- Você estava linda em nosso casamento.- Caio disse logo atrás de mim.
Eu estava segurando uma foto. Mas especificamente uma foto nossa, nela, Caio me abraçava envolvendo seus braços pela minha cintura. Seus olhos brilhavam, e meu sorriso, era tão natural que parecia que aquela foto tinha sido tirada em um momento de distração nossa.
Meus olhos transpareciam uma tranquilidade sem igual, era como se eu me sentisse em casa, ali, nos braços dele.
- Por que eu não consigo lembrar?- Perguntei sem o encarar.
- Deus sempre tem um plano para nossa vida. Ele sabe o que faz.- Ele disse, mas não respondeu a minha pergunta.
Balancei a cabeça numa tentativa de espantar as lágrimas que se formara em meus olhos. Eu já havia chorado demais, não queria chorar novamente.
- Onde é o quarto?- Perguntei
Ele me mostrou um corredor e no final dele havia uma porta.
Eu assenti e caminhei até o quarto, que por sinal era tão lindo quanto o resto da casa.
Perdi a noção do tempo enquanto observava cada detalhe. Observei as fotos onde eu aparecia acompanhada do Caio e minhas irmãs.Em uma das fotos, tinha eu sentada no chão segurando um urso, parecia uma criança, e atrás de mim, em segundo plano, Caio estava sorrindo. Deixei a foto no lugar e caminhei para banheiro.
Tomei banho e vesti uma das roupas que encontrei ali.
- Posso entrar?- Perguntou Caio depois de dar um toque na porta.
- Pode. - Falei sentando-me na cama.
- Você está bem?- Perguntou.
- Eu estou sim.- Falei.
Ele sorriu e sentou ao meu lado.- Eu estava pensando. Como iremos dormir. Quer dizer, eu não me importo de ter que dormir no quarto de hóspedes se você achar melhor.
- Caio.- Falei o interrompendo.- Eu queria ir para casa da minha mãe. Pelo menos por um tempo. Isso de estar casada, ter tido uma vida, que foi totalmente apagada, está me deixando muito confusa. Não é justo você ter que ficar com meu fardo.
- Eu me casei com você, e fiz uma promessa de que ia te amar, na saúde e na doença. Você pode ter esquecido, mas eu me lembro como se nosso casamento tivesse sido ontem. Regina eu te amo. Seu fardo também é meu fardo.
Meus olhos insistiam em ficar marejados.
- Mas nesse momento, agora.- Gesticulei com as mãos.- Eu sou o fardo. E até a idéia de ir para casa da minha mãe faz me sentir como um fardo, porquê querendo ou não, eu me tornei esse fardo, as pessoas me olham como se eu fosse de vidro, como se eu fosse me quebrar por inteira. Não lembrar quem eu sou, ou quem são as pessoas que estão ao meu redor e me amam.- Suspirei.- Eu não quero me sentir assim, mas...- Cobri o rosto com as mãos para esconder as lágrimas que pareciam que tinham ganhado vida própria.
Caio me puxou para um abraço. E eu me senti bem, como se eu pudesse sentir um pouco da sensação da foto na sala
- Se arrume, eu vou te deixar na casa da sua mãe. - Se soltou do abraço e secou minhas lágrimas com seus polegares, e logo em seguida beijou minha testa. - Estou te esperando na sala. - Dito isso, ele saiu.
[...]
- Filha, tem certeza que é isso que você quer?- Indagou minha mãe, quando me viu parada na porta dele pedindo pra passar uns dias lá.
-Não!- Naquele momento eu não tinha certeza de nada.
Olhei para Caio e o mesmo estava triste, embora tentasse disfarçar com aquele sorriso de lado. Os olhos dele transpareciam a tristeza que ele tentava esconder.
- Obrigada!- Falei quando já estávamos do lado de fora da casa.
- Eu só quero que saiba, que eu te amo!- Falou olhando em meus olhos.
Eu queria responder que eu também o amava, mas eu não tinha certeza dos meus sentimentos, na verdade não haviam mim, lembranças de que ele era meu marido!
Ele sabia que eu não iria dar a resposta que ele queria. Então sem dizer mais nada, ele se virou para ir embora. Foi quando eu o puxei para um abraço, e sem hesitar, ele correspondeu.- Eu vou ficar bem.- Disse ele se soltando de mim. E eu senti falta do calor do corpo dele assim que ficamos separados por completo.
Ele deu um último sorriso triste e seguiu em direção ao seu carro.
Entrei e me sentei no sofá.- Por que eu não consigo lembrar?- Falei, e logo em seguida abafei um grito com a almofada que eu tinha nas mãos.
Cristina tirou a almofada cautelosamente de mim e me fez olha-la nos olhos.
- Como sua irmã mais velha, eu te aconselho a se acalmar.- Eu revirei os olhos, mas mesmo assim ela continuou.- Você sofreu um acidente de carro, teve um traumatismo craniano, e coisou alguma coisa na parte do seu cérebro que faz os coisos da memória.- Disse ela, convicta de que tudo o que ela estava dizendo fazia sentido.
- Muito bem explicado doutora Cristina.- Ana falou irônica.
- Desculpa, eu sou advogada, não sei nada desses termos médicos.- Se defendeu.
Eu ri.
- Tudo bem!- Falei me encostando no sofá - Acho que, sei lá, devo dar um tempo pra mim mesma.
- Agora você disse tudo.- Ana falou.
- Tudo bem!- Suspirei.- Tem muito coisa bagunçada na minha cabeça.
- E vamos te ajudar a arrumar.- Ana falou empolgada.
Embora eu estivesse determinada a retomar a minha vida, o medo daquele vácuo que ficou na minha história me dava um receio maior que a determinação.
CONTINUA
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O Despertar
SpiritüelUm minuto pode mudar nossas vidas. Nos últimos minutos de um parto nasce o filho que uma mãe espera por nove meses mudando a vida da família lhe trazendo mais alegria. Um minuto perdido pode nos levar ao atraso para o aeroporto nos fazendo perder...