Capítulo Sete

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Chegamos a um restaurante no centro, não era o mais chique que tinha na cidade, ms se alguém fosse fazer uma lista dos mesmos, esse com certeza estaria entre eles.

Logo quando chegamos, um manobrista nos recebeu e levou o carro.

- Nossa! Até me senti importante. - Falei enquanto observava a entrada do local.

- E você é. - Caio colocou o braço envolta da minha cintura, me fazendo olhar para o local. - Se incomodar você posso tirar.

- Não tudo bem! Só me pegou de surpresa, mas foi uma surpresa boa.- Falei sincera e recebi como resposta um sorriso dele, e que sorriso!

Nos sentamos na mesa que nos foi reservada, e até então permanecemos em silencio, até o Caio quebra-lo, mas não para falar comigo, mas para chamar um garçom e fazer nossos pedidos. 

Eu fiquei admirando cada detalhe dele, como ele era lindo! O sorriso contido, enquanto o mesmo olhava para mim, só queria poder saber no que ele estava pensando.

- Pensei que te perderia para sempre!- Ele falou depois de algum tempo em silencio. - Te ver naquela cama e não poder fazer nada para mudar sua situação, nunca me senti tão impotente. - Seus olhos começaram a lacrimejar, então por impulso eu segurei a sua mão que estava sobre a mesa.

- Eu estou aqui agora,  por algum milagre eu voltei.- Ele estava encarando minha mão. - O que aconteceu está agora no passado. - Ele sorriu e beijou a minha mão.

[...]

- Eu me diverti muito.- Falei quando já estávamos parado em frente a casa da minha mãe. 

- Tem certeza que não quer ir pra nossa casa? Não me importo de ter que dormir no quarto de hóspedes.

- Podemos conversar a respeito amanhã?- Perguntei e ele assentiu depois de um suspiro.

Tudo que eu não queria era magoa-lo, embora eu já o tivesse feito.

- Boa noite então.- Ele falou soltando minha mão e me abraçando. 

- Boa noite.

Ele caminhou em direção ao carro mas parou na frente do mesmo.

- Desculpa.- Falou e andou em minha direção.

- O que...- Não formulei a frase a tempo. Ele simplesmente me puxou para si e selou nossos lábios em um beijo urgente.
Eu até que tentei afasta-lo. Mas tecnicamente não havia nada de errado ali... afinal, para todos os efeitos estávamos casados, então não consegui pensar em um motivo para afasta-lo, apenas  me deixei levar pelo momento ali. 

Paramos o beijo e ficamos nos encarando pelo que pareceu uma eternidade. 

Veio à tona o que eu sentia por  ele, mas que eu havia reprimido de alguma maneira. O sentimento estava ali.

- Boa noite!- Ele sussurrou sorrindo.

Ah! Aquele sorriso!

Ele se virou e dessa vez entrou no carro e saiu. E eu fiquei ali em pé, vendo o carro de distanciar.

- Que beijo foi esse?- Cris falou atrás de mim, me fazendo dar um pulo por conta do susto. 

- Enlouqueceu criatura!- Falei meio alterada, entretanto, minha irmã não se deu o trabalho de conter a risada.

- Estava tão distraída vendo seu marido ir embora,- Ela colocou a mão no queixo fazendo a sua famosa cara de pensativa, tal como a Laurinha faz.- Talvez você estivesse pensando: Por que eu não fui com ele?

- Eu não estava pensando isso.- Cruzei os braços na frente do peito e a encarei com a sobrancelha arqueada.- Você estava nos observando?

- Claro que não. Talvez eu só estivesse saindo de casa,  já que meu marido vem me buscar daqui a pouco, e a propósito, eu vou com ele.

Eu revirei os olhos.

- Minha situação é diferente da sua Cristina.- Falei séria.

- Eu sei que é... mas você está sendo dominada pelo medo desde que acordou. Você simplesmente está ignorando seu passado.

- Eu não lembro do meu passado!- Falei alterada.

