CAPÍTULO 27

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Nos dois dias que se seguiram, Cassandra prestou vários depoimentos à polícia. As pessoas que a haviam seqüestrado estavam presas e portanto nada mais havia a temer. Resolvido esse problema, ela decidiu procurar Alessandro Forli.

— Que prazer vê-la de novo, Cassandra. Estou feliz que tudo tenha acabado bem.

— Obrigada... vovô.

Forli estremeceu levemente.

— Então você descobriu!

— Sim. Na manhã em que vim aqui e entrei na biblioteca. Tive certeza de que aquele retrato era da minha mãe. Por que nunca me contou? Você sabia quem eu era desde que me viu no Panteon.

— Achei que você não precisava saber...

— Por que algo que tocava minha vida tão de perto não me interessaria?

— Desculpe-me, Cassie. Agi assim pensando que seria melhor para todos. Você não ignorava qual era meu tipo de trabalho. Sua mãe rompeu comigo ao descobrir. Fugiu de casa aos dezessete anos e nunca mais voltei a vê-la. Eu não queria que ocorresse o mesmo com você... Quais são seus planos agora?

— Amanhã eu e Sam estaremos partindo para Illinois.

— Franco me contou que vocês ficarão lá até o final do julgamento de Genco, não é verdade?

— As coisas mudaram. Não voltaremos à Itália.

Forli observou-a, intrigado.

— E seu marido?

— Ainda não lhe contei minha decisão, mas vou pedir que ele prepare a anulação do casamento. Diante das circunstâncias, creio que não vai haver problema.

— Por que não? Franco está apaixonado por você. Por que faz isso, Cassie?

— Não sou a mulher certa para ele.

— Só porque é minha neta! É isso que você quer dizer, não?

Cassandra caminhou um pouco pela biblioteca até parar em frente à janela.

— Franco não pode ser um promotor especial se a esposa é neta do chefe de uma organização fora da lei. Você tem de concordar com isso, não?

— Eu guardarei segredo. Ninguém saberá.

— Não adiantaria. A verdade sempre aparece algum dia.

— Franco concorda em deixar a promotoria e dedicar-se à clientela particular, que é enorme.

— Sim, eu sei que ele faria isso por mim, mas não é o que ele quer. Eu não seria feliz, sabendo que ele não se realizou profissionalmente.  

Após uma pequena pausa, Cassandra concluiu:

— Ele não sabe que descobri a verdade a seu respeito. Por favor, não lhe conte nada. Quero que ele pense que estou indo embora por outras razões.

Mesmo sem concordar, o velho prometeu guardar segredo. Depois, olhou-a com ternura e falou em voz baixa:

— Você também vai me jogar para fora de sua vida como sua mãe fez?

— Não vou fazer isso. Tirando tia Emily, de quem não gosto, você é toda a família que me resta. Se você aparecer em Illinois, será bem recebido. Assim, Sam não ficará sabendo nada de sua vida.

Cassandra deu meia-volta e, sem querer prolongar a despedida, disse:  

— Até qualquer dia, vovô.

— Adeus, Cassie — respondeu o velho, controlando-se para não abraçá-la. Sabia que ela ainda não estava preparada para isso.

Ao chegar em casa, Cassandra encontrou o marido esperando-a. Durante dois dias conseguira evitá-lo, com a desculpa dos depoimentos na polícia.

Franco segurou-lhe o braço e levou-a à biblioteca.

— Onde você esteve?

— Precisei sair.

— Você tinha algo para me dizer no dia de sua volta, e eu não quis ouvir. Ainda não quero, mas sei que não dá para adiar mais.

Lutando contra o desejo de se atirar nos braços dele, Cassandra olhou-o bem dentro dos olhos e disse:

— Quero dar andamento à anulação do casamento.

— O quê? Você enlouqueceu?

— A razão é óbvia, Franco. Não quero continuar casada com você.

— Até há pouco tempo não parecia assim. Quando você chegou a essa decisão?

— Pensei muito enquanto estive presa.

Ao ver a expressão de dor no rosto do marido, Cassandra teve ímpetos de voltar atrás. Se sua atitude não fosse apenas para o bem dele...

Franco aproximou-se e tocou-a de leve.

— Você me ama, Cassie. Tenho certeza.

— Meus sentimentos por você não têm nada a ver com isso. E prefiro não discutir mais esse assunto. Amanhã será o julgamento de Genco, não? Desejo boa sorte para você, de todo coração.

Ficaram em silêncio por um longo tempo, até que ela se afastou em direção ao seu quarto. Na porta, voltou-se e disse com suavidade:

— Adeus, Franco.

Ele não respondeu. No íntimo, estava convencido de que algo estranho ocorrera para justificar a súbita mudança de planos da esposa. E não fora o seqüestro que a levara a desistir do casamento!

Por enquanto, ia deixá-la pois precisava dedicar-se ao julgamento. Mas, se ela pensava que continuariam separados, enganava-se redondamente. Depois de ter descoberto o amor, ele não estava disposto a voltar à solidão.

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