Capítulo Cinco

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- Então,- Caio segurou minha mão enquanto estávamos os dois parados enfrente a casa da minha mãe. - Tecnicamente não nos conhecemos mais, devido a sua falta de memória... então eu estava pensando, que tal sairmos para comer alguma coisa, e termos a chance de nos conhecer novamente?

Ele deu um sorriso contido.

- Por mim tudo bem!- Falei,  eu meio que ouvia a voz da Cristina na minha cabeça,  me dizendo para nos dar uma chance.

Ele suspirou aliviado com a minha resposta.

- Certo então,  amanhã tudo bem?- Perguntou e eu assenti.- Passo aqui então- Ele sorriu e se virou para ir embora, e eu o deixei ir. 

Voltei para a sala e minha irmã estava se despedindo da minha mãe.

- Jhony e eu ficaremos em um hotel aqui perto. Se precisar de alguma coisa é só me ligar.- Cristina falou abraçada a a mim. - E pense direito sobre você e o Caio, vocês tem uma casa. Ele te esperou por três anos, não exija mais tempo dele.

- Tudo bem!- Falei sincera.

Cris sorriu satisfeita e me deu um último abraço antes de entrar no carro com seus filhos e marido. 

Cris não morava aqui em Londres,  ela havia se mudado para Portugal quando se casou, mas está passando esses dias aqui por minha causa.

Assim que minha irmã foi embora eu fui ao encontro de minha mãe. A mesma estava na sala olhando uma foto dela com alguém que eu imaginava ser o meu pai.

- Era o papai?- Perguntei.

- Era!- Falou sem tirar os olhos da foto.- Ele foi um bom homem, ótimo marido e pai. Ele dizia que éramos as garotas dele.

- Mãe, como ele morreu?- Perguntei meio incerta se queria mesmo saber.

- Você não se lembrar de como ele partiu é uma dádiva minha filha.- Ela acariciou meu rosto deixando algumas lágrimas caírem.

O que havia acontecido afinal?
Fiquei o resto da tarde com aquela dúvida, mas não queria insistir com a minha mãe, talvez não fosse realmente necessário eu saber, ou pelo menos eu não faria a minha mãe reviver o ocorrido.

Eu estava deitada na cama submersa em meus pensamentos.
Minha mãe entrou no quarto e sentou-se ao meu lado.

- Não estou te expulsando daqui.- Começou a falar.- Mas, quando você pretende voltar para a sua casa?- Indagou.

Me sentei na cama e encarei minha mãe. 

- Não sei mãe. Queria poder voltar o quanto antes, mas, mesmo que eu perceba que o Caio é uma ótima pessoa, eu ainda não me sinto confortável junto dele.  Principalmente em uma casa enorme onde só viva eu e ele.

- Filha!- Ela segurou minha mão. - Ele foi quem mais sofreu durante seu coma. A vida dele parou no momento em que ele descubriu que você poderia não mais acordar. Ele viveu como se fosse um robô, só ia para o trabalho porque o convencemos a ir.

- Eu vou jantar com ele amanhã. - Falei arrancando um sorriso dela.

- Isso é bom!- Falou.- O amor que você sentia por ele não estava na sua cabeça, estava aqui.- Ela tocou meu peito, mas especificamente, onde fica meu coração.- O amor de vocês não se foi junto com sua memória, está guardado por aí, você só precisa se encontrar novamente.

Sorri... fazia sentido o que ela dizia... eu acho!

- Tudo bem mãe!- Ela sorriu e me abraçou.

- Ah, isso aqui é seu.- Disse me entregando uma caixa com vários agendas.

- Agendas?- Ela negou.

- São diários.

- Mãe, eu tenho vinte e cinco anos. Não tenho idade para ficar escrevendo em diários.

- Na verdade, você escrevia nele antes do acidente. São suas lembranças, narradas por você mesmo. Talvez isso ajude você a retomar as suas memórias.

- Não sei se estou pronta pra ler.- Falei passando a mão pela capa.- Quer dizer, o que mais quero é lembrar, mas, e se eu não gostar de quem eu era?

- Filha, você é uma boa pessoa, sempre foi. Claro, cometeu erros como qualquer outra pessoa, mas relembra-los fará com que voce não os cometa novamente - Ela segurou minha mão.- Leia quando estiver pronta!- Falou dando aquele sorriso peculiar dela e depois saiu do quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Hesitei em abrir, tipo, umas três vezes... e por fim, desisti de ler. Não estava pronta.

Fechei a caixa e me levantei da cama.

- Vamos lá.- Falei para mim mesma, antes de dobrar meus joelhos ao pé da cama. - Deus? O Senhor pode me ouvir?- Fiquei em silêncio por um tempo, talvez eu estivesse esperando Ele me responder de alguma maneira. Queria algo que provasse que ele estava ali, foi quando eu senti uma brisa entrar pela janela recém aberta no meu quarto. Então  eu decidi continuar a falar.- Deus, eu não me lembro como eu era contigo antes de tudo isso acontecer. Eu poderia ter sido alguém fiel a ti, que te buscava sem desanimar, ou eu poderia ser a ovelha negra da família... não sei ao certo.
Sinto como se talvez, só talvez, minha família esteja... sei lá, ocultando algumas coisas de mim. Será que é coisa da minha cabeça?
Deus, desde que acordei eu me sinto vazia. Não lembro do meu passado, exceto o dia que eu dei o Joey a Laura. Mas que sentido tem eu ter lembrado de um hamster eu não conseguir lembrar de mais nada além disso?
Confesso que por um momento eu me perguntei se tu existia mesmo, confesso que ainda tenho essa dúvida, embora eu esteja  aqui falando. Tenho medo de está falando com as paredes... mas se o Senhor estiver me ouvindo, peço que perdoe minha falta de fé.
Deus, eu não sei quem eu fui, nem quem eu sou agora... se a minha memória não voltar, me ajuda a criar novas memórias, mas contigo em todas elas.
Oro pelo meu casamento, o Caio é um homem bom, foi o que percebi desde que acordei. Mas ainda não me sinto bem ao lado dele, não consigo me ver como esposa... me ajuda a ama-lo novamente, não quero fazer do divórcio uma opção. 

CONTINUA

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