CAPÍTULO 20

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Franco parou o carro tão bruscamente em frente ao portão da villa que chegou a assustar o segurança que estava na guarita.

— O que deseja aqui? — perguntou o guarda, mal-humorado.

— Quero falar com Alessandro Forli.

— Às seis horas da manhã? O senhor deve estar maluco!

— Faça o que lhe digo. Acorde seu patrão e diga que Franco Luciano está aqui.  

Ao ouvir aquele nome familiar, o guarda mudou de expressão.

— Está bem. Vou tentar.

Minutos depois ele voltava, abrindo os largos portões.

— O sr. Forli vai recebê-lo.

Em vez de responder, Franco pisou fundo no acelerador, avançando pelo caminho estreito que conduzia à mansão.

Um mordomo recebeu-o e o conduziu a uma sala, pedindo-lhe que esperasse um pouco. Nervoso demais para conseguir se sentar, Franco pôs-se a andar de um lado para o outro, como um tigre enjaulado. Foi assim que Alessandro o encontrou, minutos depois, ainda de pijama e com um robe de seda por cima.

Pouco surpreso diante daquela visita inesperada, o velho perguntou:

— A que devo a honra de sua presença, promotor?

— Você sabe muito bem por que estou aqui. Custei a crer que você teria coragem de mandar seus assassinos até minha casa, no momento em que eu dormia com a minha mulher. Se quer me matar, me mate, mas deixe minha família em paz.

Alessandro empalideceu.

— Cassandra... Ela está ferida? O que aconteceu?

— Graças a Deus está bem, mas quase houve uma tragédia — explicou Franco, sem perceber que o velho usava familiarmente o nome de sua esposa.

— Ainda bem, ainda bem... — sussurrou Forli, deixando-se cair em uma poltrona. — Sr. Luciano, eu lhe dou minha palavra de que não sei nada sobre o que aconteceu.

— Só pode ter sido você o mandante do atentado, como represália porque estou a ponto de meter um de seus mais importantes auxiliares na cadeia.

— Não aceito essa acusação, Franco. Você me conhece, sabe que não costumo fazer esse tipo de coisa. Genco está sendo julgado porque foi burro. Burro e ganancioso. Ele não fez nada do que eu recomendei. Portanto resolvi não interferir por ele nesse processo.

Franco teve a impressão de que o velho falava a verdade, mas mesmo assim as peças do quebra-cabeça não se encaixavam. Quem poderia ser o responsável pelos disparos? O próprio Genco? Impossível! Ele não faria tal coisa sem a aprovação do chefe...

Diante de seu silêncio, Forli levantou-se e pôs a mão sobre o ombro dele.

— Se eu descobrir alguma coisa, prometo avisar você, Franco.

— Por que você me oferece ajuda se nós dois somos inimigos? Sua vida seria muito mais tranqüila se eu não existisse.

— Isso não faz diferença. Se não fosse você atrás de mim o tempo todo, seria outro. Com você, pelo menos, tenho uma vantagem.

— Como assim? O que você quer dizer com isso?

— Em primeiro lugar, não temos tantas diferenças quanto você pensa. Os dois somos honrados, cada um à sua maneira. Admiro e respeito você e acredito que esse sentimento seja recíproco. Além do mais, há uma ótima razão para querê-lo vivo... Minha neta está apaixonada por você.
Franco ergueu as sobrancelhas, perplexo.

— Que história é essa? Quem é essa neta?

— Sua mulher, Cassandra!

Diante daquela revelação, Franco estreitou os olhos, fitando o rosto sério de seu interlocutor.

— Cassie é sua neta? Como você ousa dizer um absurdo desse?

— Não tenho nenhuma razão para inventar essa história.

— Supondo que isso seja verdade, como você descobriu? Ninguém nunca soube que você tivesse uma neta.

— Vou lhe mostrar como foi que desvendei o mistério. Venha comigo.
Seguindo pelos corredores, chegaram pouco depois à biblioteca. Lá, em uma das paredes, havia um grande retrato a óleo de alguém extremamente parecido com Cassandra, exceto pelo estilo do penteado e pelas roupas que vestia.

Apontando para o quadro, Alessandro explicou:

— Essa era minha filha Elena. Percebe como é fácil concluir que é a mãe de Cassandra? O que você acha?

Antes que Franco pudesse responder, o velho prosseguiu:

— Há outra coisa que quero lhe dizer. Cassandra tem vindo aqui todos os dias, para pintar meu retrato. Existe uma grande amizade entre nós. E eu me orgulho de tê-la como neta.

Sem desprender os olhos do retrato sobre a lareira, Franco perguntou:

— Ela sabe que você é seu avô?

— Não, de forma alguma! E eu prefiro que continue ignorando. Não quero magoá-la, como aconteceu com Elena. Por isso pretendo ajudar você a descobrir o autor do atentado. Não que eu me importe com o seu bem-estar... Apenas não quero que minha neta corra perigo.

— Em troca do que você me oferece ajuda?

— Por incrível que pareça, não pretendo nada de você. Meu único interesse é a felicidade de Cassandra — declarou Forli enquanto saíam da biblioteca.

— Você tem razão... Somos inimigos naturais e continuaremos assim. Apesar disso Cassie nos manterá ligados.

Só quando já estava no carro, dirigindo pela auto-estrada, foi que Franco pôs-se a pensar na delicadeza de sua situação. Era como um pesadelo saber que se casara com a neta do homem que há anos ele tentava pôr na prisão!

Além disso, um conflito o dividia em dois: por um lado, gostaria de contar a verdade à esposa, mas ao mesmo tempo queria poupá-la daquela revelação.

E ainda havia outro problema... Se ela descobrisse de quem era parente, talvez preferisse acabar com o casamento. Isso era algo que agora ele estava certo que não suportaria. Quisesse ou não admitir, apaixonara-se perdidamente por aquela mulher.

Enquanto Franco analisava esse fato, na villa que ele deixara para trás, Alessandro Forli dizia a seu secretário:

— Leve-me até Genco. Quero falar com ele.

— Acho difícil. Ninguém pode vê-lo no momento.

— E você pensa que eu sou qualquer um? Vamos para lá imediatamente. Quero dizer a Genco que, se um fio de cabelo da sra. Luciano for tocado, ele será um homem morto!

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