- Tá tudo bem aqui?- Ana saiu e nos encarou.

- Eu vou entrar. Divirtam-se com suas vidas perfeitas.- Ignorei os chamados dela e entrei na casa da minha mãe.  A mesma estava parada no batente da porta. Imagino que ela tenha visto tudo!

- Filha!- Eu parei com o pé apoiado no primeiro degrau da escada. - Nos de uma chance de te ajudar.

- Onde eu estava quando o papai morreu?- Indaguei sem olhar para ela. Mas ela permaneceu em silêncio.- Certo... vou estar no quarto.

Subi as escadas.

Coloquei minha bolsa em cima do criado mudo, mas a mesma acabou caindo sobre a caixa que eu havia deixado no chão.

Abri a caixa e peguei o diário que estava em cima, datado de três anos atrás, dentro dele havia um papel, o peguei e abri.

Sentei-me na cama e analisei o papel em minhas mãos, senti uma tristeza sem igual quando percebi ser ele um pedido de divorcio. 

Coloquei uma das mãos na boca para abafar meu choro.
Parece que meu casamento não era tão perfeito quanto eu achei que talvez fosse.
Não havia assinaturas... mas por que ainda estava lá?

Fiquei na cama com aquele papel em mãos, quando alguém bateu na porta.

- Regina?- Era a voz da minha irmã. Ela suspirou e adentrou o quarto, sentando- se ao meu lado.- Eu não devia ter dito aquilo. Sei que deve está sendo difícil pra você, e eu estou aqui pra te ajudar a passar por tudo.- Cristina passou um de seus braços pelo meu ombro e me puxou para mais perto dela.

Eu me sentia um fardo, um fardo que nem eu mesma conseguia carregar. Quem eu era no passado? Alguém que fazia um pedido de divórcio, ou recebia.
Sei que minha irmã só estava tentando ajudar, sei também que eu deveria seguir em frente.
Mas tudo que eu estava fazendo naquele momento era questionar a Deus.
Não seria mais fácil se eu tivesse morrido naquele acidente?

- Cris? Quem era eu... Antes do acidente?- Falei em meio às lágrimas.- Me conta por favor.

- Você era médica, no mesmo hospital que você ficou depois do acidente. Era também a filha mais chegada ao papai. Vocês meio que se entendiam, gostavam da mesma coisa, mesmos filmes, músicas...- Ela suspirou- Vocês dois tinham uma sintonia. Já eu e Ana, éramos mais próxima da mamãe. Você foi uma ótima irmã. E foi uma boa esposa para o Caio.

- Então o que significa isso?- Perguntei lhe entregando o papel.

Ela analisou e suspirou sem dizer nada.
Se ela ia me contar, pois então que fosse tudo!

- Seu casamento era um bom casamento, no início, mas houve um tempo em que você e o Caio começaram a discutir muito, por causa do seu trabalho...- Ela parou de falar e encarou o teto.- Regina, você sorriu bastante no passado, mas também cometeu algumas burradas.- Ela esticou a mão e pegou o diário em cima da cama.- Você escreveu nesse caderno aqui desde o seus dezenove  anos, e tem mais sete guardados. Você registrou o seu passado desde os cinco anos de idade. E eles estão aqui, bem preservados. - Ela abriu o caderno na última página.- Você escreveu essa última folha um dia antes do acidente. E eu te comprei esse hoje.- Ela mexeu na sua bolsa e tirou de lá outro caderno, porém, novo.- Você ganhou a dádiva de criar novas lembranças. Você é como uma página em branco, agora a escolha é sua, você se prende aqui nessa última página.- Apontou para o caderno que ela colocara em minhas mãos.- Ou começa a escrever uma nova história.- Colocou o caderno novo em cima do velho.- Independente da sua escolha, eu vou sempre está aqui.

Eu dei um breve sorrido em meios as lágrimas.  E sem dizer mais nada, a abracei.

- Eu te amo!

CONTINUA

O  DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora