. Era meu passado, e eu não devia ignora-lo, só que reviver ele seria um mistério grande demais. E se eu me decepcionar comigo mesma?
Cris percebeu minha briga interna e me lançou um olhar compreensivo.
- Você não pode temer tanto o passado.- Falou para mim, mas olhou de relance para Ana.- Não vou mentir, coisas ruins aconteceram no passado. Você chorou, e chorou muito. Mas também tivemos grandes momentos juntas, com a mamãe e o papai, com o Caio.
Comprimi os lábios enquanto olhava para a bendita caixa.
- Tem aqui como o papai morreu? - Perguntei para a Cristina, a única naquele momento que parecia calma.
- Talvez, você não era muito de me deixar lê-lo.
- Como o papai morreu?- Perguntei na esperança de que elas contassem.
Cris suspirou fundo enquanto trocava olhares com a Ana. E aquele suspense todo estava começando a me irritar.
- Ele sofreu um acidente de carro a alguns anos, e acabou morrendo ainda no local.- Minha irmã falou com lágrimas nos olhos.
- Onde eu estava?- Perguntei.
- Isso não importa agora.- Ana falou.- O importante é que o papai nos amava, e demonstrou isso até o seu último segundo de vida.
- Vamos te esperar lá na sala, se apresse.- Cris se levantou e saiu antes de eu ter a chance de perguntar mais.
Fui para o banheiro e me encarei no espelho. Havia uma cicatriz de mais ou menos oito centímetros no me tórax, e algumas cicatrizes no meu braço. Mas a que mais chamou minha atenção, foi a que estava na minha cabeça, escondida pelos meus cabelos relativamente grande.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Despertar
SpiritualUm minuto pode mudar nossas vidas. Nos últimos minutos de um parto nasce o filho que uma mãe espera por nove meses mudando a vida da família lhe trazendo mais alegria. Um minuto perdido pode nos levar ao atraso para o aeroporto nos fazendo perder